The Last Remnant foi o último RPG da Xbox 360 que terminei neste Na Minha Com Ela, mas na sua versão remasterizada na Nintendo Switch. Só estava mesmo à espera de uma promoção ou de moedas de ouro para não ficar a arder, se não gostasse. E estive mesmo ali entre o terminar e o não terminar, porque ainda suspirei bastante com o que pretendia de mim.
É que este Remnant é um RPG por turnos, mas também táctico, onde não controlamos as personagens directamente, mas os esquadrões formados pelos protagonistas e por mercenários que vamos recrutando. Este jogo tem tanto de tradicional, como de inovador; é estranho, mas também familiar e reconfortante.
The Last Remnant abre com duas premissas: a mais urgente e pessoal, a de resgatar a irmã do protagonista, Rush Sykes; e uma mais geral, que decorre em segundo plano, a de garantir a independência de Athlum, num conflito em fervura lenta e que acaba por estar relacionado com a primeira. E não só…
Os remnants do título referem-se a antigos e poderosos artefactos mágicos responsáveis por várias guerras de poder. Cada artefacto está intrinsecamente vinculado a um individuo que faz uso das suas propriedades bélicas ou para governar durante períodos de paz, como é o caso de alguns líderes das cidade-estado. Um remnant sem vínculo durante muito tempo, provoca um colapso desastroso que leva ao aparecimento de monstros na região – uma explicação saudável para o grind nestes jogos!
Não sendo exactamente original – com relíquias mágicas, nações em guerra, mauzões e jovens empurrados a salvar o mundo da destruição, tenho de gabar a coragem de alguns acontecimentos. Sim, houve baixas de guerra. E isto foi motivo para dizer sim, senhor, não estão a brincar. Por outro lado, talvez tenham ido por aí porque o elenco ainda é grandito na casa das centenas, entre recrutas genéricos a outros mais envolvidos no grande e no pequeno esquema das coisas. A história principal é curta e recta, com o sumo da mitologia e do desenvolvimento de personagens relegados para as missões secundárias. E aqui fi-las tantas quanto as encontrava porque as recompensas eram vitais para superar os (vários) picos de dificuldade.
Acho que não teria avançado muito e mais, se não tivesse gostado da carne e das batatas do jogo – do combate. Tive de tirar uma licenciatura!, mas com o canudo das mãos, tornou-se numa das melhores experiências, que ainda não vi replicada noutros jogos (ou desconheço-os…).
The Last Remnant tira-nos o controlo directo e individual para controlarmos unions ou esquadrões. Nos capítulos finais, podíamos ter até cinco unions, e cada uma com até cinco mercenários, em combate.
Eram autênticas batalhas campais, mas também havia ordem no caos, com o jogo a satisfazer uma fantasia minha em não sermos apenas um escolhido, mas sermos um entre muitos. Os meus problemas iniciais apenas se deveram a estratégias deficientes e por insistir em jogar tradicionalmente – a esperar reacções às minhas acções. Eventualmente, entendi que os comandos não eram directos, mas paráfrases preventivas que variavam consoante a situação e a posição das peças no tabuleiro.

Não podia pensar e carregar apenas uma personagem durante todo o jogo, mas pensar e carregar as melhores unions, concentrando-as com a melhor magia e ataque ou diluindo para melhor suportar as investidas. Não há um tamanho que sirva a todos os pés, mas vários tamanhos para rodar se andarmos a bater com a cabeça contra a parede. Apesar de as possibilidades serem imensas, quem lidera as unions acaba por ditar a dinâmica da mesma e os ataques especiais disponíveis. Ah, sim, o factor sorte (RNG) também era muito importante para aparecerem as opções que queríamos!
Ainda assim, Remnant continua a ser um RPG por turnos, com um pouco de RTS, mas sem o tempo real.
The Last Remnant tem detalhes peculiares: só podíamos equipar Rush, com o restante elenco a galar as sobras ou a deixar discos pedidos de materiais para melhorar o que tinham equipado.
Não recomendo combater apenas pelo grind porque as batalhas são lentas e morosas (mas temos turbo) e as recompensas não são por aí além; a alternativa passa por atrair o máximo de inimigos possível num link e começar o combate com a máxima desvantagem de moral (barra vermelha) possível. Ao superarmos este desafio, a evolução já será drástica. É algo religioso: quanto mais penarmos, maiores serão as recompensas; ou completar missões secundárias!
O consumo de itens curativos também não era directo, mas através de habilidades de herbologia que permitiam a algumas personagens combinar ervas e melhorar as respectivas propriedades.
E por falar em habilidades e evolução, esta não era linear. Tal como no malogrado Final Fantasy II, as personagens evoluíam consoante a boa utilização e repetição de determinados atributos. O pouco controlo que tínhamos era desativar o que não queríamos que utilizassem para se focarem no mais importante, mas não era incomum perguntarem-nos entre missões se deviam variar ou aprender outras coisas. Se é bom termos elementos multifacetados, não convém perder o foco das melhores personagens e insistir para que continuem no mesmo caminho.

