5 Clássicos Que Adorava Jogar (E Que Nunca Irei Jogar)

A minha vida sempre foi marcada por uma inaptidão para jogar o que queria. Fosse pela ausência de dinheiro, pela falta das plataformas corretas – sendo que nunca tive um computador que corresse mais do que DOOM ou Arkanoid – ou até pelo meu próprio mau gosto: andei sempre ao contrário. Como seria de esperar, perdi a oportunidade de jogar alguns dos maiores clássicos da indústria, jogos que, direta ou indiretamente, se assumiram sempre como obrigatórios. Se isto não é teimosia, não sei o que será.

O Commodore 386 foi o primeiro computador que tive e para funcionar, tinha de lhe dar três pancadas secas de lado. Como podem depreender, nunca estive destinado ao PC Gaming.

Depois de tantos anos de espera e de cansar a voz a dizer “um dia vou jogar” a amigos, conhecidos e em frente ao espelho, hoje coloco um travão à minha teia de mentiras e admito que nunca vou jogar estes jogos. E vocês dizem: “nunca digas nunca”. E eu respondo: “não, eu nunca vou jogar aquele jogo que me aconselharam há cinco anos, desculpem, vamos seguir em frente”.

Fallout

Como fã da série Fallout, começo esta lista a dar um tiro no pé e a atirar-me das escadas abaixo, pois nunca joguei os primeiros dois jogos. Isto é o equivalente a alguém dizer que gosta muito da saga Alien ao ter visto apenas Prometheus (Ridley Scott, 2012) – e agora veio o vómito à boca  –, algo que não deve ser proferido por ninguém. Mas aqui estou, o maior falso de todo o mundo.

Oiçam, eu tentei. Instalei os jogos várias vezes no meu PC e jurei por todos os santos e deuses deste e de qualquer outro mundo que um dia iria terminar Fallout e Fallout 2. Esta determinação culminou na desinstalação rápida dos dois jogos múltiplas vezes, como se cuspir na cara de alguém fosse desporto nacional. Não consigo, malta. Podem parar de ler, mas eu não vou jogar os primeiros Fallout nem que me apontem uma arma à cabeça.

Tu não me conheces, jogo, não me julgues.

“Mas porquê?!” – vocês perguntam. Porque desenvolvi a paciência de um hamster e não tenho a aptidão necessária para jogar um RPG dos anos 90. Os menus assustam-me, a dificuldade dá-me pesadelos e o mundo do jogo parece ser tão distante e intransigente que me vejo obrigado a ficar longe e feliz na minha própria ignorância.

Devo sublinhar que apesar de não gostar de Fallout 4, e de o dizer múltiplas vezes no nosso podcast, tive o desplante de o platinar. Isto significa que fiz quase tudo num jogo que odeio. Devo também mencionar que joguei Fallout 76. Agora, jogar os originais? Isso nunca!

Myst

Ao contrário de Fallout, posso dizer que já tive um encontro de primeiro grau com Myst quando abri o PowerPoint e passei rapidamente entre slides para simular movimento. Durante anos, até jurei que tinha jogado o clássico da Cyan Worlds, e um dos jogos PC mais populares da história, mas bastou ver um vídeo de Myst para me aperceber de que afinal estive errado durante este tempo todo: o PowerPoint tinha mais animações. Eu nunca joguei Myst e se depender de mim, penso que nunca o irei fazer.

“Este novo Myst é muito interessante”

Apesar das minhas piadas fáceis, eu admiro Myst, mas à distância. Existem géneros que pura e simplesmente não consigo acompanhar; o meu cérebro, por mais que tente, não é capaz de acompanhar. Entre esses géneros, onde podem incluir jogos de estratégia e de desporto, está o point and click, onde Myst se insere. A nível mecânico, são jogos tão simples quando nos debruçamos sobre eles, centrados em cenários estáticos com alguns pontos de interação e com foco na resolução de puzzles. Esta é a base de todos os point and clicks: clicar até encontrarmos a resolução. Mas há um elemento adicional, algo de tão maquiavélico, tão vil e mesquinho que só poderia ter sido criado por game designers: a lógica dos videojogos. E quando digo lógica, o que quero dizer são as “regras do jogo”, que, dependendo do jogo, podem fazer todo o sentido ou nenhum. E quando não fazem nenhum sentido, ninguém nos pode ajudar.

