Em 2020, proferi o meu amor pela série WarioWare. Um amor estranho, nem sempre recíproco, mas sincero. Há doze meses, a franquia permanecia desaparecida desde 2018, após um lançamento pouco entusiasmante na Nintendo 3DS, e nada se sabia sobre o seu futuro. Com o sucesso da Nintendo Switch e com o seu modelo híbrido, a atual consola parecia ser a casa perfeita para Wario e os seus minijogos surreais e absurdos, mas o silêncio era ensurdecedor. O potencial estava lá, desde o HD Rumble ao ecrã tátil da plataforma híbrida, mas faltava Wario. Um ano depois e Get It Together! é anunciado. Não quero soar profético, mas as boas ideias partilham-se e o regresso de WarioWare era uma aposta segura. Tão segura que a Nintendo decidiu mexer na sua jogabilidade, complicar o que devia ser simples e criar uma experiência nem sempre sólida. Mais um dedo na pata do macaco que se baixou.

A fórmula WarioWare não precisava, na minha opinião, de mudanças acentuadas ou da implementação de novas mecânicas para justificar uma sequela. A estrutura simples e focada na sucessão de minijogos rápidos, muitos deles absurdos e cómicos, conseguiu alimentar esta vertente mais casual, de party game, ao dar aos jogadores uma variedade não de modos, mas sim de situações humorísticas através da rapidez e destreza das suas partidas. O foco sempre esteve, e assim permanece, na melhor pontuação, no término de cada nível sem perdermos uma vida e na descoberta de novos minijogos através de uma campanha curta, mas assente na repetição. Compreendo que seria difícil justificar o regresso a WarioWare sem a implementação de algumas novidades, visto que cada sequela adicionou novos elementos à fórmula, mas sinto que existe um medo em aceitar a filosofia desta série: é suposto ser simples, acessível e de curta duração.
Em Get It Together!, o foco está na cooperação. Esta é a sua grande aposta. Seja a solo ou com a ajuda de amigos, o novo WarioWare traz-nos a estrutura tradicional da série, composta pela sucessão rápida de minijogos, mas permite-nos construir equipas, de três a cinco personagens, para enfrentar cada um dos desafios cómicos da campanha. Os amigos de Wario compartilham o protagonismo e apresentam-se num papel mais proeminente, cada um munido de habilidades e mecânicas diferentes. É necessário combinar estes atributos e construir equipas capazes de enfrentar qualquer desafio, mas, como seria de esperar, cada personagem tem as suas vantagens e desvantagens. Estes desequilíbrios propositados originam momentos de puro humor, especialmente em cooperação, mas também de frustração devido à qualidade de cada personagem, como ao design dos minijogos, que se esforçam para compensar a utilização de qualquer um dos protagonistas.
É necessário explicar que a mudança não se deve à presença de novas personagens, que protagonizaram em alguns dos títulos anteriores, mas sim à aposta em habilidades e numa nova jogabilidade. Se nos títulos anteriores só podíamos controlar mecanismos específicos nos minijogos, em Get It Together! é necessário comandar as personagens através dos níveis. As ações não estão restritas a ações pré-definidas pelos botões da consola, mas sim às personagens físicas em jogo. Podemos movimentar Wario, utilizar o seu empurrão e realizar várias tarefas, desde retirar espadas do coldre até desequilibrar rochas para caírem em cima de outra personagem. Há toda uma nova fisicalidade na série WarioWare e é aqui que percebemos o destaque dado às habilidades dos heróis: tal como os seus problemas.

Se são fãs de WarioWare, esta mudança irá necessitar de um período de habituação. Foi o que me aconteceu. Manobrar as personagens em campo muda por completo o ritmo, a destreza e o desafio de cada minijogo, retirando assim algum frenesim à jogabilidade. Get It Together! é ligeiramente mais lento, ponderado e acessível, e rapidamente percebemos que a implementação das habilidades vem desequilibrar a estrutura básica da série. Isto porque é fácil determinar quem são as personagens descartáveis. É certo que o jogo procura um um equilíbrio entre elas, adicionando alguns minijogos que só são ativados pela personagem correta, mas não é o suficiente. A utilização das personagens só irá satisfazer os jogadores que procuram completar o título a 100%, com os restantes a descartarem rapidamente personagens como Dr. Crygor, que só pode ser movido quando pressionamos A, ou 9-Volt, que está sempre em movimento, em prol de protagonistas mais equilibrados como Wario e Ashley.
Talvez seja uma questão de encontrarmos a equipa certa, mas com 18 personagens à disposição rapidamente compreendemos que o foco não estava na combinação entre protagonistas, mas sim na quantidade e na variedade. Infelizmente, sinto que se perdeu algo em Get It Together! A fórmula foi demasiado destilada e reformulada para manter a sua longevidade. E isto é uma contradição. Digo que é uma contradição porque nunca um título da série apresentou tantos conteúdos adicionais como Get It Together! Fora os modos de construção de WarioWare: D.I.Y., onde o foco estava na criação de minijogos, é a primeira vez que temos mais zonas, mais personagens, mais missões secundárias, mais modos online (até quatro jogadores) e ainda a possibilidade de desbloquear mais conteúdos e itens cosméticos através de moedas que conquistamos em jogo: tal como desafios diários e semanais. É de loucos.

Apesar das minhas críticas ao design de Get It Together!, não consigo esconder que fiquei feliz por regressar ao mundo de WarioWare. Mesmo com os seus problemas, continuamos a encontrar minijogos absolutamente divertidos e até alguns dos melhores da franquia, capazes de utilizar a fisicalidade das suas personagens ao máximo. A arte mantém-se colorida, exagerada e sempre inesperada, conseguindo combinar gravuras populares com desenhos estilizados sem perder a sua coesão estética. Mesmo com as minhas críticas, é possível encontrar uma equipa certa para repetirem os vários níveis do jogo. Existe um momento em que tudo se encaixa e o jogo floresce dentro das suas mecânicas, mas, para tal, é necessário algumas concessões, como esquecer que o ecrã tátil nunca é utilizado e que o HD Rumble mantém-se como uma das funcionalidades mais descartáveis da Nintendo Switch.
Não é um regresso glorioso ou o título mais sólido da série, mas Get It Together! revela que a Nintendo ainda está disposta a apostar na franquia e a adicionar novas mecânicas e funcionalidades à sua jogabilidade simples. A cooperação podia ser melhorada e as personagens mais equilibradas, mas o foco nos minijogos continua a ser divertido para aguentar um videojogo desta natureza. Poderia ter ainda mais minijogos e variedade, mas o que torna WarioWare especial é a surpresa, a aleatoriedade e o humor das suas situações. Agora só me resta esperar que WarioWare não desapareça durante tanto tempo outra vez.

Código cedido pela Nintendo Portugal.