Mencionei o Final Fantasy II, mas as piscadelas a outros Final Fantasy ainda são algumas, não estivessem também a partilhar talento. E algum dele vai estar no Final Fantasy XVI!
Existe muito de Ivalice na estética deste jogo, desde os mapas às diferentes e bizarras espécies. Se franzirmos a vista, Rush e Irina lembram Vaan e Penelo, como jovens veículos e testemunhas de uma história maior do que eles. Embora, estes dois primeiros acabassem com um maior peso no final. As guildas de mercenários são de Final Fantasy Tactics.
Até Final Fantasy IX recebe algum amor quando invocam os remnant para proteger as cidades, a lembrar a aparição épica de Alexander num dos melhores momentos do jogo.
E ainda foram buscar a Donna Burke (Crystal Chronicles) para o tema final!
The Last Remnant é daqueles jogos raros que tentou… coisas!; merecia mais amor e de estar disponível em mais plataformas. Entre a banda sonora aos visuais, com excelentes coreografias, e uma história competente, peca apenas em algumas frentes e na sua acessibilidade.
Eu sei que não estou a fazer grandes favores ao tentar colocar todas estas manias e mecânicas em palavras, mas nunca vos menti e o melhor é mesmo darem uma chance se o tiverem por aí.
Já é tarde, mas antes de fechar, quero passar por outros RPG que joguei, gostei e estão presos (infelizmente) na Xbox 360 – Infinite Undiscovery, Lost Odyssey e Blue Dragon.
Não fiquei fã do último, embora lhe reconheça qualidades, e o primeiro tem uma premissa engraçada, com a libertação da Lua agrilhoada ao planeta. Se gostarem de tropes de anime e de um combate rápido e viciante, é um jogo engraçado que deve funcionar nas Series!

Agora, Lost Odyssey é o jogo que me ajudou a comprar a consola e um que deveria ser jogado por ainda mais pessoas e amantes do género. Também é por turnos e tenta coisas novas, mas o melhor é mesmo a sua história e histórias dentro de histórias que nunca se afastam da premissa: a da imortalidade.
Nunca tive paciência para coleccionar em jogos, mas assim que tropecei no primeiro conto e chorei baba e ranho, tomei como missão apanhá-los a todos. Sendo imortal, com uns mil e tal anos, Kaim tinha mais era histórias, memórias, testemunhos e lendas associadas ao seu nome. Estes contos melancólicos de Kiyoshi Shigematsu foram apenas publicados no Japão, mas localizados para o jogo por Jay Rubin, o tradutor oficial de Haruki Murakami.
Estes contos conseguem ser ainda mais ricos e de uma sensibilidade ainda mais bonita do que o jogo em si, o que é um feito. Sakaguchi não se limitou a interromper a aventura com paredes de texto, mas ofereceu-nos uma apresentação com jogos de texto, imagem e música que elevavam a melancolia de alguém que supostamente já viu tudo em todas as suas vidas. Não nos apressava a consumir os contos, mas deixava-nos com todo o tempo do mundo, embalados pela riqueza do melhor de Uematsu.
Durante anos, dizia que era o verdadeiro Final Fantasy XIII até jogar a trilogia com outros olhos (podem ler a minha experiência aqui. Não há dúvida que o mestre nunca perdeu o seu talento e é dos poucos jogos que completei quase quase a 100%, faltando um baú. UM BAÚ EM TANTAS HORAS DE JOGO, MAS ONDE?!
Quando o repetir, talvez veja disso. É só me apetecer sofrer um pouco…