Por: Vlad Chernyshov
Com a mudança de nome para eFootball, pode-se dizer que o intuito era sair da sombra do rival e apostar com força no online e nos eSports, uma das grandes tendências atuais. Este poderia ser um ponto de viragem para a série PES, mas será que o foco no online foi a aposta certa e será que a realidade consegue igualar a promessa? A resposta é “por enquanto não”.

O novo nome é um pouco irónico, pois no online não existem grandes mudanças e infelizmente o mesmo se diz dos modos offline. Se tivesse de adivinhar, diria que este ano o objetivo foi apenas um: aprimorar o que já tem de bom. Talvez este primeiro eFootball seja isso, um pezinho na água para ver se a temperatura está boa antes de se atirar de cabeça com alterações significativas. No entanto, isso não tem de ser necessariamente mau, pois nem sempre a mudança equivale a sucesso ou qualidade.
Começando pela jogabilidade vou ser sincero: eFootball PES 2020 é certamente o melhor jogo desta série. Gosto muito de PES 2019 e acho a jogabilidade fantástica, mas este ano, como não foi feito o tal salto de cabeça, foi possível melhorar o que já era muito bom. eFootball 2020 recebe vários ajustes e adições (e ainda tem consultoria do mágico Iniesta) com um resultado simplesmente divinal (e também mais real).
É mais fácil falhar um passe, é mais fácil perder a bola ou falhar aquele remate que daria a vitória, mas isso só acontece por termos um jogo mais realista com mais elementos a ter em conta. O posicionamento, os atributos físicos, o movimento, tudo isso impacta muito mais os nossos jogadores. Não é possível acertar aquele passe milimétrico quando se está a sprintar na direção oposta. Da mesma forma como não é possível fazer um remate super preciso e meter na gaveta enquanto se está a cair. Mas ao mesmo tempo, conseguir um fantástico passe ou um golo incrível é mais marcante. Isto resulta numa experiência que a um olhar menos atento, parece ser imprecisa mas é na verdade mais autêntica, real e também mais entusiasmante.

Existem várias melhorias nas animações, nos movimentos, nos dribles e no primeiro toque. Com esta sensação mais realista, o jogo torna-se mais entusiasmante e menos previsível. No entanto, para mim a grande novidade são as faltas intencionais. Temos agora ao nosso dispor um sistema de último recurso para travar aquela jogada flagrante. Sim, já não é preciso tentar fazer um carrinho maroto e levar um cartão vermelho, pois bem utilizado, podemos só puxar a camisola em troca do cartão amarelo.
No entanto, nem tudo é um mar de rosas, pois a inteligência artificial peca em vários aspetos, sendo aleatória em momentos. Em algumas jogadas, a IA tem aquela ideia brilhante de se desmarcar e criar situações fantásticas, mas noutras jogadas, fica parada a olhar para os pombos. Existem momentos nos quais a bola passa lentamente pelo defesa, que fica parado a olhar para ela, a pensar no seu jantar de hoje, mas noutras situações faz o corte perfeito. Pior ainda está o árbitro, pois já levei pernas comigo para casa sem faltas serem marcadas ou cartões dados. Mas também já vi faltas inexistentes a resultarem em grandes penalidades. No fundo, o árbitro decide o que quer quando quer, um pouco como na liga portuguesa de futebol.
Em relação aos modos de jogo, este ano eFootbal deu um passo em frente, dois para o lado e um para trás – e ainda tropeçou. Apesar do “e” no nome, existem poucas mudanças no online. O MyClub não tem alterações relevantes, para a Master League a Konami prometeu mudanças e até a chamou de “Master League Remastered”, mas após começar a minha carreira a solo, chego à conclusão que de remastered não tem muito, e o modo “Become a Legend” teve ainda menos alterações.
Onde tenho de tirar o chapéu é nos menus, pois este ano alguém nos escritórios da produtora nipónica ouviu as minhas preces e eFootball abandonou aquele esquema de menus arcaico em prol de alterações positivas. Os menus são mais simples, mais focados, mais rápidos e mais eficientes. Não só é mais fácil como é mais rápido começar a jogar. Ainda existem alguns pontos menos positivos e pontos de melhoria, mas é certamente um grande passo na direção certa. Estas alterações foram feitas tanto no ecrã inicial como dentro dos modos de jogos (à exceção do MyClub, que ainda está um pouco caótico).
Olhando agora para os modos de jogo, a grande adição nesta época desportiva é o MatchDay, um novo modo de jogo que coloca a comunidade a competir. Funciona de forma muito simples. A Konami pega em jogos reais e nós os jogadores temos que escolher um lado para apoiar, e depois consoante a nossa performance iremos ganhar pontos para a nossa equipa. Após vários jogos, os melhores jogadores serão escolhidos para representar a sua equipa numa Grande Final que será transmitida dentro do jogo. Parece muito giro, não é? No entanto, é um modo limitado a uma janela especifica de 3h, das 15h as 18h. Não sei quem teve essa ideia, mas eu das 15h às 18h ainda estou a trabalhar.

