O Ano Em Que Jogámos Final Fantasy VII

Durante anos, não havia outro jogo que quisesse mais do que Final Fantasy VII Remake. O original da Squaresoft, muito antes da união com a Enix, fez parte do meu crescimento e pré-adolescência. Foi com ele que descobrir os RPGs, os combates por turno, as magias e as longas aventuras à volta do mundo. É, como podem imaginar, um jogo importante, um dos meus favoritos, e dentro de meros dias, o tão cobiçado remake chegará finalmente às lojas.

15 anos depois desta enorme dor de coração.

Para celebrar o lançamento, decidi abraçar o saudosismo e pedir ajuda ao André para falarmos sobre a primeira vez que jogámos Final Fantasy VII, e prepararemo-nos para o seu regresso.

Final Fantasy VII em Moscavide

Como quase todas as minhas estórias relacionadas com videojogos, esta começa em Moscavide. Estávamos em 1998, em plena Expo 98, a uns meros quilómetros da maior exposição alguma vez realizada em Portugal. Tinha comprado finalmente uma PlayStation, estava radiante. A consola ainda era nova, comprada após o Natal, e com a chegada de agosto, e ainda sem grandes jogos, a não ser WipEout 2097 e Alien Trilogy, quis aproveitar o meu aniversário para comprar algo novo – algo inesperado.

Peguei no dinheiro recebido pelos anos e desloquei-me ao Europa, o agora defunto clube de vídeo de Moscavide. Ao subir as escadas, deparei-me com a famosa vitrine dos videojogos. Alta, repleta de luz e com filas de jogos, acessórios e consolas. Uma Meca dos videojogos para um miúdo com 12 anos. Na mão – 10 mil escudos; na mente – determinação. Comecei a avaliar as opções. A escolha não era simples. O jogo escolhido teria de aguentar até ao Natal ou servir de troca com amigos, assim era a lei das ruas.

Mal sabia onde me ia meter.

Na vitrine destacavam-se três hipóteses: Ridge Racer Revolution, Tomb Raider II e Final Fantasy VII. O primeiro, um jogo de condução, era uma das escolhas mais estranhas que poderia ter feito. Não sou fã do género, mas a capa – quando as capas ainda eram importantes – estava a conquistar-me aos poucos. Já conhecia Lara Croft e os seus túmulos assustadores e repletos de quebra-cabeças, através da versão SEGA Saturn do original, e sabia que a sequela não seria para mim. Por fim, Final Fantasy VII. A capa branca com o título em grande destaque. O meteorito por detrás do título e a ideia de que estava perante algo diferente e inesperado. A caixa era diferente, enorme, e com três CDs de conteúdo. Três CDs, não apenas um. Se queria um jogo até ao Natal, este seria o jogo. E assim foi.

Não conhecia a série. Nunca tinha ouvido falar em Final Fantasy ou na Squaresoft – não sabia sequer o que era um RPG. O conceito era-me estranho, demasiado complexo, mas a compra estava feita. Quando comecei a jogar, encontrei uma aventura que viria a adorar e a mudar a minha vida – mas não naquele dia. A primeira vez que joguei Final Fantasy VII foi horrível. Odiei a experiência por completo. Menus por todo o lado, combates lentos e por turnos, cenários pré-renderizados que achei demasiado confusos e confrontos aleatórios que paravam a campanha a cada minuto que passava. Não havia ação; nada. O primeiro boss foi um tormento, mas recordo-me de o passar. Não compreendia o que fazer, como funcionava o sistema de Materias e como explorar os seus pontos fracos. Nada fazia sentido, tudo era uma enorme e desnecessária confusão para uma criança que estava habituada a jogos 2D e a Resident Evil.

É estranho pensar que este sistema de combate já foi complexo para mim, mas a verdade é que me custou perceber a lógica por detrás de mecânicas relegadas a menus. Que tempos!

Durante dias, tentei chegar mais longe. Depois do ataque ao reator, vi-me a explorar Midgar, mas rapidamente perdi-me. A estória não me estava a agarrar e o combate não era motivante. Não existiam razões para continuar em frente e a deceção era enorme. Tinha acabado de perder 5 mil escudos com a versão Platinum do jogo, era a única coisa em que pensava. Não me recordo ao certo de onde cheguei, mas penso que conheci Aeris antes de desistir. Final Fantasy VII não era para mim. Dias depois, troquei-o por Tomb Raider II – que nunca terminei.

