Company of Heroes 3 | GLITCH REVIEW

Por: Francisco Isaac

“We shall fight on the beaches, we shall fight on the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills”

Winston Churchill, Discurso à Nação de Junho de 1940

Não é o primeiro artigo que começo com uma citação, mas para o caso em questão é uma frase histórica que realmente descreve Company of Heroes 3, da Relic Entertainement, uma experiência Real-Time Strategy, com as campanhas do Norte de África e Itália a serem o ponto de interesse deste jogo. Não há dúvidas que os jogos de estratégia, ou de Real Time Strategy (RTS), têm sofrido mudanças, evoluções e (tentativas) de revoluções nos seus sistemas de combate e de abordagem ao teatro de guerra, e Company of Heroes 3 traz uns quantos apontamentos e detalhes que podem suscitar a vontade de se atirarem a fundo nesta viagem pelos anos 40 do século XX.

Primeiro ponto nesta análise: tutorial. É friendly para quem nunca tocou num Company of Heroes? Se tiverem atenção, seguirem com exactidão as explicações e não esticarem a corda… é, ou, sejamos justos, é quase 100% amigável. Deixem-me explicar para não começarmos a apontar dedos: a minha única dificuldade no tutorial que me obrigou a ir ao YouTube, foi para perceber como fixar uma metralhadora. O jogo não foi claro nesse pormenor e, possivelmente, como não sabe que não joguei os anteriores CoH, não se alonga em grandes explicações. 10 minutos depois, e após mexer nas unidades uma e outra vez, lá consegui perceber como fixar a metralhadora e fechar a primeira fase do tutorial, passando então para a escolha de uma das duas campanhas oferecidas: Itália ou Norte de África.

Dois “mundos” diferentes dentro da mesma Grande Guerra, e que são bem introduzidos e trabalhados pela equipa que desenvolveu esta 3.ª entrada na série, apresentando um sistema interessante e, para mim, positivo ao ser ligeiramente diferente do que estou habituado. Passo a explicar: temos as missões tradicionais, que são nada mais que criação e controlo de unidades, com o inimigo a movimentar-se ao mesmo tempo, tudo consagrado num número de objectivos fixos.

Aqui temos unidades de combate desde os sapadores (responsáveis por arranjar tanques, colocar minas, arame-farpado, e fazer trincheiras), batedores, comandos, artilharia pesada, entre outras, operando sob o nosso controlo directo. De ocupar certas áreas do terreno, a entrar em edifícios, a recuperar peças de artilharia do inimigo, o cenário de guerra destas missões é positivamente interactivo e que exige toda a atenção possível.

Um descuido, ou não notar que um par de unidades foram abatidas, e podem passar de uma situação controlada para um caos completo onde o inimigo tem o vento a soprar na sua direcção. É talvez um dos elementos que mais me confundiu e apanhou desprevenido, porque o aviso da queda de um dos nossos pequenos batalhões é rápido, e passa quase despercebido, podendo desencadear uma cadeia de acontecimentos crítica e sem possibilidade de retorno.

Estas missões inicialmente podem ter um aspecto “pesado” e de um controlo algo rígido ou pouco volátil, mas a par e passo vão entrando no ritmo, criando as rotinas de observar o avanço ou recuo das unidades, de perceber como flanquear o inimigo (não é ir ao molhe e fé numa força divina qualquer, é exigido um mínimo de capacidade estratégica ao jogador) e de gerir os objectivos apresentados.

Uma das coisas que me encheu as medidas foi os detalhes e pormenores de cada mission map, com prédios, estruturas, jardins, pontes, arcos, casas, fábricas, etc, a serem bem desenvolvidas e a terem uma “vida” própria, alimentando bem a parte interactiva e dinâmica de Company of Heroes. A parte de som é largamente bem reproduzida, não sendo nem um factor disruptivo ou excitante, caindo no campo do “q.b.”.

Estas missões tradicionais estão inseridas em algo maior, num mapa interactivo que nos oferece uma série de mecânicas diferentes, como se tratasse de um jogo de tabuleiro por turnos, com o utilizador a mover uma ou outra unidade, seja naval, terrestre ou aérea, atacando torres, canhões, e cidades/vilas, sendo que aí podem surgir as missões tradicionais. Sendo que algumas são obrigatórias, e outras nem tanto, com o AI a realizar uma espécie de avaliação à força do vosso ataque e da defesa/contra-ataque do alvo, oferecendo depois um resultado na sua auto-resolução, fazendo questão de assinalar que não vão ganhar certos pontos de progressão.