Perante este cenário de ausência de lógica, o meu cérebro, já de si bastante lerdo, não aguenta e entra em colapso. No caso de Myst, a coisa complica-se quando o jogo está dividido por ecrãs praticamente estáticos, com uma navegação rudimentar e, por vezes, confusa, capaz de desorientar os jogadores menos experientes. Adorava jogar Myst, a sério que adorava, e até tenho um amigo que é um enorme fã da série – ao ponto de jogar até a versão Online (porque sim, existe) – mas tenho de admitir a derrota e passar à frente. Se perder tempo a jogar Myst, não poderei dedicar-me aos RPGs manhosos que saem do Japão e nós não queremos viver nesse mundo.

Alone in the Dark

Se Fallout intimida-me e Myst deixa-me confuso, então Alone in the Dark é a ponta superior deste triângulo de vergonha ao revelar a minha imensa falta de paciência. Como um miúdo mimado, olho para Alone in the Dark e tenho vontade de berrar em pleno supermercado que não quero e que não vou jogar isto nem me podem obrigar a fazê-lo. Até hoje, não mudo a minha sensata opinião sobre o jogo.

Cuidado, vem ai qualquer coisa…não consigo perceber o que é…é um zombie? É uma pessoa? Muda de ângulo para ver melhor, se faz favor.

Sem Alone in the Dark, o género de terror e sobrevivência seria muito diferente. Mesmo com as influências de Sweet Home, lançado em 1989, acredito piamente que Resident Evil encontrou os seus alicerces no clássico francês e não apenas nos seus conterrâneos. As câmaras pré-definidas, o movimento condicionado (também conhecido como tank controls), a aposta no combate e numa aventura focada numa mansão assustadora são elementos que encontramos em Alone in the Dark. Sem um não existiria o outro.

No entanto, e aqui vou destruir as vossas esperanças, eu não consigo voltar atrás. Alone in the Dark é interessante de analisar e de contextualizar no panorama histórico da indústria dos videojogos, e perceber como influenciou não só o género, mas também a produção europeia. Apesar da sua importância e valor histórico, que eu aprecio bastante, Alone in the Dark também é uma enorme seca. É o equivalente a vermos um vídeo e a passarmos constantemente à frente para apanharmos as melhores cenas. Claro que esta é a minha perspetiva, de alguém que não aguenta repetir um jogo sem a opção de “skip”, mas a verdade é que Alone in the Dark envelheceu muito mal. Devo admitir que o último Alone in the Dark, na PS3 e afins, é capaz de ter envelhecido pior, mas se calhar já só estou a querer ser mauzinho.

Portanto, fãs de terror e de emoções fortes, não contem comigo para redescobrir a série Alone in the Dark. Estou muito bem onde estou, longe, e bem longe, de qualquer hipótese de me cruzar com os jogos.

The Elder Scrolls 2: Daggerfall

Ao contrário de Fallout, pareço estar eternamente destinado a nunca terminar um The Elder Scrolls. Oblivion? Nunca passei das primeiras horas. Morrowind? Joguei a introdução na versão Xbox. E Skyrim? Comecei e parei tantas vezes que consegui ter mais de 30 horas jogadas e nunca cheguei aos Greybeards. Como podem concluir, não posso dizer que sou o maior fã da série – prefiro o universo de Fallout –, mas admito um certo fascínio pela ambição de Daggerfall.

Recordemos os tempos em que a UI ocupavam quase metade do ecrã.

