Há muito, muito tempo… para aí em 2018, Jedi: Fallen Order foi anunciado para grande surpresa de todos, inclusive da própria Respawn durante a E3. Entre controvérsias várias com Battlefront II, este anúncio serviu tanto para temperar a discussão, como para experimentar novas aventuras numa propriedade já de si prolífica em aventuras.
Adorei Star Wars Jedi: Fallen Order, mas senti-o como as primeiras temporadas das minhas séries de Star Wars favoritas – tímido, talvez tremido e em busca de um rumo próprio. Disse-o de Clone Wars e de Rebels, mas quando estas arrancaram, já ninguém as parou e tenho-as em elevada consideração no que toca à expansão da mitologia de Star Wars e em fan service gostoso.
Fallen Order também é muito seguro, mas o que fez, fê-lo bem para estarmos aqui a escrever sobre a sua sequela – Star Wars Jedi: Survivor.
Tenho para mim que a Respawn andou com um caderninho a apontar tudo o que criticaram da prequela para capricharem neste Survivor: fast travel; melhor exploração e locomoção; mundos vastos e um elenco interessante; mais e melhores coleccionáveis e personalização; e duelos variados e renhidos.
Só que nisto tudo, esqueceram-se de refinar e passar o jogo para o departamento mais importante, o de controlo de qualidade. É muito bonito justificarem o aumento dos preços com os custos de produção, quando poupam em QA por terem os jogadores a pagar para testar jogos incompletos e mal optimizados. Óbvio que cada um terá a sua experiência – ora pior, ora melhor que a do vizinho, mas a mancha está lá no melhor pano.
O modo de desempenho é, até à data e com remendos, a pior opção com frames instáveis em secções mais exigentes e com uma resolução miserável de fazer inveja aos melhores jogos da Switch. A alternativa é mesmo o modo gráfico, ou de qualidade, que ainda consegue manter a estabilidade, sem descurar o factor uau e a beleza imersiva deste Star Wars Jedi: Survivor. De resto, e por resolver, ainda restam glitches visuais, crashes e outros dissabores que me obrigam a avisar sobre o estado actual do jogo. Analisámos a versão da Series X que veio com outros brindes: uma péssima vibração de quebrar a imersão. Cheguei a perder tantas vezes num boss que o comando não sabia como se sentir, até que tive de reduzir a intensidade da coisa. Ainda, certas combinações de botões não eram tão responsivas quando mais precisava.

Jedi: Survivor continua a ser um bonito híbrido entre metroidvania e soulslike, e estas influências não são nada tímidas, com a Respawn a brandi-las como se fosse uma criança a sacudir tubos de cartão e a fazer barulhos de sabres com a boca. Este detalhe é o que nos impede de devorar sofregamente o jogo até aos créditos, o que não quer dizer que o jogo engonhe ou tenha problemas de ritmo. Pelo contrário, somos nós que criamos o nosso próprio ritmo: ou nos focamos apenas na história ou andamos perdidos por aí a desvendar rumores (sidequests) ou a abrir caminhos para confrontos secretos ou roupinhas novas que já não se limitam aos ponchos da praxe – até me caíram as lágrimas!
É uma sequela rica que me fez abrandar em vários momentos para respirar a beleza dos cenários, desde o trânsito nocturno de Coruscant, os áridos desertos de Jedha, as florestas e pântanos e templos perdidos de Koboh aos cantos mais íntimos e sujos e vividos da Cantina Pyloon’s Saloon que ia recebendo a clientela mais interessante, diversa e bizarra. E é esta a imersão que falta às séries mais recentes e estéreis da Disney+, assim como a ousadia e a curiosidade em contar mais e melhores histórias – menos Andor. Andor é perfeito.
Se o primeiro jogo abordou a trope da família encontrada, com um herói relutante, mas movido pelas circunstâncias e ideais nobres do seu coração, a sequela abre com esta família quebrada e propõe-se a lidar com as rupturas externas e internas de Cal que, após cinco anos e um livro, ainda se encontra a lutar contra o Império, agora com Saw Gerrera e uma trupe de NPC sem grandes detalhes visuais, que é sempre um bom indicador dos seus destinos. Coisas acontecem e Cal é forçado a aterrar no planeta Koboh, onde tropeça numa antiga revelação que inflama a esperança de se verem livres do Império – mas a vida nunca é assim tão simples, não é?