Um ano depois, as coisas mudaram. Um amigo meu, que não vejo há anos, comprou Final Fantasy VIII no lançamento. Falou-me maravilhas do jogo, do género e de tudo o que estava relacionado com esta série que tinha recusado um ano antes. Algo me intrigou neste novo jogo e as mecânicas pareciam agora fazer mais sentido – tinha crescido. Pedi para jogar durante umas horas e no final, pedi-lhe emprestado Final Fantasy VII. Estava na hora de regressar. Depois deste regresso, tudo mudou.

O meu amor pelo género cresceu e Final Fantasy passou a ser sinónimo de qualidade, de felicidade e de emoções. Muitas histórias começam e acabam com os vários Final Fantasy. Sem Final Fantasy VII, penso que teria descoberto o género muito mais tarde, mesmo com uma primeira experiência muito negativa. A vida é assim, inesperada, e é incrível como um videojogo pode ter um efeito positivo no nosso crescimento. Há 22 anos, Final Fantasy VII foi esse jogo para mim. Em 2020, espero que o mesmo aconteça a um/a jovem que esteja agora a descobrir o género com o remake.

À terceira é de vez! – André

Fui desafiado a partilhar memórias sobre Final Fantasy VII e eu sou 60% água e 40% memórias. Vai daí, que até tenho alguns episódios com este jogo, que não é o meu Final Fantasy favorito, mas que me diz muito por várias razões.

A primeira situação decorreu quando a demo de Metal Gear Solid saiu para a Playstation. Na altura, ainda a viver na Base das Lajes, o meu grande amigo FB (e rico) era o único com a revista e com a demo deste jogo que estava a virar a cabeça dos putos no recreio, mas como era um bom amigo, ia emprestar a cada um. E eu tinha sido o primeiro contemplado.

Nunca esquecer o mundo maravilhoso das demos.

Fui à sua casa, umas ruas e mata abaixo, e entrei num corredor escuro, mas confortável onde esperei por ele enquanto procurava a dita. Com vista para a sala, espiei a televisão ligada e a imagem era a de três personagens, uma delas com uma espada enorme, a lutar contra um boss maior do que eles. Quando o FB regressou com a demo, disse-me que era Final Fantasy. Pois, mas eu só queria sair dali para malhar na demo de Metal Gear Solid e acreditem que a joguei todos os dias até a ter de passar a outro. E o assunto de Final Fantasy morreu aí, mas aquela imagem ficou-me gravada na memória.

Anos mais tarde, quando comecei a série já no VIII, travei amizade com a M, uma das minhas primeiras amigas no Montijo. Às tantas, e também por causa das demos, descobrimos The Legend of Dragoon e ficámos de queixo caído com o jogo. Ela fez anos e decidiu comprá-lo assim que chegasse à nossa pequena loja de jogos, no Continente. Mas… a nossa terriola não foi agraciada com um jogo raro e a M comprou Final Fantasy VII.

Agora, eu não sei se ela o terminou. Sei que mo emprestou e joguei. Joguei tão mal que cheguei ao boss final e não consegui passar – um feito que insistia em repetir em vários RPG porque eu não sabia o que andava a fazer, então estoirava itens poderosos em lutas insignificantes, não treinava, não explorava e bloqueava o meu progresso. Fiquei preso na luta contra Raijin e Fujin no VIII e no VII nunca consegui terminar a luta final. E fiquei anos sem ver a última cutscene até conhecer o YouTube.

Entretanto, já com muitos Final Fantasy em casa, faltava-me o VII. Comprei uma versão Platinum; e outro amigo, o J, ofereceu-me uma versão repetida que tinha, mas com um terceiro CD riscado. Juntei as duas versões para criar um monstro de Frankenstein. Mais anos volvidos, arranjei uma versão completa para a colecção, mas só acabei este jogo pela primeira e única vez quando saiu na Nintendo Switch. E posso dizer que sim, é um grande, grande jogo e bastante arrojado para a altura. O tal momento histórico continuou marcante e deixou-me com uma lágrima, as revelações mexeram comigo e senti-me vingado quando o terminei e vi a cutscene numa consola minha.

Continua a não ser o meu favorito, mas caramba se não é genial! E mal posso esperar por ser surpreendido por estes remakes. No final, Final Fantasy são os amigos que fizemos ao longo do caminho e onde quer que estejam, espero que o possam jogar.

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