Wanted: Dead, dás cabo de mim!

Wanted: Dead é um mau jogo, mas que podemos admirar a sua ambição. Esta afirmação nem é minha, mas do caro Canelo que também o analisou. Aproveitei-a porque as nossas experiências foram semelhantes, ou talvez ainda pior.
Wanted: Dead é um mau jogo, mas não um mau jogo que até é bom. Quando Tommy Wiseau filmou o The Room, pensou-o como um romance dramático, acabando com uma comédia nas mãos. Uma das minhas melhores experiências foi rever este filme numa sala à pinha com outros fãs a atirar colheres de plástico e bolas de rubgy insufláveis. Eventualmente, Tommy abraçou o cringe, mas os restantes trabalhos ficaram-se apenas pelo mau e esquecível. E isto para dizer que, à primeira vista, este Wanted parecia tentar replicar um certo género de jogos dos nossos passados, um género ainda com algum cringe, campiness e com bastante cheese, entre outros estrangeirismos fixes. Estou a pensar em God Hand, Vanquish, MadWorld, nos trabalhos de Suda ou do SWERY para não estar aqui a debitar, mas estes jogos tinham (e têm) algo muito próprio: ingenuidade. A necessidade aguçou o engenho, com as limitações tecnológicas e/ou financeiras da altura a puxarem de uma abordagem fora da caixa e quase original?

Goste-se ou não, tenham envelhecido bem ou não, estes jogos mantiveram o seu culto e é por isso que ainda se tenta criar jogos com espíritos semelhantes. Mas quando seguimos uma lista formulaica para criar esses jogos de propósito; ou quando tentamos criar algo tão mau para ser bom, corremos o risco de apenas criar algo mau que é só mau. Corremos o risco de ter um Wanted: Dead que claramente quis beber do passado sem entender bem o que tornou esses jogos especiais. Em vez de termos um jogo insano, bizarro, mas bastante divertido, temos um jogo frustrante, inconsistente e um sofrimento na altura de jogar. O que me dá uma grande pena porque a primeira revelação do jogo e da protagonista até que me deixaram curioso. E a curiosidade matou este gato.

Wanted: Dead abre com o nosso bando de presidiários na galhofa entre mais uma missão – uma espécie de Suicide Squad de marca branca, cujo único traço de personalidade está escrito a lápis de cera na testa de cada personagem, mas a nossa protagonista Hannah Stone leva a taça ao parecer que está a falar do fundo de um balde. Stone e os restantes membros da Zombie Unit, um esquadrão de elite em Hong Kong, são logo chamados para a primeira de muitas missões genéricas deste jogo, que nos coloca em cenários desinspirados, mas algo destrutíveis. Não teria problemas com este detalhe nem com as resmas, paletes, de inimigos esponjas se o resto fosse divertido; isto é, se o combate fosse estupidamente bom. Imaginem os jogos Musou (ou Warriors); não são o pináculo dos jogos, mas são bastante divertidos quando seguimos combo com combo contra hordas de inimigos anónimos – é vistoso, é divertido e tão gratificante. Aqui, é só frustrante.

Joguei Vanquish há uns anos e lembro-me de não ter sido bom. Se me faltava estratégia e táctica, compensava com paciência, mas quando conseguia abusar das mecânicas do jogo, sentia-me o rapazito mais fixe da minha sala. Bem, nem é preciso ir tão longe; acabei de jogar e analisar o Hi-Fi Rush e senti-me vaidoso quando conseguia jogar bem. Passar para este jogo foi como tropeçar escadas abaixo e perder qualquer sentido de orientação. Isto porque Wanted: Dead propôs-se a entregar um combate frenético que combinava mecânicas de shooter e de hack and slash, mas sem desenvolver nenhuma, com ambas a serem francamente más. Não podemos optar só por uma, se formos pelos tiros, rapidamente ficamos sem munições e o sistema de cover funciona quando quer; se formos pelo combo katana/pistola, a coisa corre ligeiramente melhor, mas somos logo inundados pelos adversários esponja. O jogo propõe-se a ser um misto de vários estilos de combate, mas falha em todas as direcções. Uma coisa admito, as animações dos finishers até que são catitas. E como o meu ilustre colega Canelo diz, e bem, assim que começamos a desbravar a árvore de habilidades, o jogo torna-se mais tolerável. Não devia ser assim, devia melhorar a experiência e permitir desenvolvermos o nosso estilo de combate, mas apenas serve de valente copo de água para engolirmos este comprimido. O que também ajuda a engolir, são os interlúdios com minijogos de karaoke ou com concursos para comer ramen. São divertidos, mas rapidamente se acabam para voltarmos à faina.

Não há muito mais para dizer – consigo entender de onde este jogo vem e as suas intenções, mas falta-lhe algo ou tem demasiados algos. Visualmente e sonoramente pobre, talvez encontrasse sucesso há algumas décadas e talvez o encontre entre um culto bem específico. E ah, sim, esqueci-me de mencionar o Devil’s Third, mas já chega de malhar em maus jogos. Ei, nem tudo pode ser vencedor, quem sabe se melhoram para a sequela? Será que tenho estofo para descobrir?

Código cedido pela Plan of Attack

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