Por: Francisco Isaac
Open your eyes…
Wake up, Link.
Assim começou a história de Link em Breath of the Wild, o último fascículo da timeline activa de The Legend of Zelda (Hyrule Warriors é aceite como Canon, mas acontece num universo de “se as coisas tivessem sido diferentes”), com o protagonista da saga a acordar de um profundo e logo sono de 100 anos para voltar a pisar o solo de uma Hyrule abandonada, parcialmente destruída e com presença diminuta de seres vivos. Link desperta para um mundo do qual não tem memórias, em que vozes distantes chamam por si, sem perceber quem são apesar de sentir, no seu âmago, que não só as conhece como possui uma ligação transcendental…
Este é o setting inicial de Breath of the Wild, um enorme open world que conquistou fãs, mas que também colheu um número de críticas saudáveis, muito por causa do seu sistema de jogo, a ausência de ligação entre personagens – Link passa a larga maior parte do tempo sozinho e longe do contacto com outros – ou mesmo da inexistência de mais ligações com outros seres ao logo de toda esta viagem.

O mundo de Hyrule de Breath of the Wild é solitário, onde a natureza ganhou força e conquistou as antigas povoações do povo de Hyrule e afins, assim como a malícia de Ganon (será mesmo dele?) manteve a sua presença em diversos locais, lutando contra a luz para amplificar o poder das trevas. O sentir do vento a soprar e a acariciar os ermos verdejantes enquanto sprintamos por uma planície, ou ver o mesmo vento a levantar e colher a areia do deserto como se tratasse de uma dança que tolda a visão do transeunte, são elementos-chave desta aventura a solo do herói por uma terra que precisa da sua ajuda, visto que aquela malícia está recuperar e a ganhar força.
O que é que tudo isto tem a ver com Tears of the Kingdom, o novo membro da família de The Legend of Zelda? Bem, a solidão e a “paz armada” vão ser substituídas por um mundo caótico em que o mal lança-se para uma nova fase, apesar de (SPOILERS, ATENÇÃO QUE VÊM AÍ SPOILERS) Link e Zelda terem posto, aparentemente, um fim a Ganon, aniquilando as duas formas monstruosas do antigo rei dos Gerudo (Calamity Ganon e Dark Beast Ganon), isto nos suspiros finais de Breath of the Wild.

Nos trailers disponibilizados a conta-gotas – Hidemaro Fujibayashi e Eiji Aonuma devem estar deliciados ao ver como esta intriga e suspense consome o seu público – é possível confirmar que Ganondorf está “vivo” e aparenta recuperar parte das suas forças, ao ponto que o lodo da malícia solta-se por fendas e fissuras, levantando o antigo Castelo de Hyrule no ar, brotando até do pico de Death Mountain, escapando-se por todo o lado, com uma influência ainda mais pesada, agressiva, nefasta e extremamente visível.
Sem sabermos qual vai ser o destino de Zelda, somos empurrados novamente numa demanda exigente em que o fenómeno metafísico parece vir a ganhar uma força total, já que nos trailers é nos mostrado a presença de um ser “divino”, com as teorias da comunidade a apontar para Hylia, deusa e protetora da luz.
É evidente que na construção da semântica e lógica Breath of the Wild, que isto se trata de uma nova fase de The Legend of Zelda, existindo uma clara tentativa de introduzir o elemento do divino com uma presença física e vista, deixando cair um véu que nem em Skyward Sword ou Ocarina of Time se desprendeu… Porém, não é só de coisas novas que a actual direcção da saga parecem querer oferecer ao público, pois há, aparentemente, o retorno de certos elementos do passado, tendo já surgido em outros jogos deste apaixonante universo. Quais? Apontamos para três, deixando um aviso importante… é tudo especulação, podendo uns terem mais força que outros.
UM CAVALGAR FAMILIAR
Primeiro elemento que saltou à vista no último trailer é o facto de Epona parece estar de retorno. Link aparece a cavalgar em duas cenas, e em ambas a sua montada é um cavalo de cor acastanhada possuindo uma crina branca, elementos reconhecidos e próprios de Epona. Nos trailers de BotW, em todos os momentos em que surgem montadas de Link, nenhuma tem as cores ou pormenores artísticos ligados à famosa companheira do protagonista. Para já é, talvez, a maior teoria de todas mas uma carregada daquele perfume nostálgico que nos leva de volta a Lon Lon Ranch, com Marlon a cantarolar aquela música quente e familiar, deixando-nos a navegar num embalo gentil e quente.

