Xenoblade Chronicles 3 | GLITCH REVIEW

Pode ter demorado, mas quis terminar este Xenoblade Chronicles 3 (XC3) antes de escrever qualquer comentário. Para muitos, até poderá ser o melhor jogo do ano surpreendentemente antecipado, mas para mim nem é o melhor jogo do mês que só beneficiaria de mais meses no forno.

Começamos com uma introdução profunda: o que fariam se tivessem apenas dez anos de vida? Como decidiam a passá-los? A criar, a amar, a desfrutar dos pequenos e dos grandes momentos da vida para partir sem arrependimentos? Esta é a premissa da terceira sequela da Monolith Soft. Admito que não é muito tempo e também admito que não acompanhei o marketing deste jogo porque Xenoblade é sinónimo de compra para mim, daí só ter visto um ou dois trailers, mas uma citação chamou-me à atenção e é algo assim:

— Vivemos para combater e combatemos para viver

Ainda pensei que fosse uma má tradução ou um daqueles chavões dos JRPG, mas rapidamente clicou nos momentos iniciais da introdução quando XC3 abriu num dos muitos campos de batalha espalhados por Aionios, onde duas facções, Keves e Agnus, combatiam por mais tempo de vida. Estas pessoas nascem, crescem, treinam, combatem e morrem para alimentar as chamas que dão vida às respectivas colónias. Se estas se extinguirem, será o fim de cada indivíduo. E se tiverem a sorte de sobreviver aos dez anos de conflitos, morrem na mesma para regressar à rainha progenitora. Não há como vencer neste mundo e neste contexto narrativo. E estava preparado para uma história pesada, emotiva e de puxar à lágrima, mas o que tive foi uma história desapontante, sem coragem para agir sobre os temas propostos e que, se esmiuçada, não faz muito sentido.
Gostaria de entrar em mais detalhes, mas isso seria estragar ou influenciar a experiência a quem não jogou, até porque isto é meramente pessoal. Eu é que não soube gerir as expectativas e estava preparado para uma violência emocional, mesmo o infame capítulo cinco deixou-me indiferente quando o primeiro Xenoblade fez algo semelhante e melhor. No campo dos vilões, salvo algumas excepções e um tema musical épico, muitos dos antagonistas (do alfabeto) estavam relegados para a comédia e nem o vilão finalíssimo se safou deste chorrilho de nonsense.
Fiquei com a impressão de que este jogo tentou recriar a mesma estrutura de peregrinação do primeiro jogo, mas sem o peso ou a motivação emocional. Houve partes que me pareceram apressadas com demasiada exposição, enquanto não se passava nada noutras. Com sete capítulos, XC3 consegue ser tão curto ou longo como quiserem. O que nos leva ao parágrafo seguinte.

Onde XC3 se safou lindamente foi na construção e desenvolvimento de Aionios; nos momentos mais pessoais e íntimos da narrativa. O elenco era absolutamente memorável e, mesmo no cliché de aproximar elementos de facções adversárias, foi fantástico acompanhar o seu crescimento e o quebrar de moldes e tropes que cada personagem representava.
Para mim, Noah, Mio, Sena, Eunie, Taion e Lanz rivalizam com as personagens do Xenoblade Chronicles original. Não só pela sua epicidade, mas também pelas suas vulnerabilidades, defeitos, qualidades e o quão reais conseguem ser num contexto surreal. Não demora até termos favoritos e a sofrer por antecipação com os seus destinos, apesar da falta de ousadia geral da narrativa. A sinergia deste bando era simplesmente deliciosa e apesar de batido, foi bom ver como estes rivais partilhavam das mesmas mentalidades e ignorâncias face a conceitos tão simples, como amor ou… uma metrópole. Não há espaço para muito mais quando o único propósito é combater e morrer.