Nos restantes modos, as mudanças são muito superficiais e trazem novos problemas em vez de corrigir os existentes. Por exemplo, a Konami fala da introdução de dados reais do mercado de transferências no jogo para assim o aproximar da realidade. Mas quando a primeira proposta que o Sporting recebe pelo Bruno Fernandes é de 150 milhões de euros, acho que está tudo dito. Também temos a opção de escolher o nosso treinador dentro de uma lista de nomes icónicos e com isto aparecer em cenas cinemáticas com algumas opções para falar, seja à imprensa ou com a equipa. Estes momentos são supérfluos e monótonos, sem grande impacto para o jogo ou para a equipa. Francamente, atrevo-me até a dizer que são um pouco assustadores, com uma música de fundo genérica, e constante, enquanto de uma forma surreal os lábios do treinador se movem sem som, simulando a conversa e com os seus olhos a denunciar a sua ausência de alma (aqui talvez a culpa tenho sido minha por escolher o Maradona para o meu avatar). Assim, as alterações que tivemos foram superficiais com o intuito de introduzir um pouco de vislumbre a este modo de jogo, mas quando se olha para o lado e temos a série NBA2K, a comparação dá vontade de rir… e chorar.
Também para adicionar vislumbre, temos a luta do costume: as licenças. Nesta época desportiva, a Konami e eFootball foram à luta para trazer nomes sonantes e licenças importantes. Este ano, eFootball é o único lugar onde se pode jogar com a Juventus, um dos novos parceiros exclusivo da Konami. Individualmente, tem estado a atacar e a trazer licenças importantes, mas muitas das principais ligas e equipas ainda estão do outro lado da muralha. Apesar do Option File resolver, continua a ser frustrante ter que jogar com estas equipas com nomes inventados. Para além das equipas, ainda existe o licenciamento dos estádios e após a novidade do ano passado que foi o estádio do Sporting a chegar às consolas, este ano, com muita pena nossa, a liga NOS não teve novidades. No entanto foram adicionados alguns estádios incríveis como a casa da Juventus ou do Bayern.

Todavia, apesar dos estádios estarem recriados de uma forma fantástica, algo que ainda peca bastante é o ambiente que se vive nestes. Desde os fãs às faixas, falta muito para recriar a verdadeira magia do que é o ambiente no estádio. Devo dizer que as faixas que dizem “Queremos gritar gol”, continuam a chatear bastante, pois não só são extremamente genéricas e iguais para todas as equipas, como também não estão escritas corretamente. Outro aspeto que também não ajuda no ambiente é a mediocridade dos comentadores, que se manteve de PES 2019 para eFootball 2020 sem alterações. Parece-me que já está mais do que na hora do sr. Freitas Lobo mudar de carreira, pois os seus comentários insípidos, sem emoção ou dinamismo, com os mesmos problemas do costume, não fazem falta em eFootball 2020, mas infelizmente estão de volta.
Se eFootball PES 2020 fosse um carro, seria apenas um modelo mais potente que o anterior. O motor é um pouco mais potente, os bancos são em cabedal, mas aqueles problemas habituais ainda estão lá. Faltou à Konami ser um pouco mais arrojada e trazer mais mudanças nos modos de jogo, pois assim é difícil justificar o salto de PES 2019 para eFootball 2020. De qualquer forma, estão aqui muitas horas de diversão, com uma das melhores jogabilidade num jogo de futebol.

O código de análise (PS4) foi cedido pela Ecoplay.