Super Mario 3D World + Bowser’s Fury | GLITCH REVIEW

Longe das expetativas de uma geração perdida, Super Mario 3D World é outro jogo. Apesar de não esconder a sua idade, o exclusivo da Nintendo, que chega – quase como estreia – à Nintendo Switch sete anos depois do seu lançamento na Wii U, traz consigo uma energia e vontade criativas que se escondiam naquele que fora considerado como um lançamento sem sabor. Afinal, estávamos errados. Num mundo pós-Super Mario Galaxy, o mundo felino de Mario, Peach e Bowser não podia ser mais apelativo: é na simplicidade que está a beleza.

Para todos os efeitos, e excluindo o capítulo adicional, Super Mario 3D World é o mesmo jogo que experienciaram na Wii U. Os níveis são os mesmos, as mecânicas mantiveram-se inalteradas – funcionando num equilíbrio entre a experiência tradicional da série e as sensibilidades das versões portáteis, como Super Mario 3D Land – e o foco continua centrado em níveis curtos, mas diversos, aliados a mapas exploráveis repletos de conteúdos adicionais. Apesar de as novidades serem reduzidas, o exclusivo da Switch parece ser um novo jogo, mais forte e determinado, mais sólido e até aventureiro do que aquele que vimos em 2013. Porquê?

A resposta é simples: as expetativas dissiparam-se. Na Wii U, Super Mario 3D World era uma gota de água num oásis a secar, uma esperança perdida para todos os que queriam um regresso à fórmula mágica de Super Mario 64 e Super Mario Sunshine, cujo chamamento a Nintendo não só recusou, como se esforçou em ignorar o mais que pôde, apostando antes numa estrutura clássica e em níveis focados nas plataformas e nos desafios evolutivos, e não na exploração. É um passo evolucionário dos clássicos da série, um dos títulos mais divertidos protagonizados pelo canalizador, mas em 2013 era um exclusivo com um enorme peso nas costas: com a missão de salvar uma consola sem salvação.

Sete anos depois e o cenário é outro, mais brilhante e esperançoso, com a Nintendo Switch a brandir o estandarte do sucesso como a Nintendo não via há quase 10 anos. Um sucesso. Nesta nova consola, o jogo de plataformas perde as expectativas e exigências desmedidas e vive por aquilo que é: um excelente título do género. Com a possibilidade de jogarem com mais três amigos, Super Mario 3D World é quase um party game, auxiliado por um level design exímio, onde cada fase difere da anterior. Seja o primeiro nível ou o último, há sempre qualquer coisa nova para descobrir, algo que é exponenciado não só pelo novo fato, o famoso gato, mas também pelas habilidades únicas de cada personagem (como o pairar de Peach ou o salto de Luigi), que não só se complementam quando jogados em cooperação, como dão ao jogo uma nova e inesperada longevidade.

Não consegui ficar indiferente à recolha de estrelas e de carimbos, dois dos colecionáveis do jogo, e é impossível não destacar a variedade de poderes e fatos neste novo jogo.

A nível mecânico, o foco mantém-se nos saltos rápidos e nas plataformas desafiantes, ainda que inclua alguns dos movimentos mais complexos de Mario, como o salto lateral, popularizados pelas suas excursões em 3D. Podia dizer que são, no fim, quase descartáveis, mas estão presentes para servirem os jogadores que procuram ir contra as regras do próprio jogo, no sentido de descobrirem novas formas de se movimentarem ao longo dos níveis e ultrapassar os vários desafios com outra fluidez. Mais uma vez, é neste equilíbrio entre desafio e acessibilidade que a Nintendo reina e Super Mario 3D World é um excelente exemplo disso.

Não se pedia, portanto, que fosse inovador, mas quem já jogou a versão Wii U poderá ficar desapontado com a falta de novidades deste relançamento. Para mim, a jogabilidade e os vários mundos desta aventura valem o preço de admissão, mas falo do ponto de vista de alguém que perdeu, infelizmente, a sua estreia em 2013. No entanto, a possibilidade de jogarem em modo portátil e com amigos em qualquer lado será sempre razão suficiente para revisitarem um título da série, ainda mais um que é tão sólido, variado e completo como este. Não sou o maior fã da série, mas fiquei completamente rendido à sua fórmula clássica e à duração curta de cada nível, funcionando quase como pequenos doces que me via incapaz de parar de devorar. “Só mais um”, era o que dizia entre sessões de jogo, algo que foi exponenciado pela portabilidade – quase como se a Nintendo soubesse o que a esperava no futuro.

