No Man’s Sky não é de todo um mau jogo. Longe disso. É um jogo com um conceito interessante e com uma execução algo surpreendente, mas – e tem sempre que haver um “mas” – já devem ter reparado que está em risco de levar a medalha de “flop” para casa.
O sonho molhado de Sean Murray (o Paulo Gonzo da indústria dos videojogos, uma vez que deu quase tudo pelo jogo) podia nunca ter sido lançando, nem sequer no seu estado corrente. A produção do jogo foi bastante atribulada desde a sua apresentação. Um dos piores momentos foi quando a Hello Games foi confrontada pela força da natureza que destruiu grande parte do trabalho desenvolvido. Não foi só o sonho e a ambição da equipa de cerca de dez, mas o compromisso de continuar este projeto que ficou bastante aquém do que foi inicialmente apresentado.

O pior de No Man’s Sky não é o produto final que temos, é a estúpida ambição do jogo e o hype absurdo que foi fermentando na comunidade. As expectativas tornaram-se mais virais do que qualquer DST, piores do que qualquer zombie outbreak. O comboio avançava a todo o gás e nada o podia parar. Parte do problema foi este.
Por muito fantástica que a “Fórmula de Deus Murray“ fosse, No Man’s Sky foi sempre apresentado como um projeto alcançável e palpável. Nós vimos naves gigantes despenhadas, nós vimos animais gigantescos e majestosos; nós vimos planetas com cores bonitas, fragatas espaciais… nós vimos. Era alcançável porque nos bastidores daquela galáxia e daquela fórmula, tudo era relativamente “simples” de produzir – do ponto de vista de um consumidor, quando comparado a outros videojogos. A arte é simples e bonita, a música maravilhosa e a jogabilidade parece bastante fácil e fluida. Tinha o look e cheirinho a jogo independente brutal. Será que o problema foi mesmo do hype exagerado?
Quem é que não dava um abraço ao Sean? Quem é que não gostava de se sentar a tomar um café com esse individuo e falar sobre sci-fi, jogos, miúdas ou de como é que ele trata da barba? O rapaz parece uma pessoa amorosa, simpática e profissional (ora não fosse ele o cabeça de cartaz de uma equipa de dez à frente do maior jogo da história dos videojogos). É nos pequenos tiques, coceiras e desvios de olhar enquanto tenta fugir a questões difíceis, que nós olhávamos para ele e dizíamos “Eu confio neste tipo!”

O problema de No Man’s Sky não é do jogo, não foram as mentiras nem a produção atribulada. O problema nem se quer foi o hype. O problema de No Man’s Sky foi quando Sean Murray, sem ter a certeza de conseguir pôr em prática os seus planos (e sem querer estragar a surpresa para todos os jogadores), falou demais. Para os mais aficionados dos ditados: “Pôs a carroça a frente dos bois.” E sabem o que acontece quando se faz isso? Sabem o que acontece quando o hype se sobrecarrega com ideias maiores que a vida? O comboio que vai a alta velocidade descarrila e não há boi que sobreviva.
Talvez esteja em negação, porque sempre acreditei neste projeto e não é por acaso que na última semana o meu emprego tenha sido viajar por diferentes mundos a aprender o dialeto dos Gek e dos Korvax e a trocar recursos, mas quero acreditar que No Man’s Sky poderá ser mais do que é. Apesar de todos os atrasos e anos de hype a subir em flecha, No Man’s Sky é um jogo muito à frente do seu tempo para um equipa tão pequena. Precisava de mais tempo. Precisava também de ser mais barato sendo um jogo indie. Na realidade este jogo precisava era de um early access (ou então não, todos nós sabemos que isso é o limbo dos videojogos).
Chill In Space: Broken Dreams não é de facto um jogo para todos como curiosamente TODA a gente diz (paradoxal, não é?), mas como Sean Murray debitou horas antes no site do jogo (onde refere quase a tempo que não tem multiplayer) este é um jogo estranho. É difícil de explicar sem ver ou jogar, mas quando nos conseguimos imergir naqueles mundos há algo que faz clique. Mas só quando a PS4 não bloqueia num menu ou quando no PC o frame-rate não cai a pique mesmo com resolução de batata.
No Man’s Sky é uma ideia que em parte acabou por resultar, que acaba por prender o jogador ao ecrã, que apesar de não ser tão bonito como na sua apresentação faz-nos parar e apreciar o espetáculo, quer no chão ou no espaço. É um jogo misterioso com mais lore do que estava a espera. É simples de jogar, com desafios interessantes e capaz de viciar. Talvez não seja um jogo infinito, mas se nós quisermos podemos joga-lo até ao fim das nossas vidas. Ou até sair o Forza Horizon 3! WOOP WOOP! REV UP YOUR ENGINES! WE ARE GOIN TO AUSTRALIA, BITCHES!!!!!