Mas do que vale uma bonita história e bonitos níveis e personagens se o resto não acompanhar? E com resto, falo da carne e das batatas do Survivor – o combate. Não interessa a idade, vamos sempre abrir as portas automáticas das lojas com a Força e sonhar com o nosso próprio sabre de luz e épicos duelos com a Duel of the Fates a passar em loop nas nossas cabecinhas. Se os anteriores jogos da saga já nos permitiam viver essa fantasia, Jedi: Fallen Order veio subir a parada com um toque mais pesado dos primos Souls.
A primeira campanha deu-nos um Cal destreinado e alheado da Força para o desenvolvermos através de memórias situacionais ou contactos psicométricos, enquanto degustávamos diferentes posturas de combate inspiradas em momentos e nas nossas personagens favoritas da saga. Tudo isto numa árvore de habilidades simples, mas que servia o seu propósito. E esse progresso não foi ignorado na sequela!, porque apesar de beberem dos metroidvania, Survivor bailou à grande pela trope da amnésia ou do acontecimento chato que nos retira os poderes para nos obrigar a recuperar tudo.
O Cal é um tipo fixe e um melhor aluno, uma vez que reteve tudo o que aprendeu em Fallen Order para capitalizar em Jedi: Survivor. São os mesmos poderes da Força, mas que agora podem ser combinados e utilizados de diferentes formas. As posturas ganharam as suas árvores de habilidades individuais e ainda aprendemos outras duas – uma mais pesada, que dá uso a um sabre especial da nova trilogia; e uma segunda que é a definição da regra do ser fixe, que permite ao Cal empunhar o sabre e um blaster na mão livre para combos mirabolantes. Cada postura carrega vantagens e desvantagens; não há um tamanho que calce todos os pés, mas uma liberdade para rodar, conforme a situação. E se não estivermos contentes com o nosso progresso, podemos repor todas as habilidades para apostar noutras estratégias – mais foco na Força ou numa determinada postura?
E adorei experimentar até assentar em favoritos porque os combate puxam muito de nós. Já não combatemos apenas com criaturas como na prequela, agora temos mais variedade de inimigos, bosses secretos e lendários e novas abordagens e dinâmicas, se bem que com alguns picos de dificuldade injustos.

A aventura nunca foi só sobre o Cal e o pequeno BD-1, integral à dinâmica entre a tripulação da Mantis, está mais envolvido na exploração, para além dos scans e slices e com novas habilidades. E apesar de a tripulação ter seguido as suas motivações nesta sequela, foi como regressar a novos amigos e descobrir como mudaram nestes últimos cinco anos. Antigas amizades; novas amizades e é mais do que garantido de que vão gostar de conhecer o novo elenco, do mais secundário às novas adições à tripulação e ao Skoova Stev. Apenas gostava que alguns companheiros estivessem mais presentes na campanha, e não em pequenos segmentos específicos.
E que os jawas tivessem dito Utinni! Arrancou-me da imersão e consigo perdoar muita coisa, mas há limites, Respawn!, vá, ainda compensaram com os B1 battle droids a lamentarem-se da sua existência, até me deu pena dar cabo deles…
Em suma, Star Wars Jedi: Survivor é uma sequela magnífica com imensas opções de acessibilidade e que melhorou em várias direcções!, mas não tenham problemas em aguardar pelos remendos porque este jogo merece ser jogado na sua melhor forma.
Gostei, divertiu-me, aqueceu-me o coração para o despedaçar logo a seguir. É o espírito de um Mass Effect 2 e de um The Empire Strikes Back, com tudo o que isso implica. E joguei-o durante uns tempos bonitos, a alternar com a segunda temporada de Star Wars: Visions e a receber anúncios nas redes sociais sobre action figures e réplicas de sabres que me tentavam e à carteira. Se calhar, ainda corro uma maratona agridoce da trilogia original porque apesar de conhecermos o desfecho de anos, estes dois jogos conseguem a proeza de nos fazer torcer pelos underdogs da Mantis e acreditar que têm chances. É como diz o Han – Never tell me the odds...
Agora que passou da primeira temporada, com um segundo arco épico, estou muito desejoso para ver o que vem aí.

Código cedido pela Play NXT