Assim que meti os olhos neste Ary and the Secret of Seasons e nos respectivos comentários ao trailer, não pude deixar de reparar nas comparações ao recente anunciado Kena: Bridge of Spirits. Sim, o estilo é semelhante e parece ser um daqueles jogos com um aspecto querido, mas com uma história profunda para ter mais impacto. Nesta indústria, é difícil ser-se original (não impossível), mas isso também não é um ponto negativo. Não se lembram das comparações de Dante’s Inferno a God of War? Como se um jogo fosse rei e senhor de um estilo…

Ary decorre num mundo de fantasia, Valdi, separado em quatro regiões, cada uma com a sua estação fixa – e cada estação é mantida e protegida por um guardião. A narrativa começa quando esse mundo é fustigado por cristais corrompidos que vêm ameaçar o equilíbrio das estações, e quando o guardião do Inverno se vê impedido de investigar o acontecimento, caberá à sua filha ir no seu lugar. Também há um pouco de Mulan nesta história, até porque o contexto do mundo pisca o olho à estética chinesa.

Convenhamos, não é preciso muito mais para nos lançarmos à aventura. Os alicerces de um mundo em perigo e a sede da descoberta permeiam vários jogos do género, e também falo de um pequeno jogo desconhecido das massas: The Legend of Zelda (experimentem!) Vai daí, temos a mesa posta com doses bem servidas de exploração, puzzles e combate. Agora, os pratos foram bem cozinhados ou precisavam de mais tempo ao lume?
Para um jogo que já foi adiado várias vezes, parece estar cru e por temperar. Ao passo que a introdução de Ary é linda, com gráficos muito bons e bem narrada, mas o jogo tropeça assim que começa; más texturas, más animações, más vozes, bugs, falhas e uma falta de polimento sem desculpas. Mas o que me saltou à vista, foi a falta de noção de escala. Isto é, o mundo parece ter sido concebido para gigantes, com a nossa personagem a ser tão, mas tão pequena. Veio-me à memória alguns dos títulos da Net Yaroze, mas sem a desculpa do tempo ou recursos prematuros. Nem mesmo a escrita e diálogos se aguentaram durante muito tempo, quebrando a magia do tema.

O progresso assemelha-se a qualquer outro do género: obtemos o item ou a habilidade que temos de usar na respectiva masmorra, mas aqui com ênfase no controlo das estações – que saudades dos Oracle of Ages/Seasons…, peço desculpa por divagar. E as masmorras com os seus puzzles estão brutais, admito que são a melhor parte do jogo, mesmo para mim que fico a anhar na maioria dos desafios. Gostei de me terem posto a pensar e a descobrir as melhores maneiras de manipular os elementos para poder avançar, mas… parece que o estúdio caprichou mais aqui que no resto porque fora das masmorras, tudo é vazio, aborrecido e desinspirado, com um sistema de combate medíocre que mais vale evitar ou missões secundárias aborrecidas como jogar às escondidas com personagens que desaparecem no ar ou encravam no cenário. Não há uma recompensa ou motivação para as fazer, estão lá apenas para encher o mundo e termos algo que fazer… mas mais nem sempre é melhor. Podiam ter-se focado em arranjar o jogo.
É uma pena que as melhores partes do jogo estejam embrulhadas num invólucro de desleixe. Avancei nesta análise com algum custo e mágoa porque queria mesmo, mesmo gostar de Ary, mas parece que estou numa maré de azar com maus jogos e expectativas. Só os jogadores mais pacientes e apaixonados conseguirão ver as qualidades do jogo, mas fica a intenção e a promessa de o melhorarem com actualizações futuras. Se tal não acontecer, nada se perde e há mais peixe nesse mar.

O código para análise (PS4) foi cedido pela Dead Good Media.