Escrever sobre uma consola oito meses depois do seu lançamento coloca-nos numa posição ingrata. Por esta altura, todas as piadas foram feitas, as comparações esgotaram-se e a inteligência de certos comentários humorísticos não são mais que um esforço visível em querer ser-se relevante. Não irei fazer piadas sobre o monólito, de 2001: Odisseia no Espaço, porque alguém, algures no nosso planeta, esgravatou a comparação até ao seu tutano metafórico. Comparar a Xbox Series X a um frigorífico seguiu pelo mesmo caminho, com a Microsoft a entrar na brincadeira e a tirar o prazer da piadola ao público. E dizer que a nova consola da Microsoft é um retângulo preto é o equivalente a saber-se um pouco de geometria. Aqui estamos nós.
Entrei tarde na corrida, mas entrei de rompante. Oito meses depois da sua estreia, a Xbox Series X ergue-se na minha secretária como um monólito monumento da nova geração e uma janela para um futuro que se avizinha marcado por contas de cabeça e um novo amor pela matemática. Ora contaremos os frames por segundo, ora comparemos a resolução entre consolas rivais, excluindo a Nintendo Switch, que só entrará na discussão quando os ecrãs OLED servirem de medida de comparação. Mas o futuro é brilhante e a esperança de início de geração enche-nos de ideias, de “e ses” e de um entusiasmo poucas vezes justificado durante o primeiro ano de vida das consolas. No entanto, há sempre uma nuvem no céu, um mau presságio, uma má decisão que escondem o sol da boa disposição sempre que olhamos para os futuros lançamentos: os serviços, os relançamentos, os “Director’s Cut”, as taxas de conversão, o aumento dos preços e as constantes guerras entre comunidades. Mas esqueçamos os problemas futuros e os horrores de uma indústria cada vez mais opressiva. Compraram uma nova consola e é isso que interessa. A luz do sol raia forte.
A Xbox Portugal teve a amabilidade de ceder uma Xbox Series X ao GLITCH e não podia estar mais rendido à consola. A passagem da Xbox One para a nova consola 4K foi suave devido à uniformização do sistema operativo, dos videojogos e dos comandos. O sonho de um ecossistema interligado tornou-se real na nona geração e a Microsoft pode sentir-se orgulhosa por atingir uma meta que poucos ambicionaram. Podemos criticar a UI da nova Xbox e apontar o dedo à sua falta de novidades ou de fanfarra na passagem para a atual geração, mas a Microsoft quis suavizar a transição entre consolas, interligar os sistemas, onde podemos incluir o PC e o XCloud, e conseguiu fazê-lo de forma exímia. Ao contrário das suas rivais, não precisamos de fazer jogos mentais e rituais pagãos para passarmos os conteúdos de uma consola para a outra ou escolher manualmente o que queremos guardar na Cloud: na Xbox tudo é automático se mantiverem a conta.
No entanto, é verdade que a Xbox Series X perde a surpresa que sempre esteve associada à descoberta de uma nova consola. A animação inicial é diferente, mas fora esta introdução, o dashboard mantém-se inalterado, como se nunca tivéssemos abandonado a consola anterior. Sinto que os menus são mais rápidos, mas não existiu um trabalho afincado para os tornar mais intuitivos. Se não gostaram da experiência na Xbox One, não será a Xbox Series X a mudar a vossa opinião. A UI é um gosto adquirido, admito, e admiro a sua aposta na personalização, algo que a Sony tentou acompanhar na nova PlayStation 5, mas me nunca sentirei totalmente confortável com menus dentro de menus, onde o foco parece estar tanto no acesso rápido, como na navegação por listas arcaicas de opções que nem sempre são compreensíveis. Talvez seja um problema pessoal, mas estou muito curioso para saber como a Microsoft irá continuar a evoluir a UI.
Dou a minha luta contra os comandos da Xbox por terminada e posso finalmente dizer, de peito aberto, que compreendo o porquê de utilizarmos pilhas em 2021. Talvez tenha de parafrasear esta última parte. Não compreendo porquê: só aceitei que não há nada a fazer. E sinto-me bem com isso. Com pilhas recarregáveis ou uma bateria exterior, o comando da Xbox nunca será um problema para vocês e será, a longo prazo, menos uma dor de cabeça, evitando os tradicionais problemas de bateria que estão sempre associados aos comandos das últimas gerações.

