Por: Francisco Isaac
“War has changed”… para melhor – sem dúvida alguma. Isto, se estivermos a falar de Advance Wars, título de uma coleção de jogos que entre 2002 e 2003 fizeram as delícias de quem possuía um GameBoy Advance, com a Nintendo a polir e a oferecer agora um remake de qualidade em 2023 e em grande estilo. Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp foi o nome dado à fusão das primeiras entradas desta série que findou em 2008, com Advance Wars: Days of Ruin. E chega agora à Switch com todos os elementos para conquistar um novo público da Nintendo com relativa facilidade.
Bem, vamos aos básicos para quem não conhece tão bem ou está perdido no fog of war. Advance Wars é um jogo de estratégia por turnos assente em grafismos simples, mas animados, e que nos remetem para a Red Ribbon Army de Dragon Ball, onde assumimos uma posição de comando das tropas da Orange Star Army numa fase inicial.
O remake foi conduzido pela WayForward (estúdio com mais de 30 anos de existência e responsável pela série Shantae), que pegou no trabalho e obra da Intelligent Systems e afinou tudo o que podia para entregar um interactivo e viciante jogo. O modo campanha é o primeiro prato apresentado, composto por 24 missões diferentes, seguindo uma narrativa interessante e básica, não significando este último adjectivo que é algo negativo, pois o foco está na jogabilidade e no permitir ao jogador aprender, adaptar e perceber como pode tirar o melhor proveito do teatro de operações.

A jogabilidade é ágil, expedita e rápida, permitindo uma dedicação suave e intrinsecamente enérgica, com alguns mapas a oferecerem uma maior dose de resistência e esforço para os ultrapassar. Se tiver de falar da minha experiência pessoal e directa com este Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp, posso dizer que viveu entre várias tonalidades e o facto de ter saído derrotado na primeira missão foi o tónico-chave para me entregar mais convictamente a esta aventura bélica.
O primeiro pensamento que surge em missões introdutórias – não estamos a falar de tutoriais – não é de ser vergado e sair derrotado. Apesar de me achar minimamente competente em jogos de estratégia, fui vergado e forçado a conceder bandeira branca e recomeçar a missão. Porquê tal desfecho? Porque fui enganado pelos desenhos cartoonish e dinâmicas acessíveis do jogo, acabando por tentar ganhar através da força e não da inteligência. Lição aprendida da forma mais dura possível. Agora toca a ganhar respeito por aquilo que Nell (a nossa primeira comandante) explicava-me e atentar às movimentações de Olaff, o primeiro grande inimigo da campanha.

