BATTLE ROYALE. O FENÓMENO DO TODOS-CONTRA-TODOS

À procura de jogadores… A entrar no servidor… Bem-vindo ao género de videojogos que se tornou num fenómeno mundial.

 

 

Acabo de saltar do avião e de abrir o para-quedas. Ao meu lado, outros 99 jogadores descendem em queda-livre, enquanto preparam a estratégia de combate. Somos todos adversários com o mesmo objetivo: ser o único sobrevivente. Aterrei, encontro a primeira arma. O Battle Royale começou. 

 

A ideia de um jogador ambicioso

 

O conceito de Battle Royale apareceu pela primeira vez nas páginas de um livro em 1999 e um ano depois, no cinema, com o japonês Kinji Fukasaku a adaptar a obra de Koushun Takami para o grande ecrã. Battle Royale conta a história de um grupo de estudantes que é forçado a lutar até à morte pelo governo japonês – o conceito puro de todos-contra-todos. Esta dinâmica viria, mais tarde, a passar para os videojogos, com a ajuda de alguns jogadores, Brendan Greene o mais ilustre. Em 2012, Greene criava um ‘mod’ (modificação não oficial) para o jogo Arma II, e o resto é história. Estava construída a base de PUBG, jogo que viria a colocar o género nas bocas do mundo e nas mãos dos jogadores, e que mudou a vida deste jovem designer irlandês.

 

 

Ao fenómeno PUBG juntou-se Fornite que, por ser gratuito e menos exigente ao nível técnico (no caso dos PC), acabou por globalizar o género e disseminá-lo na cultura popular – conhece a dança ‘Floss’? Braços estendidos, a balançarem à frente e atrás do corpo? Nasceu no Instagram, passou para Fornite e, assim, para a maioria dos recreios de escolas de todo o mundo.

 

“Ninguém quer deixar de fora o apelo do Battle Royale”

 

 

Estes dois gigantes encabeçam uma lista cada vez mais longa de jogos Battle Royale que, para aproveitar o comboio de popularidade, têm sido lançados em rápida sucessão”. O sucesso tremendo de PUBG e Fortnite trouxe mudanças para a indústria, levando séries de grande peso a confirmarem a inclusão de modos Battle Royal nos próximos lançamentos – falamos, por exemplo, de jogos como Call of Duty Black Ops IIII e Battlefield 5. “Mesmo não apostando num desenvolvimento assumido, o género assume contornos quase omnipresentes porque ninguém quer deixar de fora o apelo do Battle Royale”, explica Ricardo Mota, Professor do IPMAIA no ramo da criação de videojogos.

 

Uma jogabilidade que agrada a (quase) todos

 

“O conceito em si é bastante apelativo, com batalhas caóticas e inúmeros jogadores, em que a sorte e o acaso são fatores a ter em conta”, continua o Professor, também community manager da Bigmoon Entertainment, estúdio nacional de produção de videojogos. Imprevisibilidade é, então, um dos ingredientes do sucesso: na verdade, e segundo um inquérito da empresa de gaming Piwag, a ‘procura de diversidade na jogabilidade’ é apontada como um dos principais motivos para o consumo de videojogos.

 

A juntar-se a esta lista, está a competição, diz-nos Maria João Andrade, psicóloga clínica e fundadora da Grinding Mind. “Principalmente a questão de existir [uma recompensa] que não é somente um item no jogo, é uma recompensa social: o jogador poder sentir que foi o melhor entre 100 pessoas que estão naquela batalha”, explica. Diz ainda a psicóloga que a componente social é fundamental, especialmente porque muitos jogadores jogam com amigos – mais de 50% utiliza o modo multijogador pelo menos uma vez por semana, 41% fá-lo com os amigos, indicam dados da Entertainment Software Association (ESA).

