Oninaki e as barreiras do género

Não é por acaso que o nosso colega Canelo é o rapaz dos jogos japoneses aqui no GLITCH. A sua experiência no género, acumulada por séculos somados em jogos da terra onde o sol nasce, tornaram-no tolerante a muitos dos clichés que esses títulos carregam.

Eu, por outro lado, apesar de não ser muito mais novo, tenho uma experiência reduzida no que toca aos jogos em geral. Entrei neste mundo muito tarde e com gostos por géneros muito definidos, sob rodas, com bolas ou com ação mais ao estilo ocidental.

Por causa disso, RPGs na sua generalidade, jogos de fantasia e muita coisa vinda do Japão (onde posso mesmo indicar Final Fantasy e os seus clones ou Metal Gear), ficaram de fora da minha formação de jogador, e só há duas gerações para cá, com os títulos mais recentes, é que finalmente descobri alguma destas séries.

Apesar de consumir muito anime e cinema japonês, a minha aposta recente em jogos orientais tem sido nos últimos anos uma aventura cheia de descobertas, percalços, surpresas e desilusões. Primeiro, procuro sempre uma boa história, ou um bom conceito, e só depois é que me preocupo com as suas mecânicas, algo que me leva a um estado de negação e confusão quando encontro algo que penso ser “a minha cena”, mas, por causa do formato de jogo ou das mêcanicas que apresentam, acabo por ficar fora do circulo.

Mas com um sistema de combate mais virado para a ação, pensei que Oninaki poderia ser mesmo um jogo capaz de mudar a minha opinião. Mas não.

A série Final Fantasy é um excelente exemplo. Pokémon, no entanto, foi a única série que, desde o inicio, joguei e tolerei os sistemas por turnos. Não me lembro de ter interesse em querer jogar mais algum jogo neste formato, mas lembro-me de querer muito experimentar a série Final Fantasy desde que me lembro. Em particular, desde o lançamento de Final Fantasy VIII (que recebeu agora uma remasterização), que ocupava o espaço da loja de computadores, de onde trouxe o meu, com banners e cartazes.

É triste, mas o meu primeiro Final Fantasy, que joguei do inicio ao fim, foi na realidade XV, porque foi o único onde tolerei as mecânicas de jogo. E com este contexto chegamos a Oninaki, outra obra da Square-Enix, que me caiu no PC para me aventurar entre o mundo dos vivos e dos mortos, acompanhado por fantasmas presos no limbo.

Oninaki é um jogo completamente diferente de Final Fantasy, apesar de ter os mesmos padrinhos. É um RPG de ação, com uma jogabilidade bastante simplista, com alguma profundidade no que toca à gestão de habilidade e companheiros. Tem uma perspetiva isométrica, semelhante à série Diablo, que nos deixa observar com atenção toda a ação do ecrã e conta com visuais animados bastante adoráveis, que servem de contraste para um jogo com temas pesados e mensagens bonitas. O facto de ter um sistema de ação rápido e acessível, até para a minha avó, e os restantes elementos estarem dentro daquilo que eu tolero, Oninaki faz algo que, como seria de esperar pelo texto, não tolero muito.

Apesar de ter os seus fãs, não consigo apreciar esta aposta nos diálogos estáticos. Não consigo retirar grande emoção ao ver três personagens paradas a falarem sobre tudo e mais alguma coisa.

“Holy dialogues, Batman!” Apesar do conceito interessante que o jogo apresenta, é difícil manter-me investido quando todas as suas conversas são desprovidas de vozes e carregadas de caixas de texto com filosofias de vida quando aquilo que se pretende é andar a matar monstrinhos no ecrã. É difícil quando o jogo nos apresenta estas interações periodicamente entre objetivos ou na exploração, e fá-lo da maneira mais japonesa possível, com as personagens em lados opostos no ecrã do plano a soltarem breves reações e fazem pequenos gestos enquanto o texto aparece no ecrã.

Sem qualquer tipo de escolhas e com uma apresentação que parece mais limitada aos recursos de produção do que a uma escolha meramente artística, sinto que Oninaki podia fazer mais. Cada vez que o jogo me apresentava partes de diálogo, ou abria as suas portas convidando-me para explorar, a vontade acabava sempre por ser de desligar, até porque o meu OCD obriga-me a ir a todas as pessoas com o balãozinho, ao mesmo tempo que, na realidade, não quero lá muito saber do que elas têm para dizer.

O jogo tem, felizmente, alguma personalização no que toca às habilidades do protagonista e é possível combinar vários demónios em combate. Mas quando a história nos retira de tal maneira do jogo, é possível ver as mecânicas por si só? Fica a questão.

É comum encontrar jogos assim e a pouco e pouco o género que, recentemente mais pica tinha para jogar, começa a ser aquele que mais sinto vontade de me afastar, neste caso o RPG. Talvez Oninaki não seja o melhor ponto de partida, até porque a jogabilidade também não me agarrou, mas sinto que a curiosidade matou um pouco o gato. Será este o fim da minha viagem pelo mundo dos RPGs orientais? Não o consigo dizer, o hype é o que me move – admito-o –, mas a verdade é que existe um padrão que identifico facilmente. Diálogos extensos e melodramáticos? Não, obrigado. Venha o próximo.

O código (Steam) foi cedido pela Ecoplay.

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