Ark: Survival Evolved | Glitch Review

Se em 2016 decidi proclamar-me como “anti-jogos de sobrevivência”, sou obrigado a admitir este ano que me tornei num verdadeiro apologista do género. Ainda estou longe de apoiar lançamentos em early access ou de me aventurar pelos antros de um género completamente enraizado no computador, mas cheguei a um ponto na minha vida em que “se saiu nas consolas, eu joguei”.

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Assim chego a Ark: Survival Evolved, agora disponível na sua versão final para PC e consolas. O jogo de sobrevivência transporta-nos para um mundo dominado por dinossauros onde a história e a ficção científica chocam para criar uma experiência pouco comum, e onde dois géneros que não deviam funcionar se complementam perfeitamente.

Ao contrário de The Long Dark, que analisei recentemente, Ark: SE leva-nos de regresso às bases onde a sobrevivência é aliada à construção e à manutenção de bases e recursos. Tal como 7 Days to Die, é necessário lutar contra os elementos e é essencial equiparmos a nossa personagem o mais depressa possível para resistir às temperaturas altas dos desertos ou aos frios gélidos das montanhas. Mas ao contrário do título da Fun Pimps, aqui não existem mortos-vivos, mas sim répteis enormes capazes de nos matar a qualquer momento.

Num primeiro contacto, Ark é familiar e reconfortante. Não temos um vasto leque de mecânicas que se destaquem e que criem ruído numa jogabilidade que se quer acessível e de fácil utilização. Por isso preparem-se para recolher recursos, construir novas bases e matar todo o tipo de animais para se manterem no topo da cadeia alimentar.

Existe, no entanto, algo que distingue Ark dos restantes jogos do género: a domesticação de animais. Através da utilização de alimentos e do nosso próprio charme – leia-se, o poder dos nossos socos -, podemos domesticar todos os dinossauros disponíveis no jogo e transformá-los em imprescindíveis companheiros de viagem, seja pela sua capacidade de armazenamento e pela possibilidade de os montarmos para uma deslocação mais rápida. Este elemento transforma por completo a experiência e dá-nos a possibilidade criar não só um exército de dinossauros, que nos auxiliam em combate, mas também a capacidade de sobrevoar todo o mapa nas costas do nosso pterodáctilo.

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Sobrevoar as florestas enormes é um dos maiores prazeres de Ark e demonstra o quanto os mapas são expansivos e detalhados.

Ark não é inovador. Tem momentos em que parece ficar satisfeito em apenas copiar os outros, mas há aqui muito para descobrir. Os mapas são extensos e as possibilidades infindáveis se decidirem explorar todos os recantos do mundo. A experiência pode ser vivida em cooperação ou a solo, seja online ou offline. No entanto, existe um modo perfeito para os mais tímidos, onde a campanha ganha uma estrutura mais linear e se foca quase unicamente na história. Para minha surpresa, havia muito para explorar na narrativa de Ark, algo que nunca pensei encontrar enquanto jogava online.

A passagem de sobrevivência quase primitiva para uma exploração saída do melhor da ficção científica é feita suavemente e apanha-nos de surpresa. De um momento para o outro, deixamos as lanças e os arcos para nos munirmos de metralhadoras e outras armas de fogo para afugentarmos até os animais mais atrevidos. Esta alteração na jogabilidade dá uma nova vida ao jogo e reacende novamente a nossa chama e interesse na jogabilidade, pois obriga-nos a encontrar novos recursos para sacear as nossas necessidades mais destrutivas. Pode não ser um mestre nos dois mundo e até perder alguma da magia inicial, mas adorei descobrir todo este lado tecnológico em Ark.

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Mas antes das armas de fogo e das armaduras evoluídas, temos apenas um arco e um machado de pedra. E do outro lado, os dinossauros têm…bom, dentes e garras.

O que posso garantir é que vão encontrar repetição. Se acham que Ark é diferente dos outros jogos do género, esqueçam, este jogo não é para vocês. Ark é formuláico até ao tutano e foca-se, às vezes desnecessariamente, numa progressão que nos obriga a respeitar todas as regras possíveis. Isto significa que iremos sempre precisar de recolher novos recursos para continuar a construir a nossa  base e para desenvolver armamento mais complexo. O ciclo nunca é quebrado e a evolução da nossa personagem está sempre ligada à recolha e utilização de itens, algo que é natural no género de sobrevivência. No entanto, a domesticação e exploração dos mapas extensos conseguem quebrar alguma da monotonia e ao contrário de outros jogos, como 7 Days to Die, não senti o cansaço a tomar conta da experiências durante as horas finais.

Apesar da sua jogabilidade coesa, ainda que pouco surpreendente, Ark falha na sua conversão para as consolas. Tal como me tenho vindo a queixar em inúmeros jogos, que parecem estar a povoar os lançamentos deste ano, o título da Studio Wildcard chega às consolas com menus intragáveis e pouco intuitivos. Considero-me como uma pessoa distraída, mas nunca fiquei tanto tempo à procura de menus e de sub-menus como neste jogo. A sua disposição chega a ser absurda e quase incompreensível, e assume-se como um verdadeiro calcanhar de Aquiles para a longevidade do jogo e da nossa paciência.

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A construção de bases começa a ser um dos elementos que mais procuro neste género e Ark dá-me exatamente o que procurava. Podemos evoluir os nossos abrigos para verdadeiros castelos onde a nossa imaginação é o limite.

Não pude analisar a performance na PS4 Pro, mas posso garantir-vos que a versão para a PS4 original é tudo menos surpreendente. Se já viram vídeos ou imagens da versão PC, esqueçam – não é esse o jogo que vão encontrar aqui. Depois de ter sobrevivido à podridão da conversão de 7 Days to Die, não estava preparado para mais um título onde os gráficos parecem estar a correr numa resolução tão baixa que a PS4 mais parece ser um Pentium II engripado. O jogo torna-se feio à medida que avançamos e percebemos que a qualidade gráfica nunca vai melhorar, um desespero que fica connosco até ao final. Os cenários são pouco definidos, os modelos inconstantes e a resolução assusta até os jogadores mais destemidos. Apesar de não ter encontrado quedas de framerate ou slowdowns constantes, a verdade é que Ark é pouco surpreendente nas consolas originais. Fiquem pela jogabilidade, mas por favor, não esperem encontrar o mesmo jogo já disponível no PC.

Ark: Survival Evolved não evolui o género, mas solidifica-o através de um ambiente incomum e de uma experiência online rica e intrigante. Há muito para descobrir, seja em grupo ou a solo, e as primeiras horas prometem ser uma verdadeira dor de cabeça, mas com o tempo, irão dominar o mundo e todos os seus habitantes. A curva de dificuldade é acentuada, ainda mais quando se alia a menus que são inconcebíveis em pleno 2017, mas as mecânicas disponíveis complementam a sua falta de cuidado visual ao dar-nos variedade e opções para criarmos o jogo à nossa maneira.

Nota 7
A escala utilizada é de 1 a 10

O código para análise (PS4) foi cedido pela Ecoplay.

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