Este artigo terá spoilers de Final Fantasy XV
Vamos ao último artigo porque já não faz sentido continuar por já não estar na cama e já não fazer pensos. E o último tema será Final Fantasy XV por duas razões: por ser uma jornada de um jovem príncipe para se tornar no rei e porque a última vez que o joguei foi em 2016 sem quaisquer expansões e melhorias.
Se existem paralelismos aqui, não é por mero acaso; numa mão temos a minha jornada de lesma acamada até evoluir para uma borboleta retornada à rotina laboral e social – qual rei! e noutra, porque remete ao artigo de Breath of the Wild e como voltei à expansão de Hyrule passados anos.
Vamos a isso:
Duas grandes diferenças entre os dois jogos, Zelda saiu completo; Final Fantasy XV saiu retalhado, conturbado e a beneficiar de mais um ou dois anos no forno, mas adorei-os na altura. Não costumo comprar DLC ou expansões, a menos que valham a pena ou acrescentem algo de valor, ou não tenham pinta de terem sido cortados do jogo para ganharem um euro fácil. Ambos conteúdos caíam na segunda categoria e esperei por promoções.
Há dias, durante as ofertas de Ano Novo, aproveitei para surripiar o Royal Pack + Episódios e tive para mim que era altura de voltar a Eos e ver o que fora mudado e expandido. E deixem que vos diga, a diferença entre o jogo de antes e de agora é da noite para o dia. Parece mesmo um jogo diferente, um jogo completo e o jogo que deveria ter sido. Perfeito? Epá, não. O jogo continua retalhado e um pouco esquizofrénico devido a uma má gestão da Squenix, anúncios precoces, troca de directores e dramas tais. E isso nota-se nas duas partes do jogo: o mundo aberto versus a narrativa linear, mas disse-me logo que não ia perder tempo na primeira parte nem em fetch quests da treta.
Sorte que o jogo ganhou um New Game + e pude manter os meus níveis, habilidades e itens. Com a minha equipa nos níveis 75 para cima, foi como cortar manteiga no verão e o jogo só ganhou com isso.
Antes de mais, não havia necessidade deste mundo aberto, mas saiu numa altura em que todos namoravam a ideia de terem mundos enormes para explorar, mas esqueceram-se do importante: criar um mundo interessante e com coisas para fazer. Eos é linda de morrer, mas é aborrecida e bastante pobre. Tirando algumas hunts, as restantes missões são uma perda (nunca perca!) de tempo.
O verdadeiro sumo está nos segmentos lineares quando visitamos as estações de serviço e as enormes cidades. Sabem? Como nos antigos Final Fantasy… Mas vamos aos remendos à história: houve secções expandidas, como a introdução e a motivação do grupo, e cutscenes adicionadas para que algumas partes fizessem sentido como o fim de alguns vilões. As reviravoltas sacadas do rabo também passaram a ter algum contexto e houve um nível que teve uma secção extra mais acessível para quem quisesse saltar a seca – falo do capítulo 13, mas aconselho a jogarem as duas partes para terem uma visão mais abrangente e completa.
Os episódios para cada personagem, quase sinónimos de roubo, que deviam ter estado logo de início são, bah, muito bons pelo que adicionam ao enredo e ao desenvolvimento de cada amigo. O de Gladio é o mais fraco, mas vale pelo combate e por alguns vilões cameo da série; o de Prompto explica a revelação no jogo base e expande a questão de identidade, dando-nos uma Aranea como companhia. Mas o melhor, sem sombra de dúvida, é o de Ignis, que vem explicar o acidente do homem. Não só desenvolve a sua personagem como a de Ravus e, como se não bastasse, inclui um Extra Verse que é um final alternativo a FF XV que foi de levar ainda mais às lágrimas. Se eu já tinha gostado do final original, este é tão, mas tão bom. Se não é um feliz para sempre, é quase isso. Por último, o episódio de Arydn que conta as suas origens como homem pio e como se tornou num vilão interessante.
Cada episódio introduz mecânicas diferentes que vieram para o jogo, permitindo trocar entre personagens. Ah, e os episódios de colaboração com Terra Wars e Final Fantasy XIV são lindos.
Num todo, o enredo de XV não é difícil de seguir, mas o lore pode ser confuso, principalmente quando está espalhado por vários formatos. Aliás, ainda falta um livro com os DLC cancelados. Dentro do jogo, também temos revistas, rádio e conversas para ouvir para não perdermos nada, mas a história? Essa é fácil:
É um tipo que vai de viagem com os amigos para casar com uma tipa que não vê há anos; não se amam e duvido que sejam muito amigos, mas o respeito que nutrem um pelo outro é gigante e o sentido de obrigação da parte dela é ainda maior. Ambos os jovens têm um papel a desempenhar para terem uma chance em acabar com a guerra, mas estas coisas nunca são fáceis. O Império invade Lucis e o casamento vai para o galheto.
Agora, o jovem tem de ganhar juízo, recuperar as Royal Arms, o anel, o cristal e obter a ajuda dos Astral pelo caminho. É bastante e senti alguma falta de organização de ideias. Ora estamos a explorar os túmulos pelas armas, ora já não são obrigatórias. Depois já são, depois não são; fazemos ali uns desvios para os Astral e quando acaba a confusão voltamos às armas.
Se tiver de ser treinador de bancada, a missão principal deveria ser apenas os Astral, enquanto seguimos a Luna que tem o anel. Como o cristal está no último “nível”, não entra na equação. As Royal Arms deviam ser facultativas e vistas como bónus para facilitar a última luta: quantas mais tivéssemos, mais fácil se tornaria.
E uma pequena achega por falarmos na Luna, acho que esta versão fez-me gostar mais dela. Não a achei uma donzela em perigo, mas alguém com uma imensa força, adulta e consciente da sua vocação. Se daria um bom membro para a equipa? Capaz, mas eu gostei da sinergia dos quatro rapazes, da sua irmandade e dos laços fortíssimos que levaram até ao fim.
Quase tudo dito, este Royal Pack aumentou a minha consideração pelo jogo. Se já era dos meus favoritos, e com uma banda sonora divinal, solidificou-se no meu topo pessoal de Final Fantasies. E isto levou-me a dois pensamentos: 1. talvez deva dar uma oportunidade a Final Fantasy XIII e sequelas….; e 2. vem aí outro Final Fantasy retalhado que poderá só ser bom daqui a uns anos quando saírem todas as fatias deste bolo nostálgico…, mas vamos atravessar essa ponte quando lá chegarmos.
Se leram, foi um prazer ter-vos desse lado. Se não leram, têm agora tudo completo. A todos, bons jogos, boa saúde e, se um dia tiverem na mesma posição, despachem esse backlog. E como é apanágio desta rubrica com um título pimba, aqui vai a metáfora: Final Fantasy XV pode ser aquela namorada que tivemos no liceu. E o fim chegou não porque a chama se apagou, mas porque éramos jovens, imaturos e ignorantes de nós mesmos e pessoas incompletas. O amor continuou e os anos avançaram.
Encontramos essa pessoa por aí e quando metemos a conversa em dia, constatamos que ambos crescemos e amadurecemos; que as peças em falta tornaram a outra pessoa melhor – um melhor companheiro. Ou não, também pode acontecer a pessoa ter piorado. Mas isso é sempre um risco, nesse caso: