Por: Francisco Isaac
Uma viagem… seria a forma ideal para descrever Suikoden em duas palavras, sendo uma aventura especial e desafiadora este videojogo da Konami, que irá receber (finalmente!) o autocolante de Remake com perspectiva de sair em 2023 sob o desígnio de Suikoden I & II HD Remaster: Gate Rune and Dunan Unification Wars.
Vamos lá rapidamente aos aspectos técnicos para passarmos ao que realmente interessa: por isso, Suikoden, o jogo original, foi publicado em 1995 no Japão e EUA, chegando ao sistema PAL dois anos depois. Desenvolvido pela Konami, este JRPG “nasceu” pela mão de Yoshitaka Murayama (estaria na frente da saga até ao 3.º título) que foi auxiliado pela mão criativa de Junko Kawano no que toca ao design e à alma cromática de Suikoden, com Miki Higashino a compor a secção musical. Não é claro o número de cópias vendidas, lembrando que saiu em algumas quantas plataformas, com a Playstation a receber a honra da estreia, para depois a Sega Saturn e outras consolas terem a oportunidade de apresentar ao seu público.
Ultrapassada esta pequena ficha técnica, abrem-se uma série de questões para quem não está tão familiarizado com Suikoden e as suas sequelas, muito porque na altura, em 1995/1997, caiu entre um Mundo dominado por Chrono Trigger, Final Fantasy e Secret of Mana, tendo uma boa parte do público perdido o “comboio” de um dos primeiros RPG produzidos e desenvolvidos pela Konami.
Libertando um pouco das “amarras” da escrita mais formal, porque é que Suikoden importa? Porque é que os primeiros dois jogos merecem um Remaster mais polido, depois de uma ligeira tentativa falhada durante a segunda década do século XXI? Porque é uma viagem carregada de emoção, liberdade, fascínio, dureza e descoberta não só sobre os problemas políticos, bélicos e sociais que assolam o território de Toran (local onde se passa toda a trama do 1.º jogo), mas sobre a própria alma dos protagonistas e de quem os comanda.
Imaginem-se desta forma… são filhos únicos de um dos generais mais reverenciadas do Império da Lua Escarlate, recebem a vossa primeira missão, que passa por ir cobrar impostos a uma pequena aldeia, acabando por cair no meio de uma intensa trama, despoletando, com isto, o início de uma nova era. Porém, (e há sempre um “mas” nas melhores histórias, certo?) algo mais cínico e vil se passa por detrás, ficando logo isso patente quando um dos teus primeiros companheiros revela algo trágico e, ao mesmo tempo, crítico, servindo isto como manete de mudanças para iniciarmos a nossa viagem por Toran.
Isto é tudo passado num território dividido por humanos, kobolds (cães-humanos, um dos maiores mitos do imagético humano), elfos, anões, feiticeiros, vampiros, e uma variedade de seres que preenchem toda a narrativa, apetrechando o jogo com outra “universalidade”, e que acaba por ser uma ode à história e imaginário da humanidade.
Sem querer adiantar ou aprofundar outros aspectos ligados à trama, a verdade é que Suikoden tem um início caoticamente delicioso, transitando de uma vida calma e recheada na capital de Gregminster, para uma aventura em fuga pelas diferentes aldeias, cidades, castelos, montanhas, florestas, fortalezas piratas, etc, na busca de repor a justiça e verdade.
Como rapidamente mencionei na ficha técnica, Suikoden é um RPG, onde o combate é uma das partes centrais do jogo (mas não a única, atenção), sendo jogado em turnos, com o utilizador a ter a possibilidade de escolher até um máximo de 6 companheiros para ajudá-lo na luta contra uma longa lista de adversários e inimigos que surgirão pela frente durante todo o percurso. Apesar de existirem umas mínimas mudanças em comparação com os Final Fantasy dos anos 90, o modelo assenta nos mesmos princípios do atacar (individualmente ou em associação), defender, usar runas (magia), itens, lembrando que Suikoden “nasceu” em 1995, numa altura de terreno fértil neste género de combate.
Contudo, e aqui vem uma das partes que me fez ficar ainda mais deliciado com Suikoden: existem outras duas plataformas de combate que sobem o timbre para outro patamar. O modo Guerra Aberta, ou seja, o teu exército defronta o do inimigo, com várias unidades de ataque a estarem espalhadas por um mapa, sendo importante equilibrar e articulá-las da melhor forma. E os duelos, onde o utilizador é forçado a engajar um rival, num combate de um para um, estando a vida em jogo, mas não só… (não vou contar tudo, senão isto passa de uma antevisão para um guia).
Para além disto, vão também ter a possibilidade de recrutar até 108 companheiros, com a larga maioria a podem ser incluídos na vossa party, sendo que outros vão vos oferecer uma variedade de serviços e ajudas em diferentes espectros da vossa demanda. Decididamente dá trabalho, vão ter que consultar um guia em certos casos, mas vale a pena perder tempo para ir em busca de novos amigos, mesmo que isso represente terem de confrontar uns pequenos problemas pelo caminho.
É verdade que em pleno 2023 já temos uma variedade de RPGs que efectivamente já fizeram isto tudo, e conseguiram subir para patamares ainda mais cimeiros, empurrando o génio criativo para meandros superiores. Mas, e sem querer recorrer à nostalgia infantil, quando damos uma oportunidade à trama e narrativa de Suikoden, deixando-nos levar pelas mudanças musicais ou por viajar de terra-em-terra, encontrando novos companheiros pelo caminho, com uma variedade de side-quests a surgirem pelo caminho, é impossível não sentirmos o calor desta experiência criada por Yoshitaka Murayama e querermos que seja interminável, até não o ser…
Para quem, como eu, que sempre foi um eterno apaixonado por História e o Imaginário Medieval ou Asiático, o encontrar de um Mundo onde temos toda uma pluralidade de raças e possibilidades, em que nos é pedido para ir em busca do próprio destino, desvendando passagens e caminhos, terras e cidades, Suikoden é aquilo de que podemos chamar de “casa”, uma “casa” carregada de tonalidades variedades, emotividade profunda e desafio eterno.
Neste Remaster (data de lançamento ainda por desvendar), teremos algumas alterações a nível estético e de jogabilidade, como o polimento do mapa, de uma parte do sistema de combate, ou até de melhoramentos no som, mantendo-se fiel à receita de sucesso de 1995 e 1998, sendo presenteados com as duas primeiras aventuras desta saga de videojogos.
Ah, antes que me esqueça, uma nota importante sobre Suikoden… sabiam que é baseado num dos quatro principais contos da China clássica/antiga? Verdade, Suikoden pode ser traduzido para Water Margin ou All Men Are Brothers, e conta a história de 108 foras-da-lei que se reuniam na sombra da Montanha Liang. Deverá ser das primeiras narrativas com um fundo indo-asiático da história dos videojogos, apesar de toda a sua estética ser ocidentalizada. Uma das várias curiosidades desta viagem que vocês vão embarcar!