Jade Empire — ou quando a Bioware era fixe?

Aposto que não estavam à espera de ler sobre Jade Empire em 2023, mas cá estamos. Lançado ali entre o KOTOR e o primeiro Mass Effect, este Jade consegue reunir o melhor dos dois mundos: a moralidade; a premissa e as personagens interessantes; e o combate com foco na acção que viria a ser a norma do estúdio, com o Dragon Age: Origins a ser uma excepção raríssima.

Conheci o jogo porque entrei num E.Leclerc, no Montijo, e estava lá a caixa metálica. Na altura, não sabia o que era uma Bioware e nem liguei. Anos volvidos, meti-o na cesta durante as promoções da Steam e lá ficou. Até agora — 2023!
Estava com algum receio pelos controlos, uma vez que tentei jogar o Dragon Age na Steam Deck e não havia suporte oficial para comando. Só que o Jade Empire foi lançado em consola antes de chegar ao computador, portanto houve zero problemas nessa frente. Só com as FMV, mas nada como mexer no modo de compatibilidade.

Se Jade Empire soa a Jedi, não é por mera coincidência porque o jogo respira Star Wars e porque fazia todo o sentido capitalizar um dos grandes êxitos do estúdio. Não só temos paralelos à Força e à balança moral, como às facções, ideais e política. E se franzirmos os olhos, encontramos uma Bastila e um Carth ao nosso lado, assim como uma Ebon Hawk que podemos controlar em momentos shmups. Tudo isto num contexto de fantasia chinesa, com magia e um combate orientado para a acção em tempo real, mas uma rosa com outro nome, ainda assim tem o mesmo perfume…

Depois de um mês quase dedicado ao terror, queria algo diferente. E como a minha cabeça ainda estava na era PS2, não foi uma transição assim tão brusca. Ainda fui apanhado de surpresa: não pelos visuais, diálogos ou mecânicas, mas pelo quão divertido conseguiu ser com o seu aspecto tosco, partes limitado, mas cheio de ambição e ingenuidade. Ainda antes de uma trilogia épica e um futuro menos bom, a Bioware era mesmo uma fixe e sabia fazer jogos bem divertidos.

Jade Empire transporta-nos ao mundo homónimo inspirado em épicos chineses. O imperador Sun Hai é venerado por ter posto fim a um longo período de seca, mas o período que se seguiu foi tudo menos auspicioso. Começamos na aldeia de Two Rivers, onde criamos a nossa personagem e lutamos contra o Nathan Fillion, mas tudo muda quando a Nação de Fogo invade quando o mestre Li é raptado por uma organização ruim que bem podia ser Sith. Se a premissa começa simples com o resgate do mestre, não demora a ganhar outros contornos mais grandiosos, sem esquecer aqueles momentos mais pessoais das missões secundárias ou entre os nossos companheiros, que ainda são vários e interessantes.

O jogo não é muito longo e convida a várias voltas para termos a oportunidade de sermos bonzinhos ou sacanas; se queremos praticar o estilo clemente de Miyagi-Do ou se vamos ao joelho e não deixamos testemunhas. A escolha é nossa, mas as consequências também.
E embora tenha gostado da história e da atenção ao detalhe, nota-se bastante que a escrita é muito ocidental e em forma de fan fiction oriental, com direito aos clichés da praxe, incluindo o ocidental tolo e ignorante protagonizado por John Cleese.

Engraçado que é o terceiro jogo com uma temática chinesa que joguei neste ano. E o primeiro que gostei bastante. Às vezes, mais vale olhar para trás para conseguir para a frente.
Agora, queria mesmo que anunciassem uma sequela ou remasterização do Jade Empire, mas tendo em conta a Bioware de hoje ou a remasterização falhada do KOTOR, é melhor não desejar muito alto. Jade Empire está praticamente acessível a todos e deve ficar ainda melhor com mods, aproveitem quando estiver em promoção!

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