Com a chegada do verão, fui levado a experimentar dois jogos que já haviam despertado a minha atenção através de antevisões e de vídeos de jogabilidade. Mas serão duas boas opções para o início das férias? Apesar de alguns problemas, a sua aposta em tarefas rápidas e partidas curtas é perfeita para este tempo de calma e descontração.
Graveyard Keeper
Depois do lançamento no PC e Xbox One, Graveyard Keeper chegou finalmente à PS4 (e à Switch, iOS e Android). No ano passado, o David teve o prazer de analisar a versão PC e fiquei curioso ao descobrir este jogo que prometia uma jogabilidade bastante variada e assente num leque interessante de mecânicas e tarefas para criar o seu mundo. Graveyard Keeper é um verdadeiro ladrão do tempo, capaz de nos consumir horas de jogo enquanto completamos missões e melhoramos o nosso cemitério, mas há algo que me continua a manter a uma certa distância do seu loop de jogabilidade.
Como um coveiro, a nossa missão é simples: tratar e cuidar do cemitério da aldeia. Para tal, precisamos de completar tarefas secundárias, recolher materiais e cuidar dos campos em redor do cemitério, tentando sempre ter um fluxo constante de dinheiro para manter os reparos. A jogabilidade acaba por se dividir em três fases, sendo necessário cuidar do cemitério, mas também dos corpos que vão recebendo – que necessitam de ser autopsiados e enterrado – e das relações que criamos com as outras personagens. A progressão é interessante e o jogo está constantemente a dar-nos novas missões e tarefas para completarmos, o que nos deixa agarrados à sua jogabilidade simples, mas intuitiva.
Apesar de compreender o objetivo de Graveyard Keeper, e de perceber o quanto estou deslocado neste pequeno género – onde podemos identificar, por exemplo, Stardew Valley –, a verdade é que nunca entrei no seu ritmo, seja no melhoramento do cemitério ou na realização de qualquer uma das atividades adicionais que nos apresenta. Existem inúmeras tarefas para completar, mas o ritmo do jogo acaba por ser inconsistente, obrigando-nos a esperar pelos dias certos e pelas horas mais indicadas para falarmos com uma determinada personagem e avançar com a história. As horas iniciais são especialmente dolorosas neste sentido, mas acaba por ser um trabalho de paciência que eu não tenho.

As árvores de habilidades também podiam ser mais intuitivas e diretas, mas oferecerem tantas opções que rapidamente ultrapassamos esta confusão inicial. Gosto, e devo sublinhá-lo, que exista uma ligação entre a evolução da personagem e a realização de tarefas, com cada habilidade a estar associada a um tipo de atividade (divididas por três cores), algo que nos incentiva a recolher recursos e a criar mais utensílios. Quanto mais recolhemos, mais evoluímos.
Graveyard Keeper é uma experiência muito própria que irá certamente encontrar os seus fãs na PS4 e descobri vários elementos que me fizeram perder horas de jogo. Há, no entanto, algo que parece não encaixar na perfeição, uma sensação que me acompanhou do princípio ao fim e que sou levado a concluir que é um tipo de jogabilidade que não me atrai. Mas fica o aviso: Graveyard Keeper pode não ser o que esperam.

Streets of Rogue
Se a ideia de tomar conta de uma quinta ou de um cemitério ainda é nova para mim, já a vontade de me aventurar por masmorras ou níveis aleatórias tem sido cada vez mais constante. Esta tem sido a geração em que descobri a magia dos roguelikes, dos níveis difíceis, da repetição constante das campanhas e do desbloqueio lento de habilidades e itens para nos auxiliarem nas aventuras – e tem sido uma viagem intensa.
Streets of Rogue é um jogo estranho, na medida em que nos transporta para um mundo louco e repleto de humor onde a jogabilidade cooperativa se alia à estrutura aleatória do género. O objetivo continua a ser o mesmo, o de sobreviver sobre todas as adversidades, mas Streets of Rogue dá-nos um número considerável de personagens, todas elas com as suas habilidades, para utilizarmos quando quisermos – e ainda mais para desbloquear e criar.
Os níveis desenrolam-se quase todos da mesma forma, com os jogadores a serem transportados para cenários curtos, mas repletos de personagens e atividades secundárias. No início de cada partida, somos apresentados com missões que podemos, ou não, completar, ficando a sua resolução ao nosso critério. Streets of Rogue dá-nos uma enorme liberdade e se quisermos ser mais furtivos, podemos sê-lo, mas se não tivermos qualquer paciência, podemos simplesmente disparar contra tudo e todos até encontrarmos o item que nos pediram para recolher ou matarmos a personagem que fomos contratados para assassinar. Tudo em nome da rebelião, claro!

Mas esta sensação de variedade é mesmo o ponto alto do jogo e a sua aposta na liberdade e na junção entre várias mecânicas dão-lhe um estilo muito próprio e difícil de replicar. É um roguelike, claro, mas existem momentos em que parece que estamos a jogar um RPG ou um simulador, como Deus Ex, onde temos várias abordagens para cada situação. Esta variedade está aliada ao número de personagens, mas também a sistemas como a possibilidade de infetarmos tudo e todos com um vírus que os transforma em zombies ou a presença de canibalismo. E sim, isto faz tudo sentido.
Os gráficos são muito simples, mas dão-lhe um charme clássico, com o estilo visual a fazer-me pensar em títulos como Rimworld, devido ao posicionamento da câmara e à aposta em personagens mais pequenas e com animações muito limitadas. Os cenários mantêm esta aposta na simplicidade, mas são destrutíveis, algo que se torna aliciante quando queremos completar uma missão da forma mais explosiva possível.

Felizmente, não podemos dizer o mesmo da jogabilidade, como um twin stick, e das opções que disponibiliza, desde o número de armas até às habilidades que podemos desbloquear. Como um roguelike, é certo que estamos constantemente a recomeçar e que cada morte significa o regresso ao primeiro nível, mas há muito para desbloquear, como habilidades permanentes, e alguns eventos aleatórios para descobrir. Estes eventos injetam alguma surpresa na jogabilidade e é possível encontrarmos níveis onde somos atacados por zombies ou por um robot que nos quer matar.
Streets of Rogue é um jogo muito completo e desafiante, mas que será aproveitado apenas pelos fãs do género. A jogabilidade é desafiante, o seu estilo visual muito simples e pouco apelativo, e existe uma repetição inerente à sua estrutura que não vão conseguir contornar se não estiverem habituados ao ritmo dos roguelikes. A aposta na cooperação até quatro jogadores é, no entanto, um ponto muito positivo e não existem dúvidas que o jogo brilha quando jogamos com amigos, mas a jogabilidade mantém-se inalterada, seja acompanhado ou a solo. Mas é, sem dúvidas, um jogo perfeito para partidas curtas e um complemento até interessante para Graveyard Keeper e para a sua aposta num investimento mais intenso e prolongado.

Os códigos para análise (PS4) foram ambos cedidos pela TinyBuildGAMES.