5 Bandas Sonoras Que Merecem a Vossa Atenção

Há algo de mágico numa boa banda sonora, nas suas composições, tom e ligação ao jogo e estória que acompanha. Se no cinema é incontornável, muitas vezes potenciando a experiência cinematográfica e pontuando a sua carga dramática, já nos videojogos a banda sonora ganha uma nova dimensão, influenciando desde a música aos mais simples efeitos sonoros, determinando não só a narrativa, como a própria jogabilidade. O que seria de Final Fantasy VII e The Witcher III sem a sua banda sonora? Seriam experiências completamente diferentes.

Para celebrar o trabalho de alguns dos maiores compositores da área, ainda mais numa época onde nos encontramos reclusos nas nossas próprias casas, quero levar-nos numa viagem sonora por cinco bandas sonoras que merecem toda a vossa atenção.

A Plague Tale: Innocence

A aventura medieval, que acompanha a história de dois irmãos perdidos numa guerra em constante escalada, foi uma surpresa agradável. Um jogo narrativo, muito linear, mas carregado de alma e emoção que nos trouxe uma das campanhas mais sólidas do ano passado. Apesar de não apreciar a direção da narrativa na reta final, que desvirtuou – na minha opinião – as primeiras horas de jogo, A Plague Tale: Innocence é uma experiência invulgar e cada vez mais rara nesta indústria.

A banda sonora, de Olivier Deriviere, é um espanto. Deliciosa, melancólica, forte, assustadora e, ao mesmo tempo, terna, capaz de pontuar a viagem de Amicia e Hugo, e o seu crescimento enquanto personagens. As composições focam-se maioritariamente em instrumentos de corda, como o violino e o violoncelo, e há uma ligação temática forte entre as várias músicas, sendo facilmente reconhecíveis dentro do jogo devido ao seu impacto na narrativa. É uma banda sonora que me emocionou, que me deixou de rastos e tão tenso, como horrorizado, de onde destaco as claras influências por composições medievais, que lhe dão um equilíbrio entre o realismo e uma sensibilidade mais moderna.

INSIDE

Como quantificar o trabalho de Martin Stig Andersen e SØS Gunver Ryberg em INSIDE? A forma como a música acompanha todos os momentos do jogo, diegética e não diegética, e cria tensão na forma como jogamos. O seu tom soturno, pontuado ocasionalmente por melodias mais doces e emocionais que criam esperança num mundo assustador e estranho, e o seu ritmo industrial e etéreo. INSIDE tem de tudo.

Ao contrário de A Plague Tale: Innocence, a banda sonora de INSIDE não é tão fácil de ouvir desprovida do jogo e da sua experiência, mas é um exercício que aconselho a fazerem. Martin Stig Andersen e SØS Gunver Ryberg criaram algo sobrenatural, muito à frente do que fizeram em Limbo, também da Playdead, conseguindo utilizar os efeitos sonoros como notas musicais no grande esquema da banda sonora. O que seria de INSIDE sem o som da água, do respirar da personagem e das bolhas de oxigénio, que vão perdendo a sua força, na sequência de afogamento? E sem o som da onda de choque que, aos poucos, passa a fazer parte da banda sonora marcando o ritmo da sequência de plataformas? Mesmo longe do jogo, a banda sonora é uma narrativa por si só, um eco desta civilização perdida e um olhar arrepiante sobre os tormentos da nossa personagem.

ICO

Não é a primeira vez, e nem será a última, que falo no trabalho de Michiru Oshima e Kōichi Yamazaki. ICO é um jogo especial, uma experiência única e um trabalho de autor que, na minha opinião, continua a ser um dos títulos mais importantes dos últimos 20 anos. A viagem emocional de Ico e Yorda é especial, mágica e trágica, bela e assustadora, e a banda sonora acompanha estas mudanças e contradições temáticas ao longo do jogo.

Adoro o minimalismo das composições, das suas diferenças temáticas e da forma como equilibram perfeitamente a luz e a sombra que premeiam a narrativa do jogo. É, sem dúvidas, um jogo de equilíbrios, onde o seu lado mais adorável, jovial e até ingénuo dá lugar à realidade dura do castelo e dos seus habitantes. De rituais a sacrifícios falhados, ICO é tão belo como soturno.

Shadows of the Damned

É impossível falar em música sem mencionar Akira Yamaoka. Vou, no entanto, evitar o seu trabalho em Silent Hill e debruçar-me sobre Shadow of the Damned, uma das suas primeiras colaborações com Goichi Suda e a Grasshopper Manufacture. Mesmo distante da cidade perdida no nevoeiro, Yamaoka traz-nos mais uma banda sonora variada, muito consistente e que transpira mistério, sensualidade e terror.

Shadows of the Damned é um jogo esquecido, vítima de uma produção atribulada e de várias mudanças radicais de design, mas surpreende na banda sonora. Yamaoka conseguiu equilibrar o seu estilo Punk com Jazz, infusão e músicas mais melódicas, tudo repleto de sensualidade. A desconstrução da masculinidade tóxica, do machismo e lutas de poder que deram alma ao jogo, passam perfeitamente para a música, tanto nos momentos mais dramáticos, como nos cómicos. É um pacote completo do princípio ao fim.

Evergrace / Forever Kingdom

Numa entrevista com o site RocketBaby, Kota Hoshino descreveu o seu processo de composição como “uma busca pelo som da realidade”. Hoshino é responsável pela banda sonora de vários títulos da FromSoftware, incluído as séries Armored Core e Shadow Tower, mas Evergrace, lançado em 2000, trouxe-lhe uma notoriedade que, seguramente, não estava à espera. Ouvindo Evergrace, longe do jogo e da sua jogabilidade, este é o significado do som da realidade para Hoshino:

O experimentalismo de Hoshino, muitas vezes confundido com falta de talento pelos menos atentos, revela um interesse no diferente, no irregular e menos tradicional, quase como uma recusa dos métodos de composição mais tradicionais. Há uma ferocidade nas suas músicas, uma cacofonia que demonstra uma busca por algo novo, irreverente e que consiga conciliar a vida e a energia num só. A utilização de vozes, por exemplo, como um instrumento principal, em especial em Evergrace e na sua sequela Forever Kingdom, funcionam em prol dessa determinação, como gritos, exaltações e libertações de raiva, amor e tensão. A percussão exaustiva, muitas vezes provenientes de samples, acaba por equilibrar a loucura por detrás destas bandas sonoras.

É difícil de ouvir, de compreender e adorar à primeira – e ainda bem. Há muito para descobrir e apreciar, não só pela sua irreverência, mas também pela sua tenacidade. Há amor. Evergrace e Forever Kingdom não se destacam pela jogabilidade, gráficos ou mecânicas, mas sim pelo trabalho de Hoshino, e garanto-vos que não ouvirão nada semelhante no género. É fascinante perceber como a FromSoftware nunca teve medo em arriscar e em criar algo diferente da norma. Pode ser uma questão de gosto ou de amor pelo experimentalismo, mas acho que algumas composições são verdadeiramente boas e de fácil audição.

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