Depois desta aprendizagem inicial, as missões seguintes foram um desafio mais acessível, com alguns picos de dificuldade mediante o tipo de unidades que nos eram ofertadas e que o inimigo recebia. O medium tank ou as anti-aéreas eram um problema crasso para fazer avanços rápidos, necessitando de uma avaliação profunda em como jogar este xadrez da Nintendo. Cada unidade tem a sua forma de avançar, apresentando também dados de força/vitalidade/defesa/munições/combustível, com a IA a não nos forçar em alinhar em tutoriais, caso queiramos ir à descoberta por nós próprios.
Existem duas formas de chegar à vitória:
- conquistar a base adversária, necessitando para isso ter lá uma companhia de infantaria vossa. As bases têm 20 pontos de vida e necessitam que essa unidade de infantaria invada o espaço, durante pelo menos dois turnos, uma vez que só retiram 10 pontos por turno. Caso essa unidade tenha sido ferida, os pontos de força descem e serão necessários mais turnos para virar essa base;
- derrotar todas as forças inimigas que estão no mapa, tão simples como isto. Parece ser simples até se depararem com alguns tipos de unidades que são capazes de desmantelar um batalhão inteiro com ataques de longa distância;
- Contudo, há certos mapas que podem alterar as regras de empenhamento com os dois mecanismos de vitória previamente explicados, a serem anulados e substituídos por algo mais específico, como a necessidade de conquistar doze cidades (numa dessas missões, estive mais de 40 minutos para conseguir sair vitorioso, necessitando de jogar ao Risco).
Para atingirem esses fins, são nos disponibilizadas uma larga variedade de unidades terrestres, aéreas e marítimas. A certa altura, até podem vir a produzi-las durante as missões, intensificando este caos organizado que ganha novos músculos a cada nova curva. Por fim, e só para ficar tudo bem explicado, caso uma unidade tenha sofrido dano, podem recuperá-la através de cidades (funcionam no mesmo sistema de conquista das bases, necessitando de serem invadidas e ocupadas por dois turnos – no mínimo), movendo-as para na posição pretendida por 2 pontos a cada turno.
A campanha pode ter uma duração média entre 6 e 8 horas, mas este tempo de conclusão pode ser superior, consoante as aptidões e a cabeça de cada um. Para além da progressão na história e a dificuldade das missões, o jogo também oferece créditos internos para serem gastos na loja de Hachi para comprar arte (músicas e desenhos), comandantes diferentes (cada um tem um power up diferente que surge durante um mapa após algum tempo) e mapas para serem utilizados no modo multiplayer.
Esta é a maior novidade deste remake, com a Nintendo e a WayForward a permitirem jogar localmente ou via amigos da conta Switch. Com o desafio a subir de timbre, garantimos que o interesse por Advance Wars não se extingue após terminar o modo história. Não é um multiplayer que faça explodir a cabeça, mas tem o seu carisma e força própria, que merecem ser valorizados e, claro, testados. Outra das componentes introduzidas é o modo criador, possibilitando construir mapas que podem ser partilhados com amigos e desconhecidos, apimentando esta brincadeira bélica.
A guerra é tratada de um modo “afável” e demasiado confortável, mas essa é a cara da Nintendo neste tipo de publicações e aqui não pode ser visto como um factor negativo, apesar de ter a sua face problemática.
Seguindo na ideia dos apontamentos que podem ter algum senão, há outro elemento que tem a possibilidade de levantar alguns dissabores: não há gravações a meio da batalha. Caso façam uma má jogada, é possível refazê-la, reescrevendo todo esse turno e partindo novamente do “zero”. Eu não vejo isto como factor prejudicial porque implica ter noção das consequências de cada acção e perceber qual o impacto de nos movimentarmos cinco, três ou dois espaços, de voltarmos para zona segura ou de arriscar num ataque. Caso queiram fazer um reset, podem hastear bandeira branca e partir de um teatro de guerra limpo.
Em relação à questão do se é repetitivo, é difícil responder, pois a receita não muda de mapa para mapa, mas há variantes que alteram a química, empurrando-nos para engajar com o mesmo espírito. Num ápice, podem ter estado quase horas seguidas a brincar com estas guerras entre quatro nações diferentes, não sentindo a passagem do tempo.
O ritmo é o correcto, as possibilidades são suficientes e até surpreendentes, e a estratégia é real e completa… a IA é que pode, por vezes, ser um desafio demasiado fácil e que pode influenciar ligeiramente a experiência. Ofereço três dicas para os novos recrutas:
- Por vezes, vai ser necessário sacrificar certas unidades, de modo a ganharem uma vantagem em determinado ponto do terreno ou, pelo menos, forçar uma divisão da coluna inimiga. Por vezes, parece melhor entregar uma unidade de infantaria, mas olhem bem antes de efectuarem essa movimentação porque entregar um tanque como peça sacrificial pode oferecer uma vantagem mais forte;
- Abusem das pontes e zonas tampão, bloqueiem com algum tipo de veículo que não vos faça tanta falta, e que possa aguentar um ou dois ataques. Não dêem folga à IA;
- Refaçam o turno todo se for caso disso, mesmo que já tenham findado as vossas movimentações. Não sejam preguiçosos e façam uso dessa (pequena) vantagem que vos é ofertada;

Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp não veio para inventar novas fórmulas nem querer se afirmar como o melhor do género de estratégia por turnos, com o seu máximo objectivo a passar por roubar a atenção do jogador a cada intervalo do dia, sendo o mecanismo perfeito para um retorno a casa, um relaxar numa cadeira ergonómica ou naquela “ponte” entre a refeição e o retornar ao trabalho ou ir para a cama. Agora, toca a colocar a boina, abrir os olhos e avaliar muito bem como se vão mexer dentro do mapa, pois Advance Wars tem o condão de poder surpreender!

Código cedido pela Nintendo Portugal