O novo modelo do comando não é muito diferente do anterior, seguindo uma escolha de design semelhante à UI das consolas, mas existiu um trabalho estratégico que, na minha opinião, faz toda a diferença. Nunca fui o maior fã do comando da Xbox One. Não sei se era a sua ergonomia, os botões ou os analógicos que me afastavam da consola, mas nunca houve aquele “click”, aquele momento de harmonia onde tudo fazia sentido — não quando tinha o Dual Shock 4 e o Comando Pro da Switch. Mas com o novo modelo, a Microsoft reduziu ligeiramente o tamanho e a largura do comando, tornando mais confortável, limou muito subtilmente os botões e adicionou uma maior texturas nos grips, deixando o comando repousar confortavelmente nas minhas mãos. Esta textura também está presente nos triggers, com os dedos a não fugirem da sua posição, como acontecia no acabamento brilhante do modelo anterior. E por falar nos triggers, a sensação esponjosa foi atirada pela janela, num adeus há muito esperado, e substituída por um clicar mais satisfatório para longas partidas de jogo.
Não sou um crítico de hardware e nem o finjo ser. Não vou massacrar-vos com a minha tentativa de análise ao desempenho dos videojogos e como a consola se compara às suas rivais. Por esta altura, já deverão saber que as promessas da nova geração são reais e que a qualidade de desempenho só irá melhorar à medida que os estúdios se sentem mais confortáveis com o novo hardware. O ray tracing ainda parece ser uma opção do futuro e o facto de podermos jogar praticamente tudo a 60fps sólidos, de betão, tornam reais os sonhos da geração passada. Mas isto é a única análise que um leigo em hardware é capaz de fazer: as melhorias são muitas e eu, mesmo com a minha visão repleta de estigmatismo e miopia, consigo ver as diferenças e perceber o seu potencial.
O que consigo, no entanto, recomendar e enaltecer é a velocidade da consola. Evitemos guerras mesquinhas, não interessa qual é a mais rápida. O que interessa é que a nova geração corta o tempo de carregamento dos videojogos e cria uma experiência mais imediata e envolvente. E a diferença é incrível. Os loadings foram reduzidos a meros segundos, até em jogos da geração passada, e sentimos que estamos constantemente nos videojogos e com o tempo controlado. Não existem esperas dolorosas entre partidas, especialmente quando perdemos, e não ficamos presos entre salas ou masmorras de um RPG que nos obrigam a olhar para o mesmo ecrã de carregamento ao longo de 30 horas. Talvez esteja a ser demasiado mesquinho ou brejeiro, mas esta era uma das funcionalidades que mais aguardava e sinto-me num novo mundo sempre que ligo a consola.
Esta aposta na velocidade de processamento é exponenciada por aquela que é, na minha opinião, a grande aposta da Microsoft e da Xbox: o Quick Resume. A possibilidade de podermos jogar vários jogos em simultâneo, à distância de um menu, não deve ser menosprezada, pois torna a experiência de jogo ainda mais rápida. Basta ligar a consola, aceder ao menu de utilizador e selecionar o videojogo para regressarmos ao ponto em que ficámos. Sem menus iniciais, sem carregamento de gravações: nada. Carregamos no ícone e estamos em jogo. Isto é fenomenal, especialmente para alguém como eu, que sente a sua paciência a esvair-se a cada ano que passa. A funcionalidade nem sempre é viável e poderão existir momentos em que os videojogos encerram quando desligam a consola, mas tal nunca me aconteceu. O limite de videojogos em simultâneo (de 5 a 12, dependendo dos títulos em questão) também é muito satisfatório e nunca senti que precisava de mais espaço para os meus jogos. A PlayStation 5 tem vários trunfos na manga, onde podemos incluir o DualSense, mas para mim, a Xbox Series X consegue rivalizar, mesmo que seja em menor escala, através do Quick Resume, algo que a consola da Sony precisa urgentemente.

A Xbox Series X é um monstro e o seu potencial ainda é impossível de antever. É muito cedo para tecermos considerações sobre uma consola que ainda não recebeu um exclusivo first-party e que está no mercado há uns meros oito meses. Ainda não sabemos quais são as suas verdadeiras potencialidades, mas a promessa é visível. A unificação da UI, a implementação do XCloud, a expansividade do Xbox Game Pass – seria impossível não o mencionar, mas acreditem que tentei – e a retrocompatibilidade dão vida a uma consola preparada para o futuro e é bom vermos uma Xbox revitalizada e preparada para inovar e lutar em pé de igualdade com as suas rivais mais estabelecidas, ainda mais depois de uma geração onde não conseguiram encontrar o seu lugar.
O futuro é promissor, mas a História é implacável, repete-se, e é preciso estudá-la para evitar os erros do passado. Mesmo com uma plataforma tão sólida, ainda não conhecemos os efeitos futuros do Game Pass e de possíveis novos rivais, e, acima de tudo, continuamos a verificar na Xbox uma aptidão para as promessas e pouca concretização. Resumindo, faltam os jogos. E sim, os jogos demoram a serem produzidos e muitos dos exclusivos chegam em finais de 2022 e algures em 2023. Estamos a falar de uma empresa que detém os direitos de Doom, Wolfenstein, The Outer Worlds, The Elder Scrolls e Fallout. Promessas. Esperemos que o futuro não se repita. As bases estão construídas, agora falta concretizar.