Com maio a chegar ao fim, decidi deambular pelo mundo dos dungeon crawlers e dos roguelikes com dois jogos independentes simples, mas muito divertidos. Apesar de não serem jogos obrigatórios, ambos oferecerem uma experiência light de ambos os géneros, perfeito para esta fase de lançamentos, onde antecipamos a chegada de alguns dos maiores títulos do ano.
Demon’s Tier+
Ainda por lançar, Demon’s Tier+ é um curioso dungeon crawler que mistura mecânicas roguelite com o sistema de combate de um twin-stick shooter. Para complicar ainda mais este verdadeiro cocktail de géneros, o título da Diabolical Mind conta ainda com elementos RPG numa aventura dividida por três níveis, várias masmorras e um leque interessante de bosses.
Com um estilo simples, munido de sprites pequenos e de um mundo em pixelizado, Demon’s Tie+ é uma versão light dos velhos dungeon crawler, mas mais focado numa ação arcade. Com oito heróis à disposição, que podemos adquirir à medida que avançamos na campanha, o jogo leva-nos através de várias masmorras repletas de inimigos e tesouros, onde necessitamos de concluir objetivos básicos – como eliminar todos os inimigos ou abrir todas as caixas de tesouro – para passarmos ao próximo patamar. Como um twin-stick shooter, a ação é rápida, muito intuitiva e aposta na aprendizagem de padrões de ataques, especialmente nos bosses, e no controlo das hordas de criaturas.
Os elementos RPG surgem na possibilidade de evoluirmos, de nível para nível, os parâmetros da nossa personagem. Desde o seu poder de ataque até à defesa e velocidade, é possível melhorar os heróis à medida que encontramos mais ouro nas masmorras. Esta evolução não é permanente, não fosse Demon’s Tier+ um roguelite, e sempre que perdemos, voltamos à estaca zero. Existe, no entanto, a possibilidade de desbloquear novas armas e itens. Para tal, é necessário encontrar os planos de cada uma das espadas, arcos ou machados, e se formos bem sucedidos, podemos regressar à vila e utilizar pontos de magia para as construir. É necessário encontrar um equilíbrio entre o risco e a exploração, com o jogo a retirarmos todos os pontos de magia se formos derrotados. Demon’s Tier+ não é um jogo difícil, antes pelo contrário, mas senti que a descoberta regular de novas personagens e equipamentos estava muito ponderada, motivando-me constantemente a mudar de armamento.

Demon’s Tier+ pode parecer, à primeira vista, um jogo demasiado simples e passivo, mas fiquei completamente agarrado. É muito limitado e repetitivo, e não há muito para encontrar fora das suas masmorras, mesmo a dois jogadores, mas a ação é tão rápida e divertida que me vi a completar o jogo a 100%. O cansaço foi inevitável, como podem imaginar, mas existiu uma satisfação sincera à medida que avançava e desbloqueava novos conteúdos, mesmo que as diferenças entre as personagens fossem quase cosméticas. Às vezes a beleza está na simplicidade e este jogo é um bom exemplo disso.
Com um preço apetecível e muito acessível, Demon’s Tier+ poderá ser uma distração eficaz para os que procuram uma experiência muito básica e direta de um dungeon crawler com elementos roguelite e RPG. É curto, muito simples e pouco imaginativo, e acredito que os gráficos – e os seus modelos minúsculos – e a falta de uma banda sonora memorável, ainda que nos relembre dos clássicos da Super Nintendo (especialmente Final Fantasy V) afastem possíveis adeptos, mas não tenham dúvidas: é divertido e eficaz.

