A novidade e a experiência singular que Catherine trouxe à PlayStation 3 e Xbox 360, em 2011, podia fazer sentido nessa altura, quando a meio da geração passada começávamos a ter jogos cada vez mais experimentais e a cena indie crescia em força. Mas hoje, em 2019, com o lançamento para PC, essa novidade perde a força.
Catherine não, é de todo, um jogo indie. É produzido pela ATLUS (e pela mesma equipa que trata da série Persona), conta com a ajuda da Studio 4oc, (Berserk: The Golden Age Arc, Tekkonkinkreet, Halo Legends, The Animatrix) para as partes animadas, mas, ainda hoje é possível olhar para ele e vê-lo como jogo experimental, que tenta forçosamente colidir com dois tipos de produtos, como costuma ser mais comum em visual-novels e dating-sims.
Meio anime, meio jogo, Catherine é mesmo um anime interativo com puzzles e interações com outras personagens pelo meio. É uma série interativa que pode ficar por concluir se os jogadores ficarem presos num puzzle ou se perderem o interesse na história e na repetição dos níveis.
Em Catherine, somos atirados para um mundo estranho, num registo muito ao estilo de The Twilight Zone, onde acompanhamos a vida romântica de Vincent, um jovem de 32 anos, que divide o seu tempo entre a namorada Katherine, o trabalho e os seus amigos no bar.
A trama começa com Katherine a pressionar Vincent para o próximo passo na sua relação, o casamento, enquanto que ao mesmo tempo este conhece uma bela rapariga chamada Catherine, com quem se envolve emocionalmente. O sentimento de culpa e um estranho fenómeno sobrenatural, que começa a provocar vitimas mortais durante o sono, são elementos onde a parte jogável de Catherine se inspira.

Apesar dos temas adultos e de uma apresentação muito erótica, é por vezes difícil de levar a sério as relações entre as personagens e as situações em que se encontram. No meio da sua maturidade temática, Catherine parece ser, por vezes, demasiado inocente, com conversas e momentos de exposição que parecem escritos por alguém que fantasiaria estar numa situação destas, com interações que lembram cenas do desastre de Tommy Wiseau, The Room.
Entre longas sequências de animação, que podem não ser do agrado de todos, os jogadores vão ter que passar uma grande parte do seu tempo na resolução de puzzles. Em Catherine, controlamos Vincent, ajudando-o a procurar caminhos e a deslocar blocos para trepar uma “montanha”, enquanto a sua base vai desabando. Com movimentos como puxar, empurrar e subir, temos que criar padrões e caminhos para chegar o mais rapidamente ao topo, antes que o sonho nos consuma.

Esta porção de Catherine, em 2019, não é muito diferente do que encontramos atualmente em dezenas de jogo móveis, em que é fácil sacar do nosso telemóvel para fazer dois ou três níveis enquanto esperamos pelo autocarro. Momentos onde investimos pequenos períodos de tempo que funcionam bem nesse tipo de contextos. Em Catherine, naquilo que pretende ser, já não se pode dizer o mesmo. Estes puzzles não estão à distância de um ou dois cliques (tirando o modo de desafios que vai sendo desbloqueado à medida que avançamos na história), os níveis estão intrinsecamente ligados à narrativa do jogo, ficando pouco acessíveis e obrigando-nos a fazer “skip” a quase tudo para podermos jogar o próximo nível.
Nas partes mais calmas, o jogo também inclui um sistema de moralidade, que balança de acordo com que queremos que Vincent escolha na sua vida, que pode também ser comparado com estatísticas de outros jogadores. Com o lançamento surpresa para PC, a experiência de Catherine chega a um novo público, mas, infelizmente, Catherine Classic não oferece absolutamente nada de novo, quanto muito parece ser uma preservação do jogo tal como ele foi lançado.
Um desses exemplos pode ser encontrado na jogabilidade, que podia ter sido revista. Há a opção de se jogar com teclado, mas é no comando onde a experiência é melhor. Apesar da sua simplicidade, há ainda pormenores que podiam ter sido melhorados, como por exemplo os movimentos enquanto Vincent está pendurado, que frequentemente não respondem como pretendido, fazendo com que seja muito fácil cometer erros enquanto corremos contra o tempo.
Em termos de otimização, tem opções gráficas relativamente simples, com suporte para frame-rate desbloqueado e altas resoluções até 4K, que infelizmente não se aplicam a todas as vertentes do jogo.
Catherine conta com uma apresentação pouco consistente, que se divide em cinemáticas com o motor de jogo, sequências em anime e algumas híbridas, onde as que contêm elementos desenhados se apresentam com resoluções baixas. Também a fluidez de jogo sofre com isso, quando algumas das animações da nossa personagem não correspondem à fluidez do que acontece à volta, o que torna a jogabilidade um pouco desconfortável.
Mas o maior crime será, talvez, nas sequências em anime, que têm a resolução máxima de 720p. Na verdade, são mesmo ficheiros em WMV nessa resolução, o que resulta numa experiência muito inconsistente, com uma imagem pouco definida, que não faz justiça ao bom trabalho feito pela Studio 4oc.
Catherine Classic parece ser um port direto do jogo de 2011 que sobrevive graças a um “cult following” fermentado ao longo dos anos e que em 2019 é difícil de recomendar. Mas, se gostam de animes, comédias românticas, visual novels e puzzles, aqui há certamente um pacote interessante.

O código para análise (PC) foi cedido pela EcoPlay.