Passaram dez anos desde o lançamento de Marvel Ultimate Alliance 2. Em dez anos, vimos a chegada de novas consolas, a ressurreição da Nintendo e, principalmente, assistimos à construção do maior universo cinematográfico da cultura pop, com a Disney e a Marvel a criarem umas das séries mais rentáveis da história do cinema.

Mas o que significam, na verdade, estas mudanças para Marvel Ultimate Alliance 3: The Black Order? O exclusivo da Nintendo Switch parece ter adotado o tom e a personalidade das adaptações cinematográficas, afastando-se, tanto a nível de guião como do próprio estilo visual, dos dois títulos originais. The Black Order é um monstro completamente diferente, fruto da crescente popularidade da Marvel fora das bandas desenhadas e um produto que é, por vezes, vítima do seu próprio legado.
Não pensem que Marvel Ultimate Alliance 3 é um mau jogo, longe disso. Como um RPG de ação, com foco na cooperação entre jogadores, é um jogo muito competente, cheio de mecânicas e uma enorme variedade nos ataques e nos heróis que disponibiliza. A campanha é também extensa, repleta de referências às famosas séries dos quadradinhos, como a The Infinity Saga – onde se inspira para construir a sua narrativa –, mas com uma influência cada vez mais clara das versões cinematográficas das mesmas.
No que toca ao combate, Marvel Ultimate Alliance 3 pode ser um pouco confuso. Ao controlarmos quatro personagens em simultâneo, que podem ser alternadas em combate, as arenas transformam em verdadeiros espetáculos de luz, com poderes especiais, ataques poderosos e outros efeitos a tomarem conta do nosso campo de visão. As batalhas são também protagonizadas por hordas de inimigos, de uma variedade pouco convincente, e por objetos destrutíveis que podemos retirar do cenário e utilizar a nosso favor. É um verdadeiro Battle Royale – se é que mo permitem dizer. Já online, só poderão controlar uma personagem.

A variedade parece ser a palavra de ordem, ainda que os cenários sejam aborrecidos e pouco consistente, com o jogo a oferecer um leque impressionante de habilidades especiais e de ataques em equipa, estes últimos a darem origem a combinações ainda mais destrutivas. Cada herói tem os seus próprios golpes e habilidades, e se tivermos em conta o total de ataques que poderemos combinar, percebemos rapidamente que Marvel Ultimate Alliance 3 é um jogo interminável. Como se não bastasse, o jogo oferece ainda um sistema de evolução interessante e fácil de utilizar, e desafios adicionais que desbloqueamos ao longo da campanha.
Mas se Marvel Ultimate Alliance 3 é assim tão profundo, qual é o meu problema com o jogo? Bem, um pouco de tudo. Apesar de ser um bom jogo, de B grande, existem problemas graves associados ao combate, nomeadamente na repetição dos níveis, dos cenários e das combinações. Mesmo com a presença de vários heróis e de inúmeras habilidades, Marvel Ultimate Alliance 3 acaba por cair no triste fado do “ataque rápido, ataque rápido, ataque pesado”, sem nunca conseguir sair dele. Claro que isto irá depender da imaginação e da dedicação de cada jogador, mas Marvel Ultimate Alliance 3 comete outro pequeno erro ao dar-nos bosses que são verdadeiras esponjas. Para complicar ainda mais esta repetição enfadonha, cada boss tem uma barra de “stagger” que terá de ser diminuída para podermos atacar diretamente os seus pontos de vida. E infelizmente, irão repetir este processo do princípio ao fim.

Ainda que não tenha problemas com o estilo visual mais cartoon, antes pelo contrário, apercebi-me de alguns problemas de performance, tanto na TV como no modo portátil. O jogo tem quedas de frame-rate constantes, as animações são um pouco limitadas e as texturas tanto das personagens como dos cenários ficaram aquém do esperado. A falta de imaginação dos níveis, que se resumem a corredores intercalados por salas mais expansivas e por quebra-cabeças, é também um dos maiores problemas deste exclusivo da Switch.
E por fim, temos a câmara. Consigo compreender o objetivo da Team Ninja, mas não consigo perceber como chegaram a um sistema de câmara tão inconsistente e pouco funcional. A ideia foi simples: dar aos jogadores dois tipos de câmara. Nos momentos mais lineares, Marvel Ultimate Alliance 3 apresenta uma câmara fixa, mas em combate e nas áreas mais extensas, o jogo permite-nos controlá-la livremente. E o que acontece quando saímos de uma destas salas para um corredor mais linear, mas a câmara mantém livre? Puro caos. A câmara fica constantemente presa no cenário, não consegue acompanhar as personagens e a ação, e nunca nos transmite uma sensação de segurança e de controlo. E para um jogo desta natureza, com combates tão frenéticos, isto é um problema.

Mas Marvel Ultimate Alliance 3: The Black Order é um bom jogo, só que também é um projeto que merecia ser um pouco mais polido, com maior cuidado a nível visual e uma maior variedade nos seus cenários e níveis. É uma enorme viagem pelo universo Marvel que irá satisfazer os fãs de Spider-Man, Iron-Man, Deadpool e companhia, algo que se torna claro desde o primeiro minuto da campanha. Talvez quisesse mais e talvez esteja a ser injusto, mas vejo aqui o potencial para um excelente jogo e não apenas para um bom jogo. Mas temos de pensar positivamente – há sempre um dos universos paralelos.

O código para análise foi cedido pela Nintendo Portugal.