Com a crescente popularidade das produções independentes, temos assistido ao lançamento progressivo de novos títulos tanto no PC como nas consolas. Graças às lojas digitais, temos recebidos mais jogos e conhecido novas produtoras que, sem estas plataformas, poderiam nunca conseguir um lugar tão merecido na ribalta trazido. Mas com esta exposição, vem a dificuldade em se distinguirem e em singrar na indústria. Para combater o esquecimento, decidimos destacar alguns dos jogos que chegam ao GLITCH e que merecem, independentemente da sua qualidade, os seus 15 minutos de fama.
Witch Thief
Não são todos os dias que recebemos um novo shoot’em up e Witch Thief parecia ter tudo para ser, no mínimo, uma distração eficaz. Produzido por apenas uma pessoa, ao longo de vários anos, o jogo chegou recentemente à Nintendo Switch, após um lançamento no PC e trouxe consigo cinco níveis, várias dificuldades (para os amantes do género) e quatro personagens jogáveis, num pacote curto, mas apelativo.
Witch Thief é um jogo simples, focado e sem grandes distrações, relegando-se a uma estrutura convencional, mas clássica. Os níveis são lineares, divididos por arenas de combate, onde a exploração é inexistente. As arenas, que são muitas vezes caóticas e repletas de inimigos, são intercaladas por um guardião, que representa um ponto de gravação, e por um boss final. Este modelo é perfeito para a jogabilidade de Witch Thief, que funciona quase como um twin stick shooter, onde temos de nos manter em movimento para sobrevivermos aos vários ataques das bruxas rivais. Os padrões são, no entanto, um pouco difíceis de ler devido às suas cores e ao seu volume, com o jogo a preferir a confusão a um desafio mais ponderado e moderado. Esta leitura é igualmente agravada por cenários desinteressantes e muito básicos.
Quando entramos no ritmo, Witch Thief pode ser muito divertido e até desafiante. É certo que a primeira impressão não é positiva, especialmente devido à sua apresentação, mas é um jogo com raízes fortes numa jogabilidade mais arcada que nos motiva a desbravar caminho por entre as suas várias arenas. A variedade de poderes e o seu fortalecimento, através da recolha sucessiva da mesma habilidade, reforçam esta vertente arcada e injetam uma maior diversidade a uma jogabilidade que se quer simples e intuitiva.

Witch Thief é uma boa distração para os fãs do género Bullet Hell e um jogo perfeito para versatilidade da Nintendo Switch, funcionando perfeitamente na TV e no seu modo portátil. Não é, no entanto, um jogo imperdível e muito menos perfeito, contando com uma enorme falta de cuidado visual, de problemas na jogabilidade – onde o impacto dos ataques é quase inexistente e os padrões mais confusos do que desafiantes –, e de uma banda sonora desinteressante e completamente descartável. Mas é, no entanto, perfeito para longas viagens ou para ocupar o tempo entre lançamentos de maior importância.

O código para análise foi cedido pela Cardboard Keep.
Lovecraft’s Untold Stories
Já disponível no PC, onde chegou no início deste ano, Lovecraft’s Untold Stories foi lançado recentemente nas consolas e eu tive a oportunidade de experimentar esta aventura de ação e terror psicológico na PS4. Apesar da sua influência na cultura pop, desde o cinema aos videojogos, é raro encontrar um foco tão acentuado na obra de H.P. Lovecraft, mas a LLC Blini Games conseguiu não só readaptar alguns dos seus contos mais icónicos como criar uma ligação entre eles para criar um jogo algo repetitivo, mas igualmente divertido e peculiar.
Lovecraft’s Untold Stories é um jogo de aventura e ação, mas diferente do que já viram. Ao contrário de outras adaptações da obra de Lovecraft, a LLC Blini Games decidiu transportar toda a mitologia para o formato dungeon crawler, dividindo a campanha por vários níveis, com algumas zonas secretas e outras alternativas, onde o foco se mantém no combate, na exploração e na recolha de itens e de recursos através de cenários labirínticos e repletos de homenagens ao escritor norte-americano. É uma fórmula eficaz devido ao seu foco na investigação e na recolha de trechos de história – alguns deles que irão deliciar os fãs de Lovecraft – que solidificam a mitologia do jogo e o papel das personagens na ação.
O formato dungeon crawler dá ao jogo um maior foco na dificuldade, ainda que elimine o recomeço constante em caso de morte, que marca muitos títulos roguelike. Lovecraft’s Untold Stories é um jogo de ação, mas é maioritariamente um jogo focado na narrativa que corta algumas dos castigos associados ao género para manter os jogadores dentro da ação e concentrados na sua história. Os níveis não funcionam apenas como arenas ou como labirintos repletos de armadilhas e inimigos, mas também como murais para o universo de Lovecraft. Esta aposta aligeira, até certo ponto, alguma da monotonia dos níveis e a sua aposta em cenários repetitivos, em pixel-art, onde pouco ou nada acontece para além da sua história.

A repetição é fortemente combatida, mas nunca vencida, algo que se torna claro à medida que avançamos pelos capítulos do jogo e vencemos as batalhas contra bosses monstruosos. A LLC Blini Games tentou resolver este problema ao disponibilizar várias personagens jogáveis, todas elas com a sua própria história, armamento e habilidades especiais, tentando criar uma campanha com uma maior longevidade e capaz de oferecer aos jogadores algo que os aliciasse a recomeçar em busca de novos segredos, dos tão cobiçados troféus e de personagens secretas. O problema é que o sistema de combate não é muito variado e é fácil de adquirir armas tão poderosas que todos os inimigos passam a ser inofensivos, o que retira alguma da tensão que a campanha tenta construir. Os inimigos são variados e vão de encontro aos temas de cada capítulo, como médicos num hospital e esqueletos num cemitério, mas não apresentam grande estratégia ou inteligência, tentando atacar diretamente e sem discernimento.
Lovecraft’s Untold Stories é um projeto intrigante que tem as bases para ser um excelente dungeon crawler, mas não consegue evitar alguns dos erros do género ao ser repetitivo e algo aborrecido no que toca à exploração e ao combate. A variedade de personagens e a adaptação da obra de H.P. Lovecraft são vantagens claras, mas pedia-se mais de um jogo que tenta, com todas as suas forças, construir um mundo apelativo, cheio de itens e segredos, e que não consegue ser muito memorável para além das suas primeiras horas.

O código para análise foi cedido pela Bad Land Publishing.