Detroit: Become Human | GLITCH REVIEW

Detroit: Become Human é mais um marco no género e uma experiência imersiva que explora uma temática que (raramente) falha. Um jogo que tira partido da emoção e da dicotomia humano-máquina para nos levar numa experiência de reflexão.

Terão os Androides emoções? Deverão as máquinas ser consideradas como iguais? São estas as questões prementes da mais recente criação de David Cage – uma história que coloca o jogador no centro de uma revolução com três rostos. Markus, Connor e Kara são Andróides que vão descobrir ter uma dimensão para lá do conceito de máquina.

Há uma evolução muito interessante, com cada personagem a demonstrar não só personalidades singulares, como uma abordagem individual ao conceito de identidade – as sequências em que cada um deles (dependendo das vossas escolhas) se libertam das amarras e descobrem a existência de livre-arbítrio são muito bem conseguidas. Adicionalmente, a presença de três personagens permite ter vários olhares sobre a mesma narrativa e o trabalho feito para que todas façam sentido e se interliguem é brilhante. É aqui que acredito que Detroit vai além do conseguido com Heavy Rain: tira partido do que funcionou no jogo de 2010 e adiciona-lhe uma nova dimensão com três vezes mais emoções, três vezes mais ramificações de escolhas e três vezes mais perspetivas sobre a narrativa.

 

detroit become human personagens
E, mais uma vez, ninguém tem caracóis.

Para os fãs de sci-fi, esta será uma experiência interessante – há referências a obras de Steven Spielberg (como é o caso de A.I. Artificial Intelligence) – mas é sempre necessário ter em conta que se trata de uma experiência interativa por oposição ao conceito tradicional de jogo. Ainda assim, poderão contar com um replay value elevado e uma duração que considerámos estar completamente otimizada, não existindo, de todo, o sentimento de ‘então mas quando é que isto acaba?’.

É impossível não referir o trabalho realizado com o menu de Detroit. Aquilo que, à partida, passaria despercebido, torna-se um dos pontos de maior charme no jogo. Sem fazer spoilers, terão à disposição a vossa própria Andróide – e sim, ela falará convosco em momentos chave da narrativa, através de diálogos contextuais. Parabéns ainda pelo inquérito que nos é feito quase no início da jornada, já que as perguntas diretas, cruas e acutilantes nos colocam no quadro mental perfeito para interiorizar o conflito central, questionando as nossas próprias crenças e ideologias.

A última menção honrosa vai ainda para o continuado excelente trabalho da PlayStation em Portugal, com o jogo a ter localização para a língua portuguesa.

 

Quem vos escreve esta análise, sofre demasiado com as escolhas nos videojogos e, por isso, esta experiência teve tanto de prazeroso como de stressante. É aqui que teço a primeira crítica negativa a Detroit: o último capítulo do jogo parece ser demasiado decisivo, com as escolhas realizadas nesta sequência a terem um poder avassalador, capaz de destruir todas as boas decisões que tomaram até aqui. Fica um sentimento de quase traição, já que, durante toda a história, o jogo como que vos recompensa por serem bonzinhos mas, no final, não é bem assim. Sente-se, então, que um micro momento tem poder para dar uma reviravolta macro a todo o caminho percorrido – uma situação que acaba por criar um ritmo demasiado rápido no capítulo final do jogo que, apesar de não transmitir a sensação de apressar da narrativa, nos deixa confusos, desconcertados e impotentes perante o desenrolar dos acontecimentos.

Outro dos problemas de Detroit está na câmara. Está pouco polida, o que resulta em momentos de total confusão de ângulos que terminam com o personagem a fazer fintas à lá Ronaldo (acabo de fazer uma referência futebolística? É o fim de tudo) e com o jogador a sentir uma quebra de imersão imediata. Não se justifica que os problemas identificados em Beyond: Two Souls não tenham sido resolvidos.

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Para os mais exigentes, e apesar dos elogios à narrativa, poderá ficar o sentimento de cliché em alguns momentos. Os três personagens, apesar de interessantes e bem explorados, são, cada um na sua essência, estereótipos bem conhecidos. Markus como o Messias eleito para salvar todos os Andróides, Connor como o polícia indeciso e assombrado pelas dúvidas da própria identidade (assim como, a sua relação com Hank) e Kara como a sobrevivente de violência e mulher a explorar o que significa o papel de mãe. Atenção, tudo isto me agradou, mas poderá deixar os mais puristas desiludidos.

Apesar dos pontos menos bons, consideramos que o jogo é uma experiência imprescindível para todos os fãs de histórias interativas nas quais as escolhas e narrativa são elementos centrais. Se gostaram de Heavy Rain, joguem este jogo. Se gostaram de Fahrenheit (ou Indigo Prophecy), joguem este jogo. Se, como eu, têm por hábito pausar os jogos quando são confrontados com uma escolha difícil, joguem este jogo, definitivamente.

Em suma, Detroit: Become Human é uma narrativa original que explora, de forma muito bem conseguida, questões humanas, tecnológicas e civilizacionais, atribuindo-lhes, aqui e ali, um toque de diversão e descoberta pessoal. Uma história para ser jogada, vivida e refletida e que se torna um marco no género e na história da PlayStation.

 

Nota 8
A escala utilizada é de 1 a 10

P.S.: analisar este tipo de jogos sem revelar spoilers é uma tarefa difícil. Por isso, se quiserem saber mais, descobrir a que escolhas me refiro durante esta análise ou simplesmente comparar a vossa progressão com a minha, sintam-se à vontade para o fazer nos comentários.

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