Portanto, nesta altura do campeonato já todos jogaram Death Stranding, certo? Espero bem que sim, porque aquilo que quero apontar é breve, mas ao mesmo tempo um enorme spoiler.
Não é um spoiler que altera o rumo da história, mas sim algo inesperado que acontece perto do terceiro ato do jogo, mesmo quando entramos no clímax e algumas das peças começam a fazer sentido.
Esta cena, em particular, é uma daquelas que previ que ia irritar muita gente, com um efeito muito maior do que o product placement das latas da Monster Energy. Isto, porque é uma referência que não só quebra a quarta barreira, como arruína o tom do momento. É um momento que só quem tolera “Kojimices” é que consegue abraçar rir e aceitar e que, pessoalmente, porque o Kojima não tem medo de brincar e de piscar os olhos ao público mesmo quando as estão demasiado sérias.
A cena em questão é esta: SPOILERS
E aqui está. Kojima, que define Super Mario como a sua maior inspiração em game design, conseguiu meter uma referência à mascote da Nintendo com a subtileza de um tijolo atirado às nossas caras. É parvo, é ridículo e o follow-up é do mais anime que pode existir.
Mas talvez o mais “grave”, para muitos, seja a reação de Amelie, que responde que é a “Princess Beach.” Mais uma vez, a subtileza não é a palavra de ordem, mas é uma resposta interessante. Isto porque a Amelie não faz ideia de quem é que Sam está a falar.
Mais tarde, o jogo revela que Amelie não existe no mundo real e que é uma entidade que existe no plano dos mortos. A sua interação com a humanidade é desprovida de qualquer referência cultural, apesar de ter “nascido” de Bridget quando esta tinha apenas 20 anos.
Sam, no entanto, sempre viveu no mundo real, mesmo crescendo numa era à beira da extinção, e o jogo faz questão de nos revelar que a preservação cultural das artes e da história acompanha o dia a dia dos sobreviventes, alguns deles até coleções de filmes, livros, jogos e consolas fazem. Não é difícil de imaginar um pequeno Sam a jogar numa NES no quarto de uma Knot City.
O que pretendo dizer é que a resposta da Amelie não é só hilariante, como é também de uma enorme inocência, adorável até. Uma inocência que espelha o mundo real. Nem todos são ”gamers” ou sabem sequer pegar num comando. A minha avó (que viveu durante toda a evolução dos videojogos até ao presente) certamente não sabe quem é o Mario, quanto mais a Princess Peach, por isso uma resposta assim não só seria realista como me fazia também cair no chão a rir.
Por muito ridícula que seja, há algo que esta cena faz e faz muito bem, que é acrescentar uma nova camada à personagem Amelie. Torna-a completa, dá personalidade a uma personagem que é, na maioria do tempo, vazia e desinteressante, e torna-a mais humana do que uma simples entidade interdimensional que planeia destruir o universo.
É uma boa cena.
