Por esta ninguém estava à espera.
Nem eu, nem vocês que já estavam livres deste cantinho pimba e dos trocadilhos forçados sobre relações amorosas e jogos, mas como todas as boas histórias têm reviravoltas inesperadas, a minha não foi diferente. Não é que me deram alta? Não é que a minha cirurgiã que passa a vida a voar, olhou para mim, disse que estava tudo um esbedáculo e disse que podia voltar à vida real, mas passadas duas semanas de trabalho, isto voltou a abrir para me mandarem para casa e para a cama mais duas semanas?
Cá estamos: eu; a minha Nintendo Switch; a trilogia original do Dragon Quest. Não a deixei de jogar nestes dias, mas como voltei ao ritmo de trabalho e da lide doméstica, o nosso tempo reduziu e esmoreceu, mas agora estamos os dois na cama, sobre um edredão azul polar e a coisa está estranha. É que enquanto estava de alta e a jogar o primeiro Dragon Quest com o seu design aberto, batalhas aleatórias exageradas e história a deixar a desejar, ter algo a passar na televisão era o recomendado para não morrer de tédio. Atenção, eu acabei por gostar do Dragon Quest (e do 2), mas há que sintonizar a cabeça para os anos 80 e ver que na altura não havia muito para jogar como hoje, portanto enterrar horas e horas à procura do próximo fio narrativo passava-se bem. Eu fi-lo com outros jogos.

Acabei o primeiro e o segundo Dragon Quest desta maneira, com uma série a passar enquanto fazia grind. Qual? The Pacific e Parks and Recreation. E deixem-me dizer que as dez batalhas por minuto passaram a correr e ganhei uns bons níveis para ir ao último vilão. Do primeiro, porque no segundo a dificuldade disparou estupidamente, obrigando-me a treinar entre dez a quinze níveis. E, ainda assim, quando lá cheguei, o bicho não estava a dar tréguas, mas à décima tentativa, os deuses do RNG foram para o meu lado e consegui acabá-lo sem que me atacasse (muitas vezes).
Pois agora estou no quarto, a Internet aqui é uma lástima para fazer streaming e tenho o Dragon Quest 3 para começar. Por um lado, dizem que este é dos melhores com uma história mais sumarenta, por outro espera-me mais grind old school. Solução? Ou agarro neste toiro pelos cornos e definho na cama a lutar até mais não, all work and no play makes André a dull boy, ou dou uso à minha mais recente descoberta: os audiobooks!

É isso, nestes últimos dias comecei a passear por aí a ouvir o livro The Fall of Gondolin, de J.R.R. Tolkien, e as minhas expressões faciais durante as batalhas e as mortes trágicas enquanto esperava pelo semáforo eram uma coisa de se ver; parecia o maluquinho da aldeia, mas caramba se não era épico!
E vai ser assim mesmo: vou tirar o som ao jogo, vou meter o livro ao máximo e desbastar hordas de slimes enquanto Samuel e Timothy West narram a tragédia de um dos bastiões mais belos e secretos, Gondolin.
Até breve, mas esperemos que não!