Lançado em 1996, Daggerfall é o segundo capítulo da saga e os alicerces para o que viríamos a assistir nas sequelas. Um enorme e extenso mundo aberto, muito mais do que possam imaginar, com inúmeras missões para descobrir e um sistema de variantes, e de uma certa aleatoriedade, que lhe dão alguma frescura sempre que começamos uma campanha. Até hoje, mais nenhum título da série foi capaz de ir tão longe e arriscar tanto em prol de uma verdadeira experiência RPG e isso é de louvar. Por isso, decidi não jogar.

Neste caso, sou condicionado pelas mecânicas arcaicas e por um sistema de menus que parece não ter resistido ao teste do tempo. Nunca fui jogador de PC, existem mecânicas e controlos que não são intuitivos para mim, que sempre estive agarrado ao comando, e Daggerfall é um jogo do seu tempo, muito enraizado no género e na década de 90, desde os seus gráficos ao sistema de missões e personalização.

De todos os jogos nesta lista, Daggerfall é o único que me custa admitir que não consigo jogar, mesmo com a nova versão em Unity, mas mais vale admitir agora que não irei fazê-lo do que ter dissabores no futuro, como ficar muito envergonhado numa festa quando sair uma pergunta sobre o jogo, num jogo qualquer de trivia, e o meu grupo de amigos pensar que eu sei a resposta porque andei anos e anos a dizer que joguei, ou que ia jogar, mas nunca o fiz. Não quero isso, já sou um adulto.

Final Fantasy XI

Uma última revelação: também não sou grande fã de jogos online. Sou, na verdade, um enorme antissocial quando se trata de videojogos e prefiro as experiências a solo, sejam em que género forem. Mas tive as minhas experiências no mundo dos MMO. Joguei MU Online, Conquer Online e Ragnarok Online durante o total de cinco horas. Perdi em todos e fui roubado num deles. Digam-me, por que haveria de querer voltar?

Final Fantasy XI sempre foi, no entanto, uma enorme tentação. Nem Final Fantasy XIV: A Realm Reborn foi tão tentador como a primeira aventura online da série e sinto que estive sempre próximo de me atirar de cabeça para o seu mundo virtual. E sabem que mais? Existem versões para todos os gostos: PC, PS2, Xbox 360 e ainda servidores privados e outros piratas. Mesmo com esta variedade e disponibilidade, nunca joguei Final Fantasy XI e, hoje em dia, é escusado tentar.

A mensalidade é o maior problema, muito mais do que a experiência assente no grind e na repetição constante de missões e raids, ou na UI datada e nos gráficos pouco apelativos. A ideia de pagar para jogar sempre me fez confusão, mesmo ao ser subscritor de serviços como o Xbox Game Pass e o PS Plus, e nunca consegui ultrapassar a sensação de que estaria a deitar dinheiro para o lixo. Com a minha falta de paciência, a minha atenção do tamanho de uma ervilha, a impossibilidade em lidar com menus arcaicos e a inabilidade em manter-me concentrado num jogo online deram origem a este bolo de desapontamento que me tem alimentado desde 2002.

E querem saber uma coisa? Eu tenho o jogo. Sim, eu tenho uma das versões PC algures nas minhas prateleiras e mesmo assim não lhe toco. Comprei por uma questão de colecionismo, quando ainda ambicionava ter a coleção completa de Final Fantasy, um resquício de outros tempos. Hoje em dia, já não coleciono e o sacana do jogo ainda está por aqui, como uma sombra e uma memória dos meus erros. Mas quem será mais persistente e teimoso? Eu ou Final Fantasy XI? Diria que é aquele que pode colocar o outro no lixo sem remorsos.

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2 thoughts on “5 Clássicos Que Adorava Jogar (E Que Nunca Irei Jogar)

    1. Sim, as regras ainda eram muito próximas dos D&D e o foco estava na gestão das equipas e no combate tático. Infelizmente, como não acompanhei o género durante estes anos, fico perdido com tantas mecânicas. É uma pena!

      Obrigado por teres comentado 😀

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