O Burnout nos Videojogos

Moffat, tu tem calma!

Oh, olá, apanharam-me a escrever o artigo errado! Eu aqui entretido a reflectir sobre o Steven Moffat, de Doctor Who e de Sherlock, e como a qualidade decresceu a olhos vistos quando reparo que este artigo tem de ser sobre jogos. Bem, já que comecei, vou pegar nesse fio e puxar a conversa.

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Dois é companhia, três é uma multidão.

Conhecem Doctor Who, certo? Aquela série britânica que estreou mais ou menos quando Deus criou o Adão e a Eva. A série continua até hoje, estreando uma nova temporada, actriz e showrunner, mas foi o Moffat que brincou demasiado tempo com a série tipo aquelas crianças que nunca emprestam a bola. O que aconteceu foi: a qualidade começou bem no alto com enredos excelentes, personagens carismáticas e reviravoltas inesperadas, mas, ao longos dos anos, isto foi desaparecendo e deu lugar a uma fatiga de lugares comuns. Admito, desisti da série e só peguei para voltar à nova temporada. O mesmo aconteceu com Sherlock e com as duas últimas temporadas enfadonhas que nem o Doctor Strange e o Bilbo conseguiram safar.

E esta introdução salgada leva-nos aos universos de Metal Gear Solid e de Kingdom Hearts; duas séries do meu coração, quase arruinadas pela húbris de dois homens: Hideo Kojima e Tetsuya Nomura. E antes que venham atrás de mim com archotes e forquilhas, eu repito: eu adoro as séries e tenho uma imensa estima e respeito por cada um deles, mas esperem.

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Menos poses, mais trabalho!

Papei tudo até a Guns of the Patriots com uma fome de sem abrigo, todos os momentos épicos, as teorias da conspiração e os diálogos que ainda hoje me são icónicos. Lembro-me bem do meu primeiro Metal Gear Solid, na Terceira; do Sons of Liberty emprestado; de ser um dos primeiros a tocar em Snake Eater, na antiga Replay Zone e de ter passado uma noite a jogar Guns of the Patriots na casa de um amigo. Metal Gear Solid era vida e o Hideo Kojima, uma espécie de Deus a venerar. O brincalhão mestre que dizia sempre que era o último jogo, mas que voltava no próximo. Saíram os spinoff nas portáteis, saiu Ground Zeroes e The Phantom Pain. Sempre que falam deste último, vem-me a bílis à boca. O derradeiro jogo que iria fechar o ciclo, explicar como o herói se tornou vilão, dar aquele oomph para jogar tudo de novo e ficarmos Ahh, então é por isso! No final, o que tivemos foi uma amostra de jogo que nem veio acabado. Sabemos todos dos problemas de desenvolvimento do jogo, das hashtags copulaKonami e dos dramas internos, mas a verdade é que são precisas duas pessoas para dançar e o Kojima estoirou o orçamento num baile onde só ele dançou. Preferiu criar cutscenes de aniversários, easter eggs tolos e meter um cavalo a defecar em vez de acabar a história. A ver: o jogo termina no capítulo um e o segundo capítulo é uma repetição das missões do primeiro para uma conclusão mal amanhada e um terceiro capítulo riscado.

Hideo Kojima é um daqueles génios que precisa de uma trela, um no man para lhe dar um estalo nas mãos quando estiver a fazer asneiras; alguém que o foque. Há aquela teoria da conspiração que o no man do Kojima era o Tomokazu Fukushima, um dos co-argumentistas até Snake Eater. Pensem na trilogia original de Star Wars e nas prequelas. A partir daí, o ambiente das sequelas mudou e tornou-se mais expositório, a forçar explicações a tudo com as nanomachines. Na minha opinião, o génio perdeu-se. Não digo, com isto, que irei deixar de jogar o que ele lançar, mas Death Stranding está na lista dos jogos mais desinteressantes até mo emprestarem e o terminar.

Até és jeitoso, rapaz.

Já Tetsuya Nomura é outra peça. Fez-me chorar com Kingdom Hearts, provei Chain of Memories e fiz trinta por uma linha para jogar o 2, torci o nariz ao Kingdom Hearts: Raiz Quadrada de Oito Elevado ao Cubo para a DS e, ao terceiro jogo fora da cronologia da série, desisti. Kingdom Hearts 3 sai em janeiro, passado um milénio, e tenho zero vontade de jogar. Quando sair, se sair, saiu. Jogarei depois para tirar a prova dos nove, mas com uma narrativa mais confusa que um adolescente bêbado a sair de Santos, a esperança que perceba o que está a acontecer é nula.

Nos aguardem!

Nomura tem o seu estilo peculiar e que grita Nomura-san por todos os poros, e até engraço com isso, mas o senhor é um péssimo gestor de projetos. Além de uma série com uma narrativa que necessita de um guia para ser seguida, não consegue acabar nada sem que o empurrem para outros projetos. Tinha Final Fantasy XV na sua secretária e não soube o que fazer com ele; antes Versus, depois XV, era para ser um RPG tradicional, depois um musical, no fim um jogo de mundo aberto. Saiu, entrou o Tabata e lá foi lançado com todos os defeitos e qualidades. Anunciaram o Remake do VII, bastantes aplausos e uivos de alegria, anunciaram que iria ser episódico, que iriam expandir a história. Surgiram rumores que o projeto teria de ser reiniciado, desapareceu do mapa e puff. Cá para mim nem vai sair, mas… quem sabe se daqui a dez anos não teremos outro trailer? Aqui, o Nomura também beneficiaria de um no man para se concentrar no que tem em mãos e não se meter a inventar jogos paralelos.

Vilipendiar quem já admirámos é baixo, eu sei. Acredito que possa haver várias razões para o decréscimo de qualidade: burnout, desmotivação, conflictos internos ou, talvez, eu mesmo. Cresci, amadureci, conheci outras coisas. Não és tu, sou eu. Sim, talvez seja isso. Eles lá continuarão a fazer o que gostam e eu aqui… a pensar na morte da bezerra.

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Cá estamos.
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