Fire Emblem Engage | GLITCH REVIEW

Pessoal, tenho de ser honesto: quando anunciaram o jogo, torci o nariz à protagonista e aos memes da cabeleira Colgate; e a mecânica dos anéis invocarem heróis de outros jogos parecia-me fan service preguiçoso só para terem mais um jogo cá fora até termos O Fire Emblem principal. Vai daí, não prestei muita atenção ao desenvolvimento deste jogo. Sabia que o iria jogar porque adoro a série, mas que não seria uma urgência. Até que o recebemos para análise na sede do GLITCH Effect.

Há algo que adoro muito nesta vida para além de um bom bitoque – que é estar enganado. E eu estava bem enganado quanto a este Engage. Vá, continuo a não ser fã das cores da protagonista e de alguns detalhes, mas do resto? Caramba, arrisco a dizer que é um dos melhores Fire Emblem que já joguei. A história está mais focada e cuidada; a ideia dos anéis até que é interessante; a jogabilidade recupera velhas mecânicas e afasta a gordura social das prequelas; a arte de Mika Pikazo é absolutamente bela e, num todo, o jogo é viciante e divertido!

Esta nova aventura decorre no continente de Elyos e abre um pouco como o Awakening, com a derrota do vilão às mãos de Alear, a nossa protagonista, e de Marth, o espectro invocado de um dos doze anéis Emblem. Por ter sido ferida, Alear é colocada num sono milenar para despertar com a nova chegada do Fell Dragon Sombron. Entretanto, muita água correu por Elyos e os vários reinos vêem-se agora a braços com esta antiga ameaça de Corrupted. Para assegurarem alguma esperança, Alear, e a sua comitiva de guerreiros em expansão, visita as várias casas reais para recuperar e despertar os lendários anéis Emblem.
É quase como uma peregrinação com algumas paragens e distracções ao longo de 26 capítulos + paralogues, ou capítulos secundários. Aqui, admito alguns problemas de ritmo porque a história tem um crescendo até meio do jogo com momentos épicos e dramáticos, e depois decide repetir a primeira parte. Não é assim tão mau porque a perda de progresso é contextualizada e equiparada com a perda de progresso do próprio bando, mas se Engage podia ter menos capítulos? Sem dúvida.

Ao mesmo tempo, é um mal que veio por bem. Ou um bem que veio por mal, por só termos um percurso narrativo e componentes sociais mais light e opcionais, se assim o decidirem. Já não temos uma escola enorme com imenso para fazer e socializar, o que pesava na decisão de repetir Three Houses para completar tudo, mas Somniel, uma ilha flutuante no reino de Lythos. Foi nesta ilha encantada e protegida, que Alear dormiu durante mil anos, com apenas algumas gerações reais a terem o privilégio de lá entrarem. Agora, é a hub principal que vai abrindo as portas a todos os que quiserem acompanhar a Divine Dragon na sua demanda, desde guerreiros, lojistas aos muitos animais que vamos recuperando dos campos de batalha… Ah, sim, podemos passear pelos cenários após cada combate para falar com parceiros, procurar itens perdidos ou… adoptar vários tipos de animais domésticos ou de campo órfãos. Ainda estou na dúvida, se é uma ideia genial ou macabra. De qualquer forma, a minha Somniel está cheia de gatos.

Se optarmos por socializar, podemos investir e desenvolver relações com os nossos irmãos de armas que se traduzem numa melhor prestação em combate. E não é só a falar, podemos partilhar refeições ou incentivá-los a treinar em combates pessoais e automáticos que têm tanto de renhido como de cómico, ao ver o jogo a colocar bestas contra personagens nada do seu tamanho.
Também é vital investir tempo com os vários Emblem, seja a polir os anéis ou a participar em duelos amigáveis. Uma utilização repetida também contribui para uma relação mais íntima e prolífera. De resto, se optarmos por passar tempo em Sonmiel, vamos descobrir outras actividades e segredos engraçados que dão mais cor a esta aventura. A alternativa é ir avançando de capítulo em capítulo sem paragens. E é bom que exista essa abertura para quem só quer o combate puro e duro.

