Como fã da obra de Fumito Ueda, é difícil olhar para The Girl and the Robot sem pensar em ICO. O jogo da Flying Carpets Games segue um modelo muito semelhante, colocando-nos sob o controlo de duas personagens em fuga num castelo repleto de inimigo e puzzles para resolver. Mas ao contrário do clássico da PS2, esta aventura apresenta-se apenas como o primeiro ato de uma história maior, deixando-nos com um gancho que não nos dá qualquer vontade de voltar e ver o verdadeiro final.
A comparação a ICO não se fica apenas pela dinâmica entre as duas personagens. O ambiente, a própria narrativa, que aqui é contada visualmente e sem utilizar uma única linha de diálogo, e o foco nos quebra-cabeças evidenciam esta ligação à obra de Ueda. Felizmente, The Girl and the Robot consegue encontrar a sua própria alma e dar-nos uma experiência suficientemente coesa para respirar por si só.
As diferenças não ficam apenas pelo seu estilo visual, que se apresenta mais colorido e cartoonesco do que o clássico da PS2. Os cenários e os modelos das personagens, sejam a rapariga e o robot ou qualquer um dos inimigos, têm um tom pastel que dá ao mundo uma estética muito calorosa e harmoniosa, quase como se estivéssemos a ver um quadro em movimento.
Infelizmente, The Girl and the Robot nunca suplanta esta primeira impressão e perde rapidamente o fator de surpresa ao repetir constantemente cenários e ao não conseguir construir níveis suficientemente interessantes. Ao contrário de ICO, não existe uma história para contar e vemos apenas um foco claro na resolução dos quebra-cabeças, com os cenários a servirem apenas de pano de fundo para a ação. Esta falta de imaginação acaba por condicionar os restantes elementos do jogo e funciona como o primeiro aviso para um título que merecia ser muito mais.

A Flying Carpets Games tentou alterar a fórmula ao colocar-nos sob o controlo das duas personagens, que podemos alternar a qualquer momento. Os quebra-cabeças evidenciam a importância desta mecânica e é necessário navegar os cenários separadamente para chegar ao final. Cada personagem tem as suas habilidades especiais que temos de utilizar em cada um dos puzzles, mas existe também uma desvantagem que altera a dinâmica da jogabilidade: só o robot é capaz de atacar. A rapariga não se pode defender e perdemos automaticamente se ela for capturada por um dos inimigos. As semelhanças com ICO continuam a ser o melhor deste jogo.
O foco de The Girl and the Robot são, sem dúvidas, os quebra-cabeças. O mundo do jogo encontra-se dividido por zonas, cada uma com a sua própria estética (ainda que não exista uma grande diferença entre si) e com mecânicas exclusivas, que giram em torno de um puzzle principal. A resolução pode ser simples, como encontrar a manivela correta, ou mais complexa, levando-nos numa viagem através de catacumbas e labirintos para chegar ao seu final.

Esta aposta começa por ser interessante, com os puzzles a darem-nos uma sensação de exploração que complementa a falta de variedade nos cenários, mas a sua força e engenhosidade são demasiado fugazes. O problema é que os puzzles não são desafiantes e alguns deles assumem-se apenas como obstáculos desnecessários à nossa progressão, onde a resolução é tão fácil, mas o percurso tão desequilibrado a nível da sua dificuldade, que a navegação se torna artificialmente árdua. Existem também armadilhas mortais que são impossíveis de prever durante a nossa primeira tentativa, eliminando alguma da tensão presente nos níveis.
A falta de criatividade está presente em todos os elementos de The Girl and the Robot, mas é na jogabilidade que surge um dos seus maiores problemas. Ao contrário do que seria de esperar de um título de plataformas e exploração, o jogo da Flying Carpets Games funciona como um jogo de ação na terceira pessoa, semelhante a Resident Evil 4 e Gears of War. Isto significa que temos de rodar constantemente a personagem para a movimentarmos, com a câmara a tentar auxiliar a ação mais simples. Este esquema dificulta não só a navegação como a própria resolução dos puzzles, sendo difícil movimentar as personagens através dos cenários e condicionando-nos nos momentos de maior perigo.

A sua curta duração e a falta de um verdadeiro final deixaram-nos com um sabor amargo na boca. A história não é suficientemente contextualizada para nos motivar a jogar o seu segundo acto, ainda sem data de lançamento. Os conteúdos são demasiado limitados e repetitivos para justificarem um jogo que é, apesar da sua duração, extremamente cansativo e pouco empolgante. Em apenas três horas, vão resolver os mesmos puzzles, ver os mesmos cenários e utilizar as mecânicas até à exaustão.
Nos seus melhores momentos, The Girl and the Robot invoca o melhor da era da PlayStation 2 através da sua simplicidade e espetro de cores quentes. Com os dias a ficarem mais quentes, é fácil regressar atrás no tempo e voltar às férias de verão, mas quando esta ilusão se quebra, percebemos que, ao contrário dos verdadeiros clássicos, este é um jogo vazio e desinteressante. Mais mediano seria impossível.

O código para análise foi cedido pela Flying Carpets