Se participarem nestas missões, elas são decididas pelos pontos de acção, com cada companhia a começar nos 300, com o objectivo a ser… isso mesmo, fazer com que o adversário atinja os 0 – isso é conseguido através de conquista de sectores do terreno, destruindo unidades adversárias, solidificando a vossa presença no mapa, etc. Foi aí que encontrei a minha maior dificuldade com Company of Heroes 3, porque os pontos de confiança ganhos na minha familiarização com uma determinada personagem (depende se seguem o conselho de Personagem A ou B), ou na ida às missões tradicionais-opcionais parece que pouco serviram ou não me foram tão bem explicadas para eu perceber o seu impacto real nos meus avanços. O jogo tenta ensinar, mas não me senti clarificado e acabei por tentar não pensar muito neste factor, seguindo caminho e realizando a campanha. É mesmo como se tratasse de um jogo de tabuleiro daqueles em que tem uma série de elementos paralelos, seja perks, cartas de skills, ou pontos de progressão, exigindo aqui a concentração total que não precisam de ter para aprender a orientar-se dentro das missões propriamente ditas.

A interactividade dos mapas é, por outro lado, fascinante para quem gosta de história e RTS, olhando para o teatro de operações com toda a atenção, calculando as jogadas que temos direito dentro do nosso turno, com o jogo a dar-nos total liberdade para seguir os diversos caminhos, mas sempre nos lembrado das consequências das nossas acções. É um mundo vivo, intenso, com diversos detalhes e carregado de carisma, e que não se apresenta como um obstáculo massivo para um utilizador pouco habituado a este tipo de Real-Time Strategy, sabendo nos inserir e empurrar no sentido do crescimento.

Há detalhes que podem escapar à atenção, mas que alimentam o lore ou pelo menos conferem algo mais palpável em termos da parte humana desta 2.ª Guerra Mundial, com conversas entre certas personagens durante os avanços estratégicos (generais, comandantes, majores, que trocam galhardetes entre si), a pequenas tiradas de locutores de rádio da zona onde estão, passando pelas frases e expressões das unidades que controlamos durante as missões ou as cartas que surgem no loading screen entre missões (algumas podiam ser perfeitamente reais, perante o teor das mesmas). Numa era onde damos uma importância quase fundamental à existência de lore num jogo, a verdade é que Company of Heroes 3 alimenta o seu mundo com estes pormenores que tornam a experiência mais viva, ou, pelo menos, mais imersiva, conectando-os a um passado nada distante, apesar de por vezes o sentirmos longe.

O jogo é repetitivo? Possivelmente, mas tem o seu valor de replayability, e merece-o até porque podem jogar com as diferentes facções e ir percebendo as diferenças de um lado e do outro, aproveitando para conhecer melhor o campo de batalha da Segunda Guerra Mundial. De um ponto de vista puramente histórico, a Alemanha Nazi possuía alguns dos melhores tanques e carros de combate da época, que são retratados com esse cuidado neste Company of Heroes 3, sem atingirem aquele nível inquebrável que lhes foi reconhecido, pois tornaria-se um suplício imenso para os jogadores-casuais. A variedade de unidades desperta curiosidade e interesse, e impõe contornos ainda mais salientes ao realismo imputado pelo jogo, algo que me cativou durante as horas que dediquei.

Cada vez que parava, e atirava-me para outro jogo ou ia cumprir uma tarefa do meu dia-a-dia, via-me a pensar qual a acção a tomar… se devia ir para Nápoles ou Spinazzola, ou como deveria contra-atacar os lendários panzers sem ter perder excessivos recursos. O querer descobrir como o IA iria se comportar com as minhas decisões, e como teria de me adaptar com a reação contrária fez-me voltar ao Company of Heroes 3 de forma sistemática, sem nunca surgir aquele pensamento do cansaço ou frustração – tive de me endireitar na cadeira umas quantas vezes, especialmente quando perdi a minha concentração e comecei a sofrer demasiadas baixas em certas frentes.

Sou honesto ao dizer que não joguei nenhum dos antecessores, por isso não posso falar da parte da jogabilidade e imersão. Contudo, a nível de gráficos é facilmente constatável que a evolução é ligeira em certas sombras ou gases, denotando-se só umas curtas mexidas na luz e na movimentação das unidades, não sendo algo que tire impacto ou qualidade ao jogo, especialmente quando os antecessores já tinham atingido um patamar de qualidade alto – um tema de crescente debate entre os fãs mais acérrimos.

No global, este Company of Heroes 3 é uma experiência bastante positiva, voltando a nos apresentar a Segunda Guerra Mundial no seu esplendor (negro) máximo, com um mundo cativante e de pormenores bem trabalhados, que nos convida a explorar, estudar e aprender sem se apresentar como um obstáculo difícil de ultrapassar, encaixando um lore inteligentemente semeados, onde a reprodução realista do conceito de “Guerra” fica bem assente, fazendo-nos ficar com mais saudades de um Medal of Honor

A escala utilizada é de 1 a 10

Código cedido pela Ecoplay

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