Final Fantasy VIII, estás perdoado

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Nintendo e a Square-Enix fizeram as pazes durante o último Nintendo Direct, anunciando que vários títulos da série Final Fantasy vão chegar, já no próximo ano, à Switch. Final Fantasy VII, IX, X e X-2, World of Final Fantasy e até a versão mobile de Final Fantasy XV – foram todos anunciados e os fãs passaram-se. No entanto, os matemáticos entre vocês devem ter percebido que existe algo de errado na forma como as duas empresas contam até 10. Se forem esquisitos como nós, devem saber que é 7, 8 e 9 e não 7, 9 e 10. Bolas, Square-Enix, nem isto sabes fazer!

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“Uau, nós somos as primeiras pessoas a fazer a piada da contagem. Que génios!”

Final Fantasy VIII é um título complicado para os fãs da série. Para muitos, foi o seu primeiro contacto com a franquia e com o género RPG, e para outros, como eu, foi o jogo que os fez pensar que existe mais para além de simples saltos e plataformas em 2D com canalizadores e roedores azulados. Apesar de ter jogado primeiro Final Fantasy VII, uma experiência tão confusa que acabei por trocá-lo por outro jogo, foi a viagem psicadélica e quase nonsense de Squall e Rinoa que me deu a minha primeira e verdadeira experiência com o género, obrigando-me a compreender como funcionavam as mecânicas, o mundo e a história. E apesar de sentir um enorme carinho pelo jogo, não consigo dizer que é realmente um bom jogo do princípio ao fim.

E isto acontece com a maioria dos fãs. É um jogo que continua a dividir a comunidade e parece não existir um meio-termo saudável para a discussão – ou gostam muito ou detestam, por isso escolham a equipa. Apesar dos seus problemas e de ser constantemente gozado e criticado pelos fãs, seja pela sua história quase surreal ou por mecânicas pouco intuitivas como o sistema de Junction, Final Fantasy VIII tem sido relembrado injustamente de forma negativa pela indústria e temo que isso tenha só piore com os anos, especialmente se não tivermos a tão aguardada remasterização.

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A maioria dos clássicos vai chegar durante 2019, o que significa que a Square-Enix tem uns bons meses para resolver este problema.

Final Fantasy XII passou por algo semelhante, eliminando muita da estrutura clássica da série em prol de um novo tom e filosofia de design. Hoje em dia, os fãs olham para o reino de Ivalice com carinho, mas há 13 anos atrás, a recepção foi quase desastrosa. Se a crítica adorou o fim dos combates por turnos, já os fãs detestaram esta aproximação ao modelo MMO e às histórias mais políticas e sérias. Ninguém se entendia, mas o tempo curou as feridas. Conseguirá Final Fantasy VIII ter o mesmo destino?

Os problemas são muito reais e Final Fantasy VIII precisa mais de um remake do que Final Fantasy VII, mas temos de ser sinceros e compreender que há muito para descobrir neste jogo injustamente relembrado. Existem mecânicas quebradas e a jogabilidade é repetitiva, mas se olharem individualmente para a história e para os seus pontos narrativos, vão encontrar momentos fantásticos e verdadeiramente emocionantes. O mundo é extenso e existem segredos interessantes (e alguns até cómicos) para descobrir e, apesar de ter odiado a forma como evoluímos as armas quando o joguei pela primeira vez, hoje consigo ver o que queriam fazer. O jogo foca-se muito no crescimento das personagens e as armas devem acompanhar esse crescimento. Estes jovens não iriam trocar de arma durante uma guerra, mas iriam, isso sim, limá-las e aprender a controlá-las melhor. Talvez esteja a ver coisas que não estão lá, mas funciona.

Os cenários pré-renderizados são fantásticos e criam o ambiente perfeito para um jogo que mistura fantasia com conflito militar e ficção científica.

A Square-Enix adora dinheiro e talvez esta ausência de Final Fantasy VIII, desde o seu lançamento no Steam, seja apenas uma especulação de mercado e uma jogada muito bem pensada pela produtora japonesa. Quanto mais pensamos, mais queremos o jogo e quando finalmente sair, depois desta tensão acumulada, não vamos pensar duas vezes. Olhem para a Capcom e o regresso de Onimusha: isto resulta. Por outro lado, a Square-Enix é tão espertalhona como gananciosa e conhece muito bem a fama de Final Fantasy VIII. Sabe que não é o título mais popular da série – basta olhar para as várias listas criadas pelos fãs para compreender que é um tópico fraturante. E se existem jogos mais seguros, porquê apostar neste?

Eu não sei quanto a vocês, mas eu começo a ter uma relação estranha com esta série. Talvez seja o meu saudosismo a falar mais alto, mas sinto que já não é uma série para mim. Talvez tenha crescido, ou talvez seja a visão dos novos produtores – e aqui a coisa complica-se porque muitos trabalham na série há anos – que não comunica comigo, mas títulos como Final Fantasy XV, que funcionam a nível mecânico, mas falham na sua alma e história, só me afastam. Apesar de não gostar de Final Fantasy VIII, sinto um verdadeiro carinho quando penso em alguns momentos da campanha e sinto um divertimento jovial até nos seus erros. Este é um jogo que representa a época dourada da Square-Enix, onde a criatividade regia a produção de novos títulos. Mesmo com os seus defeitos, as virtudes desta Squaresoft esquecida ainda lá estão.

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Para além disso, continua a ser o único jogo em que começamos numa escola, passamos para uma guerra entre escolas e acabamos no espaço.

Olhando para os títulos mais recentes, para os spin-offs, para os filmes e séries e para a panóplia de DLC que continuam a ser lançados para Final Fantasy XV, um jogo que se recusa a morrer, eu digo: Final Fantasy VIII, estás perdoado. Podes voltar, a sério. Existem fãs que se vão queixar, mas acredita que a maioria te vai receber de braços abertos. Até eu, que disse que eras o Nicolas Cage da série. E porquê? Porque por mais problemas que tenhas, no final do dia, és um jogo com alma do princípio ao fim. Bolas, quem diria que isso ia ser raro?

 

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