“[Agrada-me a] variedade de cenários possíveis em cada jogo”, conta-nos ‘JohnCoOpr’, jogador de PUBG, via Discord, uma plataforma de chat para gamers. Já ‘Kurt99’ diz-nos o que gosta mesmo é do “facto de cada partida ser diferente” e ‘AssAssin_PT’ que valoriza o “trabalho de equipa e a rotatividade a nível de cenário e loot [espólio]” – todos jogam PUBG entre 15 a 20 horas por semana, muitas vezes, juntos.

 


“É uma experiência bastante gratificante ser o melhor

e vencer no meio de 100 jogadores”

 


Também João “darkzonee” Narciso elege o género como preferido. O streamer português utiliza o Twitch como palco das suas sessões diárias com jogos do género. Começou com H1Z1 (diz que foi amor à primeira vista) e, atualmente, podemos encontrá-lo a consumir grandes dozes de adrenalina em Fortnite. “Gosto de jogar sozinho. Sinto mais adrenalina quando fico entre os últimos 10 jogadores. Começas a pensar que se fizeres tudo bem, tu, entre 100 jogadores, ficarás em primeiro”, revela. “Posso confessar que, nas primeiras vezes, até fiquei a tremer com tanta adrenalina que tinha no corpo”.

“Só quem experimenta é que vai entender o porquê da popularidade”, conta-nos, por e-mail, Valter ‘Shootsgud’ Gomes, também ele streamer na Twitch, mas de PUBG. “Em outros títulos e géneros de jogo já sabemos como chegar ao nosso objectivo ou como terminar o jogo, aqui não. Para mim, isto é o que me faz colocar imenso tempo neste jogo, saber que cada partida será diferente e que tenho de estar preparado para me adaptar ao círculo da zona segura, chegar ao fim e conseguir vencer. É uma experiência bastante gratificante ser o melhor e vencer no meio de 100 jogadores”, remata.

 

Moda passageira ou género que veio para ficar?

 

Apesar de relativamente recente, o Battle Royale já se tornou num dos géneros mais rentáveis da indústria dos videojogos. Só PUBG e Fortnite tinham gerado, em março de 2018 e de forma combinada mais de 220 milhões de dólares, segundo dados da Superdata Research.

Mas será que a popularidade se vai manter? “É difícil fazer futurologia nesta área. Uma boa fórmula hoje pode ser uma fórmula gasta daqui a um ano ou dois”, explica Ricardo Mota. “São modas, o mundo dos videojogos vive de modas e vai saltitando entre elas. A manutenção dessa popularidade dependerá portanto do formato que os jogos forem engendrando para a assegurar e da reacção do público a esses formatos. E aqui refiro-me não só ao público que joga como ao público que assiste aos jogos. Acho que eventualmente a coisa passará pela incorporação de algumas das mecânicas-chave do género em diversos jogos, diluindo-se aquilo que o género tem de bom por um número considerável de jogos até se tornar um razoável lugar-comum e deixar de ser um género tão vincado”, conclui.

“O futuro dos jogos muda bastante ao longo dos anos, e tão depressa pode ser o jogo mais jogado, como pode deixar de o ser. Estamos constantemente a ver estes e outros géneros de jogos a passar pelo seu momento de explosão nas comunidades”, acrescenta Valter ‘Shootsgud’ Gomes.

 

Seja como for, ao que tudo indica, ainda temos muito para ver de Battle Royale: Fortnite continua a dar que falar e a introduzir novas mecânicas no género, PUBG acaba de expandir o legado do PC para as consolas e Call of Duty parece ainda ter segredos a desvendar em Blackout.

Uma coisa é certa, tal como nos diz João “darkzonee” Narciso: “este género está a revolucionar os videojogos da atualidade”.

 

 

*Bónus: nós, em todas as partidas de Battle Royale que jogamos:

 

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2 thoughts on “BATTLE ROYALE. O FENÓMENO DO TODOS-CONTRA-TODOS

    1. Gico, sem dúvida! Pessoalmente, prefiro Fortnite – mas sou noob e é só porque é muito divertido jogar com amigos 🙂 -, mas percebo perfeitamente que o teu coração esteja com os géneros plataforma e simulação (também adoro!). Obrigada pelo teu comentário!

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