Com Agosto a chegar ao fim e com a época mais intensa de lançamentos mesmo ao virar da esquina, temos um último olhar sobre as novidades deste verão antes do calor desaparecer e das obrigatoriedades da vida recomeçarem. Para regressarmos ao trabalho, temos dois jogos com ideias interessantes, mas que pecam ao dar-nos jogabilidades repetitivas e conceitos mal aproveitados. Assim é a vida e este final de agosto.
Redeemer: Enhanced Edition
Depois de um lançamento algo esquecido no PC, Redeemer estreia-se agora na PS4, Xbox One e Nintendo Switch, dando aos fãs de ação e de combates sangrentos uma campanha muito clássica e linear. Com um estilo visual muito próximo das produções de série B e com uma história saída de qualquer filme de ação da década de 1980, Redeemer promete muito, mas faz pouco com a sua fórmula, transformando-se rapidamente num simples beat’em up sem grande personalidade.
Redeemer vive muito do seu estilo exagerado e da sua aposta na violência, colocando-nos constantemente em combates sangrentos com várias armas à disposição. As combinações entre murros e pontapés são o grande foco do sistema de combate, com o nosso monge a preferir matar os seus inimigos com as suas próprias mãos, ainda que disponha de um arsenal muito variado. Existe ainda um sistema de evolução inesperado, mas interessante, que nos permite evoluir cada parâmetro da personagem através da utilização constante das suas habilidades mortíferas.
Apesar de seguir um modelo e uma perspetiva semelhantes a Hotline Miami, Redeemer é muito diferente do título da Dennaton Games, dando-nos uma experiência mais próxima dos clássicos do género beat’em up. Não só os níveis são mais extensos e apresentam um maior número de caminhos alternativos e de abordagens como o jogo assume um ritmo muito mais lento e focado no ataque e contra-ataque, juntamente com a possibilidade de seguirem uma abordagem mais furtiva. É um comparação um pouco infeliz, na minha opinião, e que acaba por dar a Redeemer uma força e um estilo que não merece, especialmente quando evita uma via mais arcada e mais divertida, assumindo uma estrutura mais próxima de um típico jogo de ação, quando a sua jogabilidade pedia por um maior foco no combate e na variedade de abordagens.

Redeemer peca muito na repetição e na falta de elementos que o destaquem, acabando por se transformar numa experiência muito similar entre níveis. Apesar de apresentar vários tipos de inimigos, os combates seguem sempre o mesmo modelo e não evoluem ao longo da campanha, com os bugs e a falta de um estilo visual mais apurado a condicionarem a qualidade do jogo. É um mau jogo? Não, mas está longe de ser obrigatório.

The Church in the Darkness
Inspirado pelos acontecimentos de Jonestown, em 1978, The Church in the Darkness transporta-nos para um mundo de loucura e religião com um conceito interessante, mas pouco aprofundado. Assumindo uma estrutura próxima de um roguelike, alterando certos elementos da sua jogabilidade sempre que morremos, o jogo de ação e aventura coloca-nos num acampamento em busca de um familiar, com a campanha a dividir-se por vários objetivos e finais alternativos, apostando na repetição e na própria ingenuidade dos jogadores.
The Church in the Darkness traz-nos uma perspetiva de cima para baixo, com a ação a decorrer através de um mapa fixo e dividido por várias zonas de interesse. No início de cada campanha, temos de descobrir a localização de várias personagens que nos podem ajudar a encontrar Alex, o nosso familiar, e a escapar do acampamento ileso. Para tal, temos de navegar os cenários algo labirínticos e pouco apelativos em busca de recursos e de pistas, com o jogo a conciliar a experiência roguelike com mecânicas mais próximas da sobrevivência. E como recomeçamos do zero sempre que recomeçamos, temos de aprender com cada derrota e conhecer o mapa aos poucos, conseguindo evitar o conflito ao máximo. Aliás, o jogo foca-se muito mais na furtividade do que na ação, dando-nos a possibilidade de nos escondermos em várias partes do cenário e de vermos o cone de visibilidade dos inimigos. Se jogaram Metal Gear Solid e Volume, sentir-se-ão em casa.
A aposta num cenário mais real e profundamente mais humano e perturbador é um dos destaques do jogo, com os dois lideres do culto religioso, Isaac e Rebecca, a controlarem os seus discípulos com um punho de ferro. The Church in the Darkness consegue passar esta ideia de lavagem cerebral, de fé desmedida e de loucura através das pequenas história que conta, mas peca ao não nos dar uma campanha mais linear e focada na sua história. Este é um tema que merecia algo mais detalhado e profundo, e não uma estrutura tão assente na repetição e na jogabilidade pouco interessante. À medida que recomeçamos, temos acesso a novos finais e a novas perspetivas e ideais dos lideres – que podem ser mais violentos, por exemplo, que mudam de campanha para campanha –, mas nunca deixamos de sentir que estamos a encontrar os mesmos eventos e a descobrir as mesmas informações que encontrámos da primeira vez. E com essa repetição, o jogo perde a sua alma.

The Church in the Darkness vive muito do seu conceito e não consegue dar-nos uma experiência mais equilibrada e até envolvente. A aposta no modelo roguelike irá satisfazer alguns jogadores, mas existe pouco para descobrir neste mundo supostamente profundo. É empolgante durante as primeiras tentativas, mas torna-se claro que não irá evoluir para além da sua ação furtiva e da constante repetição da campanha.

Os códigos para análise (PS4) foram ambos cedidos pela Evolve (através do Terminals.