A experiência cooperativa continua a estar tão assente na cooperação, como na competição, com cada jogador a tentar roubar a coroa de vencedor à medida que todos procuram terminar o nível. Infelizmente, o modo online não é recomendado devido aos problemas de conexão.

Mas existem, no entanto, novidades. Devem ter notado que omiti parte do título deste relançamento e posso dizer que foi propositado. Isto porque Bowser’s Fury, o capítulo adicional, é um verdadeiro choque no sistema e merecia quase uma análise independente. Apesar de manter intacta a jogabilidade de Super Mario 3D World, despe-se totalmente da estrutura por níveis e transporta os jogadores para um mapa extenso e explorável, dividido por zonas interligadas e sempre acessíveis. É um meio-termo entre a fórmula clássica da série e o formato popularizado por Super Mario Galaxy, com níveis muito amplos, repletos de colecionáveis e missões adicionais. É a outra face de Mario em todo o seu esplendor.

Bowser’s Fury não é muito longo, ainda que mantenha a atenção dos jogadores focada nas buscas pelas medalhas de gato (algumas muito bem escondidas), e nem tenta ser um jogo à parte. É uma montra, um teste, diria, para o que poderá ser o futuro deste formato híbrido. No seu centro, encontra-se o porquê desta tamanha raiva de Bowser, que se vê transformado num monstro enorme. Tal como os clássicos do cinema japonês de género, Bowser destrói tudo à sua passagem e é necessário que Mario o pare – também ele usufruindo dos poderes gigantescos do seu novo fato de gato.

A aventura contra com a ajuda de Bowser Jr., que não só ataca inimigos e recolhe moedas, como pode desbloquear segredos pelos cenários através do seu pincel mágico. E sabem qual é a melhor parte? Pode ser controlado por um dos vossos amigos.

A estrutura é simples: entre zonas, Bowser pode surgir a qualquer momento e causar o caos. Estes encontros são aleatórios e temporais, mas criam uma sensação de urgência que nos coloca em marcha e em sentido na busca pelas medalhas. Sem elas, não conseguimos lutar contra Bowser, mas quando reunimos o número certo, Mario cresce e a batalha continua. Quando paramos os avanços do monstro gigante, novas zonas são desbloqueadas e a aventura continua. Entre confrontos, temos zonas para explorar que mantêm vivo o foco nas plataformas, ainda que desejasse que fossem um pouco mais variadas. No entanto, conseguem criar a sensação de mundo interligado com novo na exploração e na resolução de pequenos puzzles. Resumindo: simples e direto, tal como um bom episódio adicional deve ser.

Apesar do seu potencial, vejo-me a pender mais para o prato principal deste banquete duplo, mas Bowser’s Fury é muito mais impressionante do que previa. É um capítulo completo que utiliza fortemente todas as mecânicas de World, mas com uma maior liberdade de exploração. Com a câmara livre, sentimos que regressamos, por momentos, a Super Mario Galaxy e a sensação é deliciosa. Para não falar que estamos perante um mundo temático, repleto de elementos felinos – da relva às personagens –, e que pode ser navegado com a ajuda de Plessie. Será este um pequeno deslumbre do futuro? Talvez seja, mas fico curioso para saber se a Nintendo dará um passo tão seguro ou se voltará a arriscar em algo mais inesperado.

Durante as aparições de Bowser, o mundo muda por completo e fica repleto de tinta preta e dos ataques destrutivos do inimigo de Mario.

Não é fácil justificar o relançamento de um jogo, mas quando falamos no catálogo da Wii U é difícil ficar indiferente. Podemos apontar o dedo à Nintendo e acusá-la de ser gananciosa e de se aproveitar de um catálogo de títulos já editados, mas deixo-vos a questão: se uma árvore cai na floresta e não está lá ninguém para a ouvir, será que caiu? Estes relançamentos são missões de salvamento e, para mim, são passos certeiros para clássicos que se arriscavam a ficarem perdidos para sempre numa consola há muito esquecida. O preço podia – não, devia – ser mais acessível, mas Super Mario 3D World + Bowser’s Fury vale todos os cêntimos que pedem por ele, contando com vários mundos, níveis e ainda as excursões de Captain Toad. Por fim, resta-me dizer o óbvio: é obrigatório para todos os fãs da série, especialmente para os que não jogaram a versão original.

A escala utilizada é de 1 a 10

O código para análise foi cedido pela Nintendo Portugal.

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