Gears Tactics | GLITCH REVIEW

Gears Tactics chega-nos em plena pandemia para nos dar uma injeção de ação como só a série sabe. Num formato diferente do habitual, o novo Gears tira partido de uma fórmula explosiva e viciante: estratégia, humor, ação e adrenalina, desta vez, sob a forma de combates por turnos. Preparado soldado?

Gears Tactics assume-se como um spin-off da série e uma prequela para o primeiro jogo. A narrativa promete desvendar alguns segredos que agradarão aos fãs e, de forma resumida, para não vos spoilar, centra-se na luta do sargento Gabriel Diaz, e do seu esquadrão, contra o vilão Ukkon e o seu exército. Nota-se claramente que, com Gears Tactics, a produtora quis oferecer uma abordagem diferente tanto à série como ao género. O objetivo? Introduzir a série a uma audiência mais vasta e, em simultâneo, presentear os fãs com uma lufada de ar fresco em termos de abordagem. Mantém-se a fórmula e o ADN de Gears, mas há muitas novidades e twists interessantes neste lançamento.

Para trás fica a perspetiva na terceira pessoa que, agora, dá lugar a uma perspetiva “top-down” de câmara livre – os jogadores podem explorar o mapa sem limitações, não estando, por isso, restringidos pela habitual grelha. Os pontos positivos do título começam logo aqui, com a jogabilidade a sentir-se livre e aprofundada em cada incursão. Os locais são diferenciados, com cenários ricos e uma arte que honra a estética de Gears, oferecendo ainda uma sensação muito bem-vinda de verticalidade – poderão subir e descer escadas, para se posicionarem melhor no combate ou mesmo encontrar caixas de armamento escondidas, por exemplo. Outro fator interessante é que estes mapas são dinâmicos, com os danos a serem visíveis à medida que as partidas progridem – crateras, destruição, está tudo lá.

Outra diferença em relação aos moldes tradicionais do género é a quantidade de “pontos de ação” disponíveis em Gears Tactics. Têm à disposição três pontos de estratégia por turno, que podem ser gastos em ações como cobertura (cover), ataque ou posicionamento estratégico (uma opção que permite cobrir uma porção do campo de batalha para, depois, no turno inimigo, atacar os adversários que se posicionarem nesse local). Há cinco classes distintas, cada uma com habilidades específicas, ideais para uma abordagem diferenciada a cada desafio. Por esta altura, se forem como nós, estão já a pensar que no vosso esquadrão nunca faltará um sniper. Contudo, fica o aviso: Gears Tactics tem um sistema de seleção, baseado numa espécie de “cooldown”, que não vos permite escolher sempre os mesmos soldados.

Esta obrigatoriedade – que, à partida, poderá ser vista como intrusiva – obriga à gestão de recursos e à eliminação do “favoritismo”, oferecendo ainda uma camada adicional de desafio. Além de, por vezes, terem que jogar com soldados aos quais estão menos habituados, há missões com desafios secundários que vos exigem que “encostem às boxes” certas classes. Esta abordagem dinâmica ao típico “rooster” ajuda a equilibrar – e adiar – uma possível sensação de repetição, muito natural neste género.

O vosso esquadrão vai sendo desenvolvido de duas formas: soldados que encontram pelo caminho, durante as missões, e recrutas que aparecem numa lista de possíveis contratações. Não fiquei fã desta gestão de soldados por vários motivos, incluindo o facto de ser, por vezes, confusa e deixar no ar a sensação de demasiados envolvidos no combate. Na verdade, além do esquadrão principal, acabei por armar-me em mercenária e contratar muitos recrutas somente devido aos itens que traziam consigo e que acabei por “roubar” e utilizar num outro personagem. Guerra é guerra, certo?

E, nesta guerra, irão encontrar fileiras de inimigos sedentas de sangue e vingança. A seleção de adversários é diferenciada, com os inimigos a apresentarem diferentes abordagens de combate, armamento e níveis de dificuldade. De minions que avançam sem medo, a snipers que se posicionam de forma estratégica, a The Coalition certificou-se que, para vencer, o jogador teria de ir muito para lá do posicionamento eficaz no mapa. Ao bom estilo da série, o equilíbrio entre ataque e cobertura continua a ser estrela, mas preparem-se para inimigos capazes de vos retirar do local onde estão escondidos. Já outros, carregam armamento pesado capaz de criar crateras e destruição – spolier: vão poder agarrar estas armas, se os derrotarem, *wink, wink*. Uma nota de excelência para a forma como cada inimigo é apresentado, em cutscenes curtas de uma mistura pura de estética e direção à lá blockbuster de Hollywood, como se espera num Gears of War. O suficiente para manter a adrenalina em doses elevadas.