O código para análise (PS4) foi cedido pela CowCat Games
Fury Unleashed
Ao contrário de Demon’s Tier+, Fury Unleashed é muito mais centrado na experiência roguelite. Com uma estória e estilo que procuram emular um ambiente de banda desenhada, com a campanha a levar-nos através das páginas de três livro, o jogo da Awesome Games Studio é muito mais focado e desafiante, oferecendo uma jogabilidade limada e responsiva. Apesar da repetição inerente ao género, é uma distração sólida para os fãs do género.
A estética de banda desenhada é, num primeiro contacto, muito apelativa e dá a Fury Unleashed uma identidade muito forte. A comparação a Comix Zone não é descabida, até pela falta de exemplos melhores, mas a direção de arte, especialmente no desenho das personagens, acaba por revelar o lado independente do jogo. Apesar de ser funcional, os modelos são desinteressantes e os cenários muito simples, quase básicos, demonstrando também os problemas típicos dos níveis gerados aleatoriamente e não desenhados à mão.
A banda sonora é outro problema de Fury Unleashed e revela-se muito desinteressante e pouco memorável. Para ser sincero, não consigo recordar-me das composições, seja no nível da selva ou nos níveis mais futuristas. Os efeitos sonoros não são tão negativos, mas sim funcionais, revelando, uma vez mais, uma falta de atenção aos pormenores.

O foco está no combate e na jogabilidade, e Fury Unleashed não perde tempo em colocar-nos dentro da ação. Dividido por três livros de banda desenhada, cada um com várias masmorras, o jogo foca-se em partidas rápidas e na descoberta de segredos, de novas armas e de peças de armadura para a nossa personagem. Com objetivos secundários e elementos mais aleatórios, como a presença de mini bosses e de baús que – em troca de vida – podem mudar a nossa sorte, o objetivo é chegar ao final de cada nível sem perdermos. Pelo caminho, encontramos vagas de inimigos, das mais variadas formas, e níveis repletos de armadilhas mortais, com o design dos cenários a revelar um equilíbrio saudável entre a exploração e o desafio, que nos motiva a recomeçar sempre que perdemos.
Como roguelite, Fury Unleashed está assente nas partidas rápidas, retirando todo o progresso quando perdemos. As armas desaparecerem, tal como as armaduras, mas o jogo não é tão cruel como alguns dos seus semelhantes. Fury Unleashed apresenta uma árvore de habilidades que podemos melhorar ao longo do tempo, determinando atributos, como pontos de vida e o número de granadas, que são permanentes. Esta evolução é feita através de pontos de tinta, a experiência deste jogo, e são o único elemento que não perdemos quando a campanha chega ao fim. Para uma melhor prestação, é necessário explorar o sistema de combinações, com os multiplicadores a traduzirem-se em mais pontos de tinta. Já o ouro, que é também fulcral para a nossa progressão, desaparece por completo, não existindo a possibilidade de o depositarmos entre tentativas.

A variedade de armas é impressionante e é possível fazermos adições ao nosso arsenal se completarmos missões secundárias. O mesmo não pode ser dito das armaduras, que surgem sempre aleatoriamente, e cujo funcionamento não é tão intuitivo como deveria ser. Apesar de termos pontos de armadura, não percebemos, num primeiro contacto, se estes pontos reduzem apenas o dano ou se cortam por completo certos golpes. Um pequeno pormenor que retira alguma da profundidade da mecânica, já que a utilização se relega aos números mais altos e não aos seus efeitos secundários.
Tal como Demon’s Tier+, fiquei completamente embrenhado no ciclo vicioso de Fury Unleashed e no seu “só mais uma partida”. A ação é rápida, as armas são muito divertidas e fáceis de utilizar, e a navegação é intuitiva, muito graças ao botão de desvio e corrida. Os desafios adicionais também são aliciantes, muito devido a uma boa (e simpática) hitbox na personagem. Infelizmente, não senti tanto os efeitos das habilidades adicionais e não fui tão adepto dos dois últimos livros, especialmente a zona industrial, e a arte nunca se tornou apelativa ao longo das horas. No fim, Fury Unleashed não vai converter ninguém ao género roguelite, mas é uma distração suficientemente divertida para os que procuram um bom desafio. É rápido, é simples e é direto, tal como deveria ser. Só não procurem por mecânicas muito profundas e por uma grande variedade de inimigos e cenários, senão sairão desiludidos.

O código para análise (PS4) foi cedido pela Awesome Games Studio.