O Renascimento de Final Fantasy VIII

O que parecia ser impossível, ou improvável, acabou de acontecer. Final Fantasy VIII chegou de cara lavada. Depois do regresso de Cloud, Zidane e Tidus, chegou a vez de Squall e dos alunos de Balamb Garden tentarem a sua sorte no PC e nas consolas atuais com uma versão remasterizada. Apesar da sua fama pouco, ou nada, saudável, a verdade é que Final Fantasy VIII continua a fazer parte de uma das séries mais importantes da indústria, com o tempo a curar alguma das mazelas causadas por anos de interregno. Mas conseguirá a nostalgia desculpar os erros do passado?

Uma coisa é certa. Final Fantasy VIII é o mesmo jogo que jogámos em 1999. Apesar de apresentar modelos retrabalhados, uma resolução mais apurada e novas funcionalidades – como a possibilidade de aumentarmos a velocidade do jogo e pararmos as batalhas aleatórias –, o jogo não mudou nestes últimos 20 anos. Se continuam a não gostar dos sistemas de Junction e Draw, a versão remasterizada não irá mudar a vossa opinião. Talvez aconteça exatamente o contrário, com alguns jogadores a relembrarem-se do quão quebrado e desequilibrado estes sistemas estão.

Final Fantasy VIII foi o primeiro jogo da série que joguei a sério e a primeira vez que tentei compreender as mecânicas por detrás de um RPG mais tradicional. Escusado será dizer que não consegui decifrar metade dos seus segredos, não fosse Final Fantasy VIII um jogo de ideias e não de mecânicas sólidas. Vinte anos depois, continua a ser a mesma confusão de sempre, dentro e fora da jogabilidade, com uma história que parece ter sido escrita à medida que programavam o jogo. Nada mudou. Fica o aviso.

Os modelos foram muito trabalhados e é interessante, e estranho, olhar para as personagens e ver as suas expressões faciais.

Não consigo, no entanto, não ver o seu charme, ainda mais agora. Final Fantasy VIII pode ser aborrecido em alguns momentos, especialmente quando somos obrigados a “roubar” magias aos inimigos, mas nunca deixa de ser cativante. O seu mundo é colorido e muito variado, misturando a tecnologia com a fantasia que sempre marcou a série, mas dando-lhe um toque militar que nunca deixa de ser interessante. As personagens são também divertidas e é fácil afeiçoarmos a este bando de soldados em busca da verdade.

É impossível ficar indiferente à sua vontade em mudar a fórmula e em criar algo novo e diferente de Final Fantasy VII. Nem tudo funcionou, como vocês sabem, mas olhando para trás, não consigo deixar de compreender esta decisão. A forma como construímos as novas armas, por exemplo, é uma ideia que faz todo o sentido no mundo do jogo. Ao contrário dos outros jogos da série, as armas são uma extensão das personagens, são suas e apenas suas, e acompanham o seu crescimento ao longo da campanha. Para continuarem a combater contra as feiticeiras, têm de melhorar as suas espadas, espingardas ou matracas, não substituí-las. Apesar dos seus problemas de lógica, Final Fantasy VIII consegue dar alguma atenção aos pormenores e às próprias regras do seu mundo.

É estranho, mas o jogo utiliza estas barras verticais e horizontais para equilibrar a resolução do jogo. Talvez seja uma compensação para a falta de detalhe nos cenários pré-renderizados quando comparados com os novos modelos poligonais.

Mas será esta versão obrigatória? Para ser sincero, é e não é. Uma coisa é certa, se são fãs, já a compraram. Depois de tantos anos de espera, é impossível não comprar este clássico da PlayStation. Seja no PC, PS4, Xbox One ou na Switch, Final Fantasy VIII funciona perfeitamente. No entanto, fiquem a saber que a remasterização só está presente nos modelos das personagens e em alguns dos cenários poligonais. As texturas pré-renderizadas não foram retrabalhadas e mantém a sua resolução original. Isto cria um contraste estranho onde é impossível não ver a idade do jogo, ainda mais quando temos tantos momentos em que os modelos poligonais interagem com FMVs.

Sinto-me satisfeito com Final Fantasy VIII Remastered. Apesar desta falta de consistência visual, é um jogo que merece ser jogado por todos os fãs do género, nem que seja para compreenderem como a série evoluiu nestes últimos 20 anos. Com as novas mecânicas, o jogo fica mais acessível para todos os jogadores e tenho de admitir que adorei aumentar a velocidade dos combates. Esta implementação muda por completo a dinâmica do jogo e a sua aposta no sistema Draw. Peço desculpa aos fãs mais puritanos, mas isto faz todo o sentido.

Os vídeos não chocam tanto como os cenários, mas foram também vítimas das barras laterais. Um pequeno sacrifício.

Continuo a achar que Final Fantasy VIII devia ser completamente retrabalhado, mais do que Final Fantast VII, mas algo me diz que isso nunca irá acontecer. O que é uma pena, pois o jogo merecia ser reequilibrado e ajustado. O potencial está lá todo, sempre esteve. Esta versão é um meio termo e é, por agora, o suficiente. É bom regressarmos ao passado.

O código (Steam) foi cedido pela Ecoplay.

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