No início de 2021, tive uma ideia. Não sei precisar quando foi, mas se tivesse de apostar — e se me apontassem uma pistola à cabeça —, diria que foi depois do lançamento do meu texto, A Problemática da Crítica, onde professei a minha esperança e confiança nas novas vozes críticas que surgiram na nossa área durante os últimos cinco ou seis anos. Essa crença levou-me a explorar uma ideia, um conceito e, por fim, um projeto, que me trouxe até aqui, meses depois, cansado mas igualmente satisfeito por ter arriscado e dado o passo em frente.
A ideia era simples: juntar as várias vozes da nossa comunidade numa única edição que serviria para demonstrar ao público e aos fãs de videojogos que Portugal está munido de publicações, críticas e jornalísticas, que devem ser reconhecidas e acompanhadas. Quis criar uma montra, um novo projeto anual, que serviria uma área que pouco ou nada é respeitada, às vezes até desconhecida e desvalorizada por nós que a protagonizamos. E essa ideia trouxe-me aqui.
Foi um processo longo, de vários meses, de um para e arranca que não precisam de conhecer do princípio ao fim. Não foi fácil, não o escondo, mas sinto que a ideia irá viver além deste esforço que eu, o David e a Vanessa fizemos em 2021. A ambição é e será sempre uma espada de dois gumes e foi ela que me trouxe aqui, juntamente com a tal “ideia”. E se deveria ter começado por um projeto mais pequeno, de escala reduzida, saltei logo para o final e concebi este livro híbrido como uma colaboração total entre todos os sites. O conceito manteve-se imutável do princípio ao fim e levou-me a contactar os sites, críticos e jornalistas, que consegui e a pedir-lhes que participassem com um texto à sua escolha. E foi isso que aconteceu.
Este projeto tem 249 páginas. É um colosso. No entanto, é exatamente a montra que concebi desde o primeiro dia, sem filtros ou regras demasiado rigorosas que poderiam prejudicar quem quisesse participar. A escolha dos textos partiu de uma seleção metodológica de colaboração mútua. Não era suposto existir uma curadoria, um número limite de páginas, de análises para um determinado jogo ou na forma como cada um abordaria os temas associados à área dos videojogos. Não existiram limites. Penso que esta vontade em remar contra a maré, em fazer sem ter medo de falhar sempre fizeram parte do ADN do GLITCH EFFECT desde a sua conceção em 2015 e, se puder ser um pouco vaidoso a meio de um texto que nem deveria ser assim tão longo, acredito que este projeto de crítica e jornalismo é possivelmente uma das coisas mais Glitcheanas que já fizemos nestes seis anos.
Este projeto é tudo; só faltou quem não quis participar ou quem não consegui contactar — e a estes últimos, as minhas sinceras desculpas. Este projeto sobrecarregou-nos e ao fim de tantos meses de trabalho, não consigo avaliar se sinto orgulho no trabalho que fizemos, mas continuo a adorar a ideia e o seu objetivo tal como a adorei quando me apareceu inocentemente na mente. Creio que, até agora, não existiu um projeto semelhante na nossa área, dedicado apenas aos críticos e jornalistas de videojogos portugueses. Caso tenha existido, que este acrescente novidade ao que já se fixou. A minha vontade é revisitar esta ideia todos os anos, mas alterá-la ligeiramente, abrandar na escala e ser mais realista. Mas esta ideia, esta que está agora à solta pela internet, já não é só minha: é de todos. Não queremos ser os únicos a fazer este tipo de colaborações e a ter orgulho na área cuja camisa vestimos diariamente. Não é suposto sermos os únicos, apenas (talvez) os primeiros. Se formos os únicos, sinto, pessoalmente, que perdemos e que a ideia caiu em ouvidos moucos. Desculpem a pressão, mas é o que está em causa. É pressão, mas também um desafio para continuarem este primeiro passo.
Estou aliviado por chegarmos ao final desta aventura. Só aqueles que passam meses, anos e décadas com um projeto conhecem o sentimento. É uma satisfação, alívio e um querer continuar em frente: tudo no mesmo bolo. Neste momento, a missão deste livro híbrido está concluída: a minha continuará com outros e novos projetos. Mas este está feito, finito, e o botão de “publicar” brilha como uma estrela no meio do deserto.
Não posso terminar este texto sem agradecimentos, e não posso começar esta onda de agradecimentos sem destacar os meus colegas de trabalho. Obrigado, David e Vanessa, não só por me ajudarem, mas também por não fugirem quando insisti que a escala do projeto nunca mudaria. Obrigado pelos vossos dons em design e por me terem ajudado a chegar ao formato final deste projeto — a nossa viagem poderia dar um excelente e divertido post-mortem.
Quero também agradecer ao Duarte, que continua a fazer parte da equipa, mesmo que à distância, e ao André, que me aconselhou sobre a publicação do ebook nas redes sociais. Aproveito para agradecer ao Filipe Santos, que ilustrou a capa principal, a paciência e a prontidão com que se debruçou sobre o projeto, especialmente durante a revisão da ideia original e na busca pela ilustração que agora dá cara ao projeto.
É absolutamente necessário agradecer ao grande e incontornável Jorge Vieira, uma das pessoas mais simpáticas da nossa área e que não pensou duas vezes na hora de aceitar o desafio de escrever o excelente prefácio que poderão ler na edição. O Jorge foi um dos primeiros profissionais da área que conheci, ainda na Revista Pushstart e acabado de sair do meu estágio na BGamer, e que me tratou sempre pelo primeiro nome, não por “tu”, nem por “aquele” ou o “outro”, mas sim por João.
Quero também agradecer a todos os meus colegas e comparsas que aceitaram participar neste desafio e que tiveram a maior paciência do mundo por esperarem esta versão final. Sem vocês, esta edição não existiria. Eu sei que é um cliché dizer este tipo de coisas nos agradecimentos, mas seria literalmente impossível, a não ser que quisessem uma edição com 250 páginas em branco. Esta edição é para vocês.
E a nível pessoal, quero agradecer à Sofia. Tal como lhe agradeço todos os projetos que faço, sejam escritos, filmados, musicados ou apenas pensados, seria impossível não fazer o mesmo aqui. Agradeço e agradeço muito.
Chegámos ao fim. Está feito. Que este projeto consiga, acima de tudo, inspirar-vos a fazer mais e melhor. Há muito por fazer e melhorar. O primeiro passo está dado. O próximo será nosso ou vosso, não interessa. Uma garantia posso-vos dar: eu estarei lá para ver e apoiar. Celebremos a nossa área, os nossos colegas e a crítica no geral. Feito!