PREPARA A(S) TUA(S) ARMA(S), VÊM AÍ INOVOS OBSTÁCULOS
O segundo pormenor vai para a introdução de novos inimigos, com quatro a ganharem destaque: os ReDead, que causaram tantos pesadelos em jogos anteriores(fico com calafrios só de pensar na Tumba da Família Real de Ocarina of Time, com vários ReDead sentados numa posição vegetal à espera de soltarem aquele grito gélido), surgem novamente com aquele aspecto tenebroso e de uma alma que continua a ser torturada mesmo após a sua “morte”.
Os Kargaroc parecem ter o seu retorno, depois de uma aparição em Wind Waker, apesar de no trailer possuírem um aspecto mais reptiliano… então como posso aferir que se tratam Kargaroc? Porque transportam Bokoblins nas suas garras, um elemento comumente conhecido desse inimigo. Existe também a possibilidade de serem uma nova mutação de Keese, sendo cópia da sua forma de Twilight Princess, talvez por influência da malícia. Importante ver, que também podemos estar na presença de um novo minion das hordas de Ganondorf, seguindo a lógica dos Pebblit, Guardians ou Yiga, seres estreados em BotW.
Os Bokoblins parecem ter ganho uma espécie de xamã ou líder, com uma figura similar a estes divertidos mas perigosos inimigos de Link a surgir no último trailer, sendo mais alto, redondo e possuidor de uma trompete, ou elemento que estimula os mini bokoblins em seu redor, impondo um quê de respeito maior…
Por fim, um super retorno que não se via desde o Phantom Hourglass, mas que teve a sua maior expressão no primeiro jogo de The Legend of Zelda: o infâme dragão de três cabeças, Gleeok. No trailer é possível vislumbrá-lo logo nos momentos iniciais, estando parado no meio de uma ponte, podendo ser um dos novos bosses aleatórios, a exemplo dos Lynell, Hinox e afins. Gleeok é outra dose (ou várias, contando as três cabeças), e uma dose carregada de nostalgia!

O QUE É O TEMPO?
Como terceiro factor, trago algo que poderá levantar a sobrancelha e causar estranheza, ou até impelir a que me cataloguem como um louco sem noção ou nexo, mas aqui me lanço. Link vai poder mexer com o tempo. Isto é, em certos momentos, locais e interagindo com uns quantos elementos, vamos poder viajar numa linha temporal curta, refazendo passos ou reconstruindo coisas que já não existem, edificando “pontes” pelo qual podemos desbloquear e resolver segredos, caminhos e problemas.
Se no 2º trailer de Tears of the Kingdom já tínhamos visto algo propício a essa ideia, agora notamos que certos objectos parecem estar a se mexer em sentido contrário, como se tratassem de uma VHS a ser habilmente rebobinada.
Este novo mecanismo pode advir do braço protésico que Link irá adquirir, oferecendo uma nova capacidade ao herói, existindo desta forma um encaixe narrativo para tal necessidade: nos trailers é possível ver que o detentor da Master Sword está com o seu braço e ombro direito tomado por algo, expondo um tom acinzentado e enfermo nessa secção corporal, como se a malícia tivesse contaminado não só a si mesmo, como também à espada que bane todo o mal.
O interagir com o tempo é um elemento que já foi introduzido ou tentado em outros jogos desta apaixonante saga, mas nesta ocasião poderá ganhar proporções mais grandiosas. Veja-se que em Ocarina of Time, a intenção era que Link pudesse interagir com o futuro/passado através dos blocos azuis que aparecem ou desaparecem quando tocamos a Song of Time, mas a ideia acabou por ficar no seu estágio inicial e nunca cumpriu um desenvolvimento de maior calibre.

Efectivamente, o tema do “passado” está exposto em tudo o que apareceu até agora do Tears of the Kingdom, seja pelas ilhas aéreas que flutam por cima de Hyrule invisiveis ao olho do nu de quem está ao nível do solo, pelos murais onde o conto de Zelda, Hylia e Link está “relatado”, ou pelo facto de elementos arquitectónicos dos Zonai surgirem mais em peso, tanto na terra como nos céus, estnado tudo entrelaçado como o logotipo desta nova aventura da eterna saga da Nintendo.
O tempo que Link e Zelda não tiveram antes do Cataclisma e nos subsequentes 100 anos, e que parece agora escassear rapidamente ao ponto de talvez não terem capacidade para colocar um travão no plano-mestre de Ganondorf (a própria Zelda, num lamento amargurante, admite que Link pode não ser capaz de parar o seu inimigo do destino desta vez), pode vir a ser o milagre pelo qual os heróis desta Hyrule vão conseguir recuperar o seu futuro.
Existem outras features que serão introduzidas como a construção buggies, aeroplanos, balões de ar quente, com Link a mergulhar na tecnologia do passado (mas superior à actual), criando mil e uma possibilidades e oportunidades de progressão entre os céus, planícies, montanhas, grutas (parece que os Bokoblin andaram a esgravatar buracos e frinchas nas “ossadas” da terra… terão eles delved too greedily and too deep?), mares, lagos e toda a geografia que compõem o ramalhete desta Hyrule.
Mais novidades surgirão pelo caminho, mas efectivamente a sequela de Breath of the Wild vem para virar o mundo do avesso, forçando-nos a adaptar às novas circunstâncias, encarando a malícia e poder de Ganondorf como nunca antes, pedindo um sacríficio ainda maior a Zelda e Link do que estes poderão ter alguma vez pensado. Será este o fim de um ciclo interminável? Ou “estes” Zelda, Link e Ganondorf estarão perpetuamente ligados, independentemente das vitórias (temporárias) de cada um dos lados?
Não podendo vos ofertar uma resposta, a grande certeza que fica é a data de lançamento de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom. 12 de Maio de 2023, fechando com aquilo que poderão as cinco palavras mais importantes desta nova entrada na saga…
Please, lend him your power.
Conseguiremos nós oferecer a nossa convicção e persistência a Link?