Manifold Garden | GLITCH REVIEW

Tenho uma relação de amor-ódio com jogos de puzzles. Num primeiro contacto, adoro as suas mecânicas, a criatividade por detrás dos seus mundos e a forma como os quebra-cabeças ajudam a contar uma estória visualmente. The Witness, Portal e Outsider são alguns dos melhores exemplos do que procuro no género, mas se há uma aproximação a estas experiências, rapidamente há um quebrar da ilusão e apercebo-me das minhas limitações para resolver alguns dos seus problemas. A frustração instala-se. No entanto, Manifold Garden, que chegou recentemente às consolas, surpreendeu-me pela positiva, agarrou-me desde o primeiro momento e levou-nos numa viagem onde vi as barreiras do real e da física a quebrarem-se à medida que explorei um mundo infinito e composto por geometrias supostamente impossíveis. Uma viagem inesquecível.

Manifold Garden é um jogo de puzzles e exploração na primeira pessoa que nos coloca num mundo infinito. Através de várias salas, que compõem a maioria da experiência, desvendamos mais sobre esta realidade impossível e vemo-nos presos a formas geométricas que se dobram e transformam à medida que resolvemos os seus puzzles. No seu cerne, Manifold Garden joga com a física dos objetos e dos locais, e dá-nos a possibilidade de viajar por cenários intermináveis à medida que rodamos as salas e as suas perspetivas para atingirmos interruptores ou objetos necessários para progredirmos.

A simplicidade das mecânicas é uma mais-valia e rapidamente percebemos como devemos interagir com o mundo. Com a possibilidade de alterar a direção dos cenários, temos de encontrar a perspetiva correta para chegarmos ao final de cada desafio. Cada parede tem uma cor, do vermelho ao lilás, que determina o tipo de interruptores e objetos com os quais podemos interagir. Um bloco verde só poderá ser movido se estivermos na parede verde, por exemplo. A maioria dos puzzles de Manifold Garden constroem-se neste jogo entre cores e perspetivas, levando-nos a pensar para além da perspetiva e da próxima física, e a encontrar formas de movermos os blocos até ao interruptor correto. Senti uma enorme liberdade nas abordagens que escolhi e nunca me senti preso a uma só solução. O jogo dá-nos as peças e deixa-nos explorar livremente em busca de uma solução, algo que se torna ainda mais competente e emocional quando pensamos na direção de arte e na sua banda sonora.

Apesar dos seus jogos de perspetiva e de construir um mundo que é, para todos os efeitos, infinito – onde é possível cairmos interminavelmente pelos seus cenários, numa sucessão sem fim –, Manifold Garden nunca foi intimidante. Nem todos os seus puzzles são lógicos, muitos deles requerem mais um salto de confiança do que propriamente um fio condutor inteligível, mas sentimo-nos constantemente fascinados pela forma como o mundo conecta a exploração com os quebra-cabeças. Num minuto, estamos presos em escadas intermináveis que se repetem sem fim, e noutro, vemo-nos a cair sobre templos enquanto transportamos blocos de uma ponta à outra do cenário. Mesmo com a expansividade dos cenários, é um jogo que nos coloca sempre no caminho certo, sem uma linha de diálogo ou um marcador de objetivo, limando a sua experiência ao máximo e facilitando a leitura dos seus cenários complexos. Tão simples e tão desafiante ao mesmo tempo.

Os puzzles não estão relegados a salas, mas sim ao mundo inteiro do jogo. Existe uma sensação tremenda de evolução e crescimento na campanha, com cada nível a suplantar o anterior a nível de foco.

É impossível não ficarmos impressionados com o mundo de Manifold Garden, com as suas estruturas gigantescas e com o uso impressionante de perspetiva. O universo expande-se à medida que viajamos por este universo geométrico em tons de pastel, onde as estruturas dão origem a escadarias complexas, a templos impossíveis e a árvores, rios e pássaros cúbicos que injetam alguma vivacidade ao seu mundo geométrico. O que me impressionou mais, no entanto, foi o seu calor, o conforto que senti a explorar Manifold Garden, como se estivesse a visitar um local mítico e intocado. As cores claras, com apontamentos mais pronunciados em algumas partes dos cenários – nomeadamente nos interruptores, que se iluminam –, criam uma familiaridade impressionante e vibram emocionalmente com o jogador. Talvez possamos dizer que é paz, na sua forma mais destilada possível, onde a frustração nunca entra. Este sentimento de reflexão é exponenciado pela fantástica banda sonora, composta por Martin Kvale e Laryssa Okada, que complementa as tonalidades quentes do jogo com músicas repletas de sintetizadores e notas pronunciadas, lentas, expansivas. O desenho de som é um destaque e existem apontamentos sonoros ao longo do jogo que lhe injetam alguma magia, como o caminhar pelos vidros, num delicioso Mickey Mousing, dando a jogador a sensação de que está a compor algo novo à medida que se desloca. É um deleite visual e sonoro.

Manifold Garden é impressionante, mas não perfeito. Nas consolas, existem alguns soluços no desempenho que estagnam a experiência, capazes de nos retirar da ação. Isto acontece devido à expansividade dos cenários e da sua sucessão constante, mas pedia-se mais. Apesar de não ser frustrante, senti que se perdeu algo na conversão. No final do dia, não iremos pensar no desempenho ou nos puzzles menos completos, mas sim na experiência como tudo, na forma como os puzzles evoluem e o mundo se desenrola. É aí que Manifold Garden se torna imperdível.

A escala utilizada é de 1 a 10

O código para análise (PS4) foi cedido por Jesús Fabre VideoGame Marketing & Communications.

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