E também é muito por isso que jogo Fire Emblem. Posso não ser o melhor estratega, aquela pessoa que opta pelo modo mais fácil e por manter as personagens vivas (sim, podem ser como eu ou old school), mas nunca deixei de me divertir a combater em Fire Emblem. Começar com noviços e acompanhá-los enquanto se tornam autênticos bisarmas, a limparem hordas de muitos contra poucos será sempre gratificante, especialmente neste estilo anime que muitos criticam, mas que continuo a adorar e que em Engage está melhor do que nunca.
Temos algumas novidades no combate, como o regresso do triângulo de ataque que esteve ausente na prequela, que confere vantagens e desvantagens em duelos entre armas específicas – espadas > machados; machados > lanças; e lanças > espadas e a introdução de ataques corpo a corpo com vantagem sobre magia, arcos e adagas. Por vezes, um atacante com vantagem poderá quebrar a postura do adversário, impedindo contra-ataques. Excluindo bastões e varinhas, as armas não têm uma utilização limitada.
Depois, a cruz deste jogo: os anéis. Existem doze anéis lendários (+ DLC), que invocam personagens icónicas da serie Fire Emblem, e um ror de anéis secundários que prestam homenagem a tantas outras e que conferem alguns benefícios úteis. Os primeiros podem ser utilizados por qualquer combatente com melhorias de atributos e acesso a algumas habilidades especiais; habilidades que eventualmente podem ser aprendidas e equipadas com ou sem anéis. Um pouco como em Final Fantasy IX, ao extrairmos habilidades de acessórios.
À medida que o combate se prolonga, ganhamos acesso à segunda fase dos anéis lendários, ao modo Engage, que funde o herói real com o espectro invocado. E tudo muda, desde o visual aos poderes da personagem, com acesso a outras habilidades incríveis que apenas duram uns bons e poderosos três turnos.

Se repito que o jogo é divertido, também se deve ao facto de respeitar o meu tempo. Fire Emblem, e este Engage, respeita o meu tempo e eu odeio perder muito dele. Não sou mesmo fã de passar o meu turno e ficar minutos a ver o inimigo a arrastar mais de dez unidades até chegar a minha vez. Não só continua a ser possível saltar o turno do oponente, como também continua a ser possível saltar o nosso. Basta recorrer às várias estratégias automáticas e já está. Esta funcionalidade é-me especialmente útil quando tenho de me arrastar de uma ponta do cenário à outra. E o bom disto tudo é que é facultativo; ou opcional; ou apenas utilizam se bem entenderem. Fire Emblem será sempre pela liberdade de escolha; ou optam por infernizar a vossa existência ou passar um bom bocado para nos encontrarmos bem a meio e concordar que a série é fantástica.

A minha bajulação a esta entrada é a minha redenção; a admissão de mea culpa quando franzia o nariz aos visuais do jogo que agora são o meu detalhe favorito. O estilo individual de Mika Pikazo com paletas coloridas ricas e vivas é a inovação natural e necessária da série e o par perfeito dos ecrãs das OLED. Não falo apenas de um modo geral, mas a nível do design de cada uma das personagens que vão acabar por nos apelar de maneira diferente, acompanhando-os até ao final do épico. E ainda são muitas personagens porque o jogo conta que morram pelo caminho, seus monstros! E o que dizer das várias sequencias animadas? Acho que ainda não vi melhor na Switch!
Se os olhos saboreiam, o mesmo não posso dizer dos ouvidos com uma banda sonora que vai do esquecível ao irritante, e aqui incluo o tema inicial que me obriga a martelar os botões para saltar a introdução de tão atroz que é. Salvam-se pouquíssimos temas e algumas misturas de músicas saudosistas de jogos anteriores.

Em suma, Fire Emblem Engage é outra aposta vencedora e uma bonita celebração do melhor desta série. Com um cuidado e respeito pela comunidade como não se vê noutros jogos de bandeira da Nintendo. Pegou no melhor das prequelas e trabalhou no pior, conseguindo ainda inovar com a mecânica dos anéis que me remeteu para outro favorito, o Tokyo Mirage Sessions #FE Encore. Um sonho febril que pede uma sequela com estas ideias e ainda mais fan service. Sim, o mesmo fan service de que me queixava no primeiro parágrafo, mas que agora o acho mais do que justo e bonito.

A escala utilizada é de 1 a 10

Código cedido pela Nintendo Portugal.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.