Voltemos um pouco atrás, até ao início de 2016. Custa a acreditar que já passaram cinco anos, mas é difícil esquecer alguns acontecimentos da nossa vida. Permitam-me esta pequena viagem pessoal. Em 2015, caiu-me no colo uma oportunidade de ouro, um emprego que julgava ser de sonho, uma chance que, face ao meu percurso profissional, parecia ser impossível ou, no mínimo, improvável. O destino parecia estar traçado e, no início de 2016, o emprego dissipou-se, levando consigo o seu excelente historial na indústria dos videojogos. Fim do sonho! Pimba!
Foi assim que comecei 2016, com uma mudança repentina de vida. Decidi aproveitar esta quebra na rotina e libertar-me das inúmeras horas que fiz ao longo de doze meses. Queria redirecionar-me e foi delicioso. Pude regressar aos filmes, à música e aos videojogos que me haviam escapado durante os doze meses de trabalho intenso. Foi neste interregno que descobri Music in Twelve Parts, de Philip Glass, uma obra-prima do minimalismo musical, mas também Everybody’s Gone to the Rapture, da Chinese Room. Nunca fui apreciador dos intitulados “walking simulators”, mas Everybody’s Gone to the Rapture foi tão divisório que não consegui esconder a curiosidade. Não resisti e comprei o jogo. Ainda hoje é um dos meus títulos favoritos deste género muito restrito — e algo moribundo atualmente —, de uma calma assustadora, como um longo passeio pelo vazio da existência. O mistério é eficaz, apesar de concordar que o jogo exige demasiado da nossa paciência, mas conquistou-me. A surpresa foi tão inesperada que me vi a terminar a campanha duas vezes e a registar a minha viagem através de fotografias às várias zonas do jogo.
A minha intenção era criar uma fotogaleria para partilhar no GLITCH, mas parece que perdi a vontade de o fazer durante o processo. Recordo-me de escrever um texto sobre o jogo, e até de utilizar algumas das minhas fotografias para o ilustrar, mas a galeria, como podem presumir, nunca se materializou. O que é muito estranho para mim, pois lembro-me de gostar da sequência que criei e sentir-me cativado pela aldeia de Yaughton. Foi, acima de tudo, terapêutico para uma época de mudança. Um elixir criativo que me abanou desde os alicerces. Para terem noção, nunca fui adepto de fotografia nos videojogos, deixo esse cargo para o David, mas o jogo da Chinese Room cativou-me de tal maneira que tentei a minha sorte. Foi a primeira vez que tirei uma fotografia dentro de um videojogo.
Passaram cinco anos desde que joguei Everybody’s Gone to the Rapture e acabo de descobrir a galeria completa no meu portátil antigo. Já não me recordo se existia uma ordem específica, mas penso que a intenção seria dividir tudo por zonas e acompanhar as fotografias com pequenas descrições da minha experiência com o jogo face à sua narrativa. Como não gosto de deixar os projetos inacabados, vou aproveitar esta surpresa para finalmente terminar esta ideia com cinco anos de existência e deixar uma ode ao passado e ao poder dos videojogos e das artes. Ainda não é Ano Novo, mas xim-xim. Brindemos!
Yaughton










Tipworth Forest











Appleton Farm











Lakeside Holiday Camp





Little Tipworth














Observatory