Foram precisos três jogos para melhorarem as missões secundárias, mas caramba se não o fizeram porque se tenho 100 horas, ou perto, foi porque quis explorar ao máximo. Em parte, o “entulho” das fetch quests estava separado num sistema inteligente de Collectopaedia que dava para “ir completando” ao longo do jogo sem obrigação e várias vezes para ganhar recompensas e pontos de afinidade extra.
Depois, porque acabaram com a mecânica de gacha horrível do segundo jogo para recrutar personagens, substituindo-a por missões orgânicas e imersivas que expandiam o elenco com novos heróis e mais conteúdo separado em missões Hero e Ascension. E estas missões salvaram-me o jogo por estarem mais focadas nos indivíduos e dilemas, e não no MacGuffin final. Era daqui que vinha a minha motivação para explorar o mundo e conhecer as duas facções tão diferentes, mas tão semelhantes quando se despiam de preconceitos – gostei muito do estilo tradicional dos Agnusians em contraste a um mais futurista de Keves. Mas Xenoblade vence-me sempre nesta combinação estilos ou géneros de Ciência Fantástica (ou Fantasia Científica?).

É possível terminar o jogo sem recrutar muitas destas personagens adicionais, mas acreditem que vale mesmo a pena porque o melhor não está na linearidade da história principal, mas nestes desvios que se cruzam com outros heróis e colónias opcionais. E vão saborear muito mais deste mundo se seguirem o que vos digo – e porque nem tudo é sobre a guerra, a vida e a morte, estas missões acabam por se focar noutros detalhes igualmente importantes, como a necessidade de criar arte, brincar, amar ou cultivar batatas (vão por mim….). Como os opostos rapidamente se atraem sem a urgência belicosa e como também rapidamente se adaptam e criam laços emocionais, comerciais e formativos. Até a personagem mais secundária brilhava nestas missões e sempre que terminava uma e dizia que ia acabar o jogo, lá me pediam ajuda com outro problema e lá ia eu.

Apesar dos meus problemas com a história, Xenoblade Chronicles 3 continua a ser um jogo com um combate divertido e viciante. Já li asneiras que estamos para ali parados enquanto a personagem ataca sozinha, com a ocasional interacção para a habilidade X, Y, Z, mas não podiam estar mais longe da verdade. O combate dos Xenoblade é dos melhores que já tive o prazer de experimentar, e isto dito por um nabo completo em jogos de acção. A personagem até pode atacar automaticamente, mas revolve tudo à volta de uma boa estratégia, desde o posicionamento do atacante às habilidades equipadas e quando as desencadear. Não podemos simplesmente spammar os botões e esperar tirar o máximo de dano, há que ter em conta a respetiva eficácia e se é melhor atacar a traseira ou os flancos. Depois, há que também ter em conta os tempos e saber que há golpes que funcionam melhor em sequência para incapacitar o adversário. Uma excelente estratégia e planeamento permite a uma equipa básica derrotar inimigos vastamente superiores.
Tenho a perfeita noção de que estou apenas a raspar na superfície desde icebergue de mecânicas, mas XC3 é um jogo com camadas que, desta vez, não me fizeram ir à Internet para aprender a jogar (olá, XC2) porque não só estas mecânicas são introduzidas de forma gradual, dando tempo para entranhar, como o jogo inclui guias extensos e acessíveis para novatos e veteranos. Até o mapa e orientação estão mais acessíveis!, uma das minhas queixas da prequela.

Ainda nestas mecânicas, inclui-se um sistema de classes (ou Jobs) que podemos alternar pelas várias personagens e aprimorar um estilo de jogo mais personalizado – ora focado na ofensiva rápida; na defesa ou que permita explorar as vulnerabilidades dos adversários. Se as coisas derem para o torto, podem fundir os protagonistas em Ouroboros, poderosos colossos capazes de virar o rumo da batalha. Para rematar, não podiam faltar os vistosos ataques especiais que limpam praticamente tudo. Apenas achei-os um nada inferiores e estáticos face aos do XB2 no que diziam respeito à interacção.
Okay, apesar dos muitos detalhes positivos, o jogo também consegue ser caótico com seis personagens (mais um convidado) no ecrã. É demasiada informação numa HUD confusa que só piora em modo portátil.

