À Telltale Games,
P
artiste. O Twitter encheu-se de movimentos para ajudar a ocupar as mãos de quem produziu os jogos que lançaste e a comunidade de jogadores fez-se ouvir. Uns ficaram surpreendidos, outros falaram de morte anunciada; uns homenagearam as tuas criações, outros foram vocais em afirmar que o teu registo era repetitivo e, por isso, capaz de desgastar uma fórmula.
Eu percebo ambos os argumentos. Contudo, e sobre o teu desaparecimento, nada mais me apetece discutir, que não o impacto que tiveste em mim, enquanto jogadora. E eu quero acreditar que, de alguma forma, contribuí para o teu legado.
Não joguei todos os jogos que criaste, contínuo sem perceber o motivo pelo qual quiseste lançar um modo história de Minecraft, mas amei, com todas as forças, a tua versão de The Walking Dead. Assim como sempre gostei da tua direção artística, da tua forma de contar histórias e da capacidade que tiveste para ajudar a reinventar um género e colocá-lo nas bocas do mundo.
Deste-me momentos de emoção, tristeza e felicidade. E escolhas – tantas escolhas – que culminaram em momentos de tensão e olhar preso ao ecrã. Deste-me o Lee e fizeste-me questionar os valores e a moral, deste-me a Clementine e eu celebrei mais uma personagem feminina de peso, deste-me o poder de decisão, num mundo cinzento, e eu adorei cada momento.
Tiraste-me, sem piedade, a Carly e, até aí, eu percebi o que estavas a fazer. Nesse momento, tive uma das reações menos controladas da minha vida de jogadora – apenas comparável com aquela que se apoderou de mim com o final de Red Dead Redemption. Tiras-te muitos outros companheiros ao longo de quatro temporadas, mas nenhum se igualou à frieza da sequência que levou aquela mulher que podia ter sido tudo.
E, depois, deste-me uma temporada final que prometia tanto e, à Clem, a sabedoria que chega com a idade, a perspicácia que advém da experiência, o resultado de tudo o que ela havia vivido até ali, comigo no comando. Encontrei-me com ela no mês passado – quando lançaste ‘Done Running‘, o primeiro episódio desta temporada – e, juntas, unimos forças para ultrapassar tantos desafios.
Não deixa de ser irónico que a última aventura interativa que lanças se chame ‘done running’. Antes de fechares portas, é possível que tenhas corrido muito contra o tempo – com acionistas e contas, com dívidas e incertezas, com ambientes tóxicos e desespero. Já não corres mais, acabou.
Mas foi tão bom e tinhas ainda tanto para dar. Tanto que, quando soube que havias partido, nem pensei no refund que poderia merecer pela temporada que parece permanecer inacabada.
Espero que possas finalizar The Walking Dead. Contudo, e senão o puderes fazer, decreto que a Clem caminha, agora, em direção ao Sol, longe das cidades (como o Lee sempre lhe disse para fazer), de cabelo curto e chapéu na cabeça. Vira-se para nós e diz, com a segurança de quem ainda tem tanto para viver: “Still not bitten”.
Obrigada Telltale.