Indo eu, indo eu…
Não a caminho de Viseu, mas para o trabalho. Como escritor amador, gosto de observar as pessoas de uma maneira nada stalker-ish. Não tem nada de mal, não fico a olhar fixamente para elas até porque com o meu estrabismo consigo disfarçar muito bem!
Se isto fosse um artigo de escrita, entraria noutras reflexões mais pseudo, mas como não é, bora lá aos jogos. Eu gosto de ver o que andam a jogar e onde andam a jogar.
Ainda sou daquela colheita que passou pelo estigma de que os jogos eram para os nerds fechados em casa. Ver pessoa sim, pessoa não, a jogar na rua ou nos transportes é uma grande vitória em termos de mentalidade. Também é um marco tecnológico porque longe vão os tempos dos tijolos do Game Boy ou da sugar mama de pilhas que era a Game Gear.

Hoje vejo pessoas com consolas da Nintendo e da Sony (menos a Vita. Ninguém tem Vitas) a jogar como se não fosse nada. Se há o risco do furto, também vivemos em tempos mais seguros, onde o telemóvel mais barato custa mais do que uma consola.
E eu fico a ver. Gosto de ver as pessoas a jogar e a partilharem o “meu hobby”. No meio de tanta toxicidade, sinto-me, de certa maneira, próximo. A menos que estejam a jogar jogos mobile!
E o que jogam as pessoas? Olhem, já vi de tudo. Tetris, Pokémon, Wario, Snake Eater (3DS), Majora’s Mask, Shin Megami Tensei IV e Snatcher. Não seria nada do outro mundo se visse alguém a jogar Candy Crush ou um Ville qualquer, mas Metal Gear Solid? Majora’s Mask? SMT? Snatcher?! Consigo encontrar uma razão para os anteriores, são jogos disponíveis em consolas recentes, mas darem-se ao trabalho de meter Snatcher a funcionar num Sony Ericsson é de tirar o chapéu! Toda a minha admiração.

“Ei, estás a jogar Snatcher?” Perguntei quando vi a Meryl no ecrã. Eu sei, eu sei, há quem não aprecie, mas não me contive e meti conversa com o rapaz que ficou com um certo brilho nos olhos. Ou contente por haver mais alguém na linha de Sintra que conheça Snatcher ou lixado por terem interrompido o tempo de jogo. Falámos um pouco e chegámos à estação. A outra vez foi quando vi o rapaz a jogar SMT. Ficámos a falar da série e de Persona. Nestes dois casos, tive pena que a viagem fosse curta, mas se estiverem a ler este artigo, vocês estão no coração.
É bastante normal que algumas pessoas, principalmente as mais novas, fiquem a olhar. Já tive crianças curiosas a pairar que nem drones para ver o que jogava e eu tinha o gosto em virar o ecrã para verem melhor. O nível de atenção delas era incrível, mas como estava a jogar Apollo Justice não ficaram muito tempo…
Uma vez, no cais, tirei da Switch para jogar Blossom Tales e um rapaz veio ter comigo. Disse que andava a juntar para uma e se podia ver-me a jogar. Mostrei-lhe Shovel Knight, Blossom Tales e um pedacito de Disgaea 5. Passámos a viagem a falar de RPG japoneses.

Quando não estamos a discutir qual a consola com melhores exclusivos, a injuriar a mãe do adversário ou a ser tóxico com os estúdios, podemos simplesmente jogar e passar bons momentos nem que sejam aqueles trinta minutos, de casa para o trabalho, antes de nos entregarmos à vida real. Para chatices já basta essa.
E, se tivermos sorte (ou azar), pode surgir alguém a meter conversa. Um novo amigo ou, quem sabe, o amor das vossas vidas.