E isto leva-nos a outra discussão: ao desempenho deste jogo na Nintendo Switch que podia ser melhor. Sim, as longas e belas sequências enchem o olho, mas o resto do jogo oscila entre animações rígidas e datadas, visuais desfocados em modo portátil e uma velocidade francamente lenta para o tipo de jogo, sem contar com as quebras de frames nos momentos mais caóticos ou as vezes em que o jogo bloqueava. As cores e os efeitos nas sequências pré-renderizadas são um mimo num ecrã de uma OLED, mas o resto do jogo acaba por ser baço e desinspirado, o que é uma lástima porque os mundos de Xenoblade estão repletos de cores e detalhes e que mereciam mais do que uma Nintendo Switch actual. Sim, a nossa consola favorita já carece de uma revisão que faça jus a estes jogos mais exigentes.

A coisa não melhora no campo sonoro. Tirando alguns temas orelhudos e as melodias melancólicas e fúnebres das tradicionais flautas shinobue, o resto era bastante esquecível e dava por mim a pensar que nenhuma outra banda sonora da série suplantou a do primeiro jogo ou a de Xenoblade Chronicles X que só peca por estar preso na Wii U.
A mistura de som arreliava quando abafava os diálogos e quando as personagens repetiam as mesmas deixas após as batalhas uma e outra vez, juro que procurei pela opção para desligar os comentários. Ainda se queixam do Forspoken, mas ouvir girl with a gall, meatier e MVP umas dezenas de vezes em cinco minutos é de bradar aos céus. Mas muda os diálogos para japonês e já não incomoda, diziam. Nunca! Xenoblade Chronicles é para ser jogado com as vozes inglesas que novamente são de uma riqueza indescritível e prefiro arrancar cabelos a ouvir os mesmos diálogos em combate para ouvir a Eunie a barafustar com sotaque. E um tirar do chapéu à equipa de localização pela belíssima adaptação e naturalidade dos termos daquele mundo.

Tive outros problemas pessoais com o jogo que podem ser considerados de problemas de primeiro mundo, como o facto de existirem dois acessos aos mapas e um deles não retroceder para o mapa geral. Muitas vezes tive de usar o gráfico de afinidade para saber onde raio tinha de ir… Ou o facto de termos de ouvir os diálogos completos dos NPC para aceitar missões secundárias, para irmos debater a informação num ponto de Save, para voltar a falar com a personagem de interesse. É basicamente uma reunião que podia ser um e-mail ou um premir de botão e, sim, eu sei que é para aprofundar a imersão. Ou missões que apenas aparecem quando selecionamos uma dada personagem, num dado local, ou após dada acção. Isto não é um Souls nem tenho de recorrer a um guia para saber quando posso avançar com certas missões.
E porque não podemos correr mais rápido? Gabam-se da enormidade do mundo, mas quando corremos a passo de caracol, a vontade vai-se logo. Nove em dez membros do estúdio odeiam este segredo que vos vai fazer perder a cabeça, mas para dar corda aos sapatos, seleccionem um inimigo, esperem que vos persiga e já conseguem acelerar. E volto a ter saudades de como podíamos atravessar o mapa de XCX numa Skell, a voar ao som de um coro de Hiroyuki Sawano.

Já toparam num padrão, mas quanto mais jogava a terceira sequela, mais saudades tinha da diversidade de espécies, fauna, flora e cenários do X. Gostei deste jogo e diverti-me, mas não se tornou no meu favorito e da mesma maneira que a expansão Torna – The Golden Country melhorou o segundo Xenoblade, também torço por uma redenção.
Ah, e se lacrimejei nos momentos finais foi porque me afeiçoei demasiado àquelas personagens. Vendo bem, nem tudo foi mau.

A escala utilizada é de 1 a 10

Código cedido pela Nintendo Portugal.

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