O que é o backlog?

Falei recentemente sobre estratégias para se desfazerem do vosso backlog e métodos para lidarem com a acumulação de novos videojogos. Contudo, foquei-me em grande parte na oferta de serviços de streaming que nos dão acesso a uma quantidade tão astronómica de conteúdos de entretenimento que podem até colocar em causa a nossa apreciação e divertimento com cada um dos títulos. Esta oferta de videojogos, divididos por vários catálogos, deixa-nos a ponderar mais sobre o que devemos jogar a seguir do que a… jogar. Isto poderá ser o futuro:  zappings infinitos como quem muda de canal constantemente numa aborrecida tarde de domingo (lembram-se da Televisão?).

Neste meio do entretenimento, a ideia de backlog também é utilizada para o acumular gradual de jogos, filmes, álbuns e livros, e não se foca só na oferta de serviços, o que faz com que muitos consumidores sintam que o PS Now ou o Xbox Game Pass não são a fonte dessa ansiedade e desejo, isto porque não são adquiridos por meios convencionais. Não existe uma compra, ou seja, “não são nossos para sempre”.

Por um lado, admiro esta posição e de alguma forma a invejo. Afinal de contas, esse desejo e ansiedade, também definidos muitas vezes por FOMO – o medo de ficarmos de parte –, desaparecem. A mentalidade passa a ser “jogo quando conseguir” e não “tenho de jogar o mais rapidamente possível”, pois o foco mantém-se na aquisição de um videojogo e não na dependência às subscrições. Elimina-se, portanto, uma das maiores preocupações de quem decide enveredar pelo formato digital e streaming: os prazos de estadia num serviço.

As ideias de posse e aquisição serão devidamente discutidas e analisadas nos próximos anos, mas é impossível não traçar já a evolução da indústria do entretenimento sem equacionar a vitória do formato digital. Não sou nenhum Nostradamus, mas os sinais são claros – algo que a pandemia veio impulsionar num só ano. Existirá esta necessidade de comprar um videojogo? Um tema a ser discutido à parte, mas a verdade é que, independentemente do formato ou do serviço que utilizemos, os videojogos continuam disponíveis para os seus utilizadores.

Esta semana, a Bethesda meteu meia dúzia de jogo no Xbox Game Pass, mas não se compara aos 60+ que chegaram ao serviço no PC com a integração do EA Play.

Regressando ao tópico, tenho de descartar este afastamento dos serviços de streaming como acumulação de videojogos por duas razões. Por definição, “backlog” é a reserva ou acumulação de algo, seja stock, trabalho, lazer, etc. É uma lista de afazeres, problemas e atividades, com ou sem ordem, para ir completando ao longo do tempo. É uma extensão de “log”, ou registo, algo que se aponta depois de terminado. Por isso, quando definimos uma ordem de tarefas, ou a prioridade com que vamos experimentado jogos, o backlog existe para esse utilizador e não há ninguém que possa argumentar o contrário.

O termo backlog, de origem norte-americana, data do século XVII para descrever um tronco ou pedaço de madeira que é colocado mais para trás numa fogueira. Figurativamente, o termo transformou-se para definir algo que pudesse ser usado mais tarde – e que fica também para trás –, à medida que vamos encontrando mais atividades, trabalhos e elementos que se sobrepõem a um inicial ou principal. Assim, a noção de backlog pode ser aplicada praticamente a tudo, como já aqui defini, incluindo, quer se queira, quer não, aos serviços de subscrições. Mesmo com o tempo a contar e a presença de alguns jogos a desaparecerem nestes serviços, a vontade, o desejo e a curiosidade em experimentar continua a acumular e a criar um… backlog. O elemento psicológico não deve ser colocado de parte, queiramos adquirir ou não um videojogo. Mesmo que decidamos jogar só cinco minutos de cada oferta, a verdade é que o catálogo continua a crescer e os jogos que queremos destacar mantém-se numa longa e quase interminável espera. Com o digital, entramos no backlog perpétuo.

O hábito de consumo varia de utilizador para utilizador, assim como o seu desejo ou vontade em investir o seu tempo e recursos, mas o uso do backlog – prático ou simbólico – é  até importante para nos orientarmos e até para fazer conversa e partilhar experiências com amigos: até porque o backlog tem um papel pessoal e social bastante difícil de ignorar e de evitar nas nossas vidas. Uma coisa é certa. O mercado vai mudar e transformar-se numa subscrição permanente de catálogos de videojogos. As prateleiras estão vazias, mas o backlog continua cheio. E assim será.

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