Na verdade, nesta demanda de sangue suor e lágrimas, a atenção aos detalhes é mesmo um dos pontos fortes de Gears Tactics. A estética “in your face” é, aqui, explorada de forma inesperada para um jogo deste género: os valores de produção das cutscenes são elevados, o trabalho de voz tem qualidade na mesma medida e podem ainda contar com elementos visuais dinâmicos em pleno combate – uma explosão bem colocada, capaz de dizimar o inimigo, acabará certamente com salpicos de sangue no vosso ecrã. A equipa fez um excelente trabalho de adaptação daquilo que é a génese de Gears a um novo género. Os elementos ligam-se de forma relevante e orgânica, com o spin-off a ser uma espécie de filho adolescente que, apesar de envergar por um caminho diferente dos pais, faz valer o ditado “filho de peixe…”.

Em termos de dificuldade, Gears Tactics é um desafio bem-vindo. Há quatro níveis de dificuldade – jogámos no segundo – com um quinto, o Ironman, a oferecer um desafio ao estilo permadeath. Aqui, tudo o que o jogador faz é permanente e as escolhas são escritas em pedra: cada “save” é final e não há como voltar a trás ou repetir uma missão. Há uma forte inspiração nas mecânicas de XCOM mas, também aqui, a The Coalition fez o trabalho de casa. O Ironman de Gears Tactics oferece um twist desafiante – neste modo, se as personagens principais perecerem no campo de batalha, a campanha termina de forma imediata. Lembram-se que, anteriormente, referi que tive pouca vontade de utilizar os soldados mais rasos, em vez das estrelas da narrativa? Neste modo, isso mudou. Aqui, vão rapidamente perceber que o ideal é utilizarem os recrutas com mais frequência, minimizando, dentro do possível, o risco de perder uma “main”. Contudo, fica o aviso: também no modo Ironman há requerimentos no que diz respeito a enviar certos heróis em determinadas missões.

A duração das missões varia consoante o desafio e, claro, o vosso nível de “skill”. Contudo, Gears Tactics é o título ideal para uma sessão de jogo ao final do dia. É um híbrido interessante, uma vez que, por vezes, se assume como uma experiência de jogo casual e, outras, nos coloca em bicos de pés, num nível de ansiedade saudável, enquanto escolhemos se transpomos, ou não, a linha ténue entre abordagem agressiva ou táctica.

Quase a terminar, será necessário reforçar que há alguma repetição em Gears Tactics. Com o passar das horas de jogo, missões e objetivos acabam por deixar de oferecer algo de totalmente novo. A diversão e desafio continuam lá, mas sente-se alguma falta de variedade para acompanhar o possível desgaste provocado pelo decorrer da campanha. No que diz respeito ao conteúdo pós-final do título, vale a pena referir que, também neste ponto, há pouco desenvolvimento. Poderão optar por refazer o jogo num nível de dificuldade mais exigente ou tentar obter todo o armamento raro, contudo, à parte disso, não haverá muito mais para fazer.

Ainda assim, na minha opinião, Gears Tactics é o pacote completo. Um título suficientemente acessível para introduzir os fãs da série Gears, que nunca jogaram jogos de estratégia, a este género e um jogo polido o suficiente para apelar aos veteranos do género. Faz “check” nos pontos essenciais e ainda insere camadas na experiência ao unir originalidade aos pontos fortes da série Gears.

Gears Tactics é um lançamento notável no género de jogos de estratégia por turnos. É também um lançamento notável na série Gears. Obrigatório tanto para fãs da série, como para fãs de títulos de estratégia por turnos, e ainda uma excelente porta de entrada para quem nunca experimentou o género. Um pacote de adrenalina vertiginosa, ação rápida e estratégia inteligente que nos apaixonou. Surpreendentemente (ou não) um excelente jogo de estratégia.

A escala utilizada é de 1 a 10

O código para análise (PC) foi cedido pela Microsoft.

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