Football Manager: o jogo mais imersivo de sempre!

Por: Francisco Isaac

Começo com um pedido de desculpas por fazer uso de um título clickbait, já que pode ter gerado um pouco de raiva ou irritação por parte de alguns leitores. Por outro lado, retiro novamente o pedido de desculpa porque o título está, pelo menos para mim, muito perto da verdade. E esta?

No título está Football Manager, mas também podia falar em Championship Manager, que faz parte deste universo, sendo que um sem o outro não tinha existido, e, por isso, ambos não podem ser separados.

Para conseguir exemplificar melhor o que quero dizer, conto-vos uma história pessoal minha e vão perceber o porquê de me atrever a dizer que FM é dos videojogos mais imersivos de sempre. Em 2002, lembro-me de estar à frente do mamarracho do meu computador de casa, com a Primavera lá fora a dar as suas pinceladas que não faziam o tempo nem ser muito quente, nem muito frio. Em dois cliques carreguei o CM01 e lá estava eu a entrar no meu save especial, denominado por “FCPORTO 1 FINAL 2 AB” (tinha mil saves diferentes por várias razões e mais algumas). Jogo carregado e agora ecrã parado no meu plantel. Minimizei a janela e coloquei Yellow, dos Coldplay, a tocar (arrancada do Napster, agora posso admiti-lo sem ir preso).

Enquanto Chris Martin entoava aquelas notas memoráveis, eu vestia um blazer e preparava-me para o ritual que montei quando tinha uma final importante. Blazer vestido, o Chris a dizer “I drew a line for you”, e fingia-me a discursar para os meus atletas, imaginando-me no balneário com Cândido Costa, Jorge Costa, Vítor Baía, Maxim Tsigalko, Kim Kallstrom, David Prutton, Capucho, entre outros. Depois da Yellow terminar (meti uma 2ª vez, porque só um play não foi suficiente), e de ter-me focado, lá toquei no botão e fui para a final da Liga dos Campeões frente ao FC Barcelona.

Isto era Championship Manager para mim, uma porta de entrada para a cadeira dos sonhos; o de treinador, comandante de jogadores, o homem do leme, o responsável máximo e a pessoa para o qual os atletas olham à procura de respostas.

O MUNDO INTERACTIVO (E VIVO) DE CM E FM

A Sports Interactive e a Eidos Interactive criaram das franquias mais viciantes de sempre, desenhando um videojogo “simples”, baseado em números e resultados aleatórios, que podiam ser influenciados por um certo tipo de decisões e conjunturas, impondo-nos um multiverso futebolístico que nos levava a imaginar estes “ses” perpetuamente.

Championship Manager não era particularmente impossível, tinha o seu grau de dificuldade e quanto mais mergulhássemos na direcção das suas fundações, melhores treinadores nos tornávamos, conseguindo ganhar outras aptidões, conhecimentos e mecanismos para derrubar até ao mais forte dos adversários. Para uns, era ciência, porque a evolução dos jogadores estava dependente do algoritmo e da IA, sendo possível empurrar certos atletas para um patamar grandioso, dependendo de como os elevávamos. Para outros, era só instinto, procurando incentivar as fagulhas do nosso sistema operativo para funcionar ao nosso ritmo, polindo o plantel da melhor forma possível e com um espírito aguerrido. Para a maioria era… isso tudo e muito mais, sendo, ao mesmo tempo, um passatempo dinâmico e emocionalmente excitante. Uma forma de desenvolver os conhecimentos do mundo “da bola”, podendo dar um ar culto nas discussões com amigos sobre o esférico.

Championship Manager nasceu em 1992, e desde então marca uma trend, tendo conseguido derrotar FA Premier League Manager (outro belíssimo jogo, que nos encontros das equipas que treinávamos tinha gráficos 3D dos jogadores), e outros jogos, até se estabelecer como o “rei” deste seu mundo. Este jogo evoluiu na sua forma, desenvolvendo-se a cada novo CM e FM. Desde treinos especializados, conversas à parte com os jogadores – em que podíamos pedir-lhes sugestões -, diálogos com a direcção e os agentes. A série foi aumentando em dimensão e impôs-se como um must para qualquer adepto do futebol.

O REALISMO E O IRREAL DO DIGITAL

Com a evolução nas mecânicas, Football Manager acabou por ser utilizado por treinadores como mecanismo de apoio para conhecer jogadores, perceber o seu potencial, identificar novos alvos e até testar estratégias, transformando o videojogo numa ferramenta interessante para realizar o seu trabalho. William Still, actual treinador do Reims (Ligue 1), foi um ávido jogador de vários Football Manager, e a experiência acumulada acabou por beneficiar o seu desenvolvimento como treinador.

Outra história que brotou graças aos FM foi a de Andrej Pavlović, que graças às suas aventuras por vários saves, acabou por conseguir um trabalho enquanto analista de dados de equipas de futebol, estando actualmente no FK Bežanija da Sérvia. Roberto Firmino, estrela do Liverpool e da selecção brasileira, chegou ao Hoffenheim porque Lutz Pfannenstiel, director desportivo da altura do emblema alemão, encontrou-o em Football Manager 11 e começou a segui-lo na vida real.

Estes três casos demonstram o enorme sucesso que esta saga de videojogos tem tido desde o seu nascimento, derrubando barreiras, ofertando oportunidades e construindo pontes que ligam o mundo da fantasia com a realidade.

Infelizmente, o carácter imersivo dos CMs/FM trouxe também algumas nuances negativas, com a principal a ser como alguns acham que o futebol é “simples” e basta o treinador fazer umas quantas mudanças rápidas ou cirúrgicas para meter a equipa a jogar bem – ou que é fácil contratar jogador A, B, ou C porque o jogo assim o diz. Esse é o verdadeiro limite de Championship Manager e Football Manager, de que nem tudo de dentro daquele jogo pode passar para a realidade, e que, apesar da espectacular experiência que oferece, não pode servir de tábua para moldar a vida real.

UM MUNDO SEM BARREIRAS

A minha versão favorita continua a ser – e dificilmente deixará de o ser – Football Manager 08, tanto pelo sistema suave e elegante que oferece, com a multitude de opções e uma base de dados imensa que me possibilitou treinar 12 equipas ao mesmo tempo. Sim, Football Manager e Championship Manager conseguiram-me pôr a fazer cenas loucas, mas também foram capazes de me empurrar na direcção do desconhecido, emigrando para ligas como a MLS, Primeira Liga do Perú, ou até da Síria, encontrando novos jogadores, clubes e experiências.

Há outros detalhes deliciosamente interessantes, como o factod o estádio da Juventus ter mudado de nome para Alessandro Del Piero em FM08, isto após o mago transalpino ter-se retirado da prática. Ou seja, o próprio jogo evoluiu a cada nova época, moldando novas funções e possibilidades.

Para quem nunca jogou, e só conhece a série porque clicou num vídeo qualquer no YouTube – ou viu um par de fotos no Google Images -, Football Manager parece ser apenas um joguinho em que uma bola vai saltando de um lado para o outro, com uns bonecos redondos (estou a falar de FM08) a correr atrás do esférico, à procura de marcar um golo. Mas experimentem e vejam se não se deixam contagiar pela loucura dormente que este joguinho cria em cada um de nós, espicaçando o utilizador a não só melhorar e evoluir, como descobrir novos mundos e possibilidades.

A magia de Championship Manager e Football Manager é única e capaz de me levar a criar mil e um saves, a experimentar outras mil tácticas e estratégias, apostando em diferentes jogadores e a desafiar a minha sapiência e audácia a cada novo duelo. Ah, e admito que fiz várias vezes uso daquela, bem, batotice de gravar antes de um jogo importante e recarregá-lo quando a coisa não corria bem, efectuando esta acção até ter o resultado pretendido. Isso é também parte da viagem louca de Football Manager e uma que vou repetir ad eternum até que os processadores deixem de poder carregar os saves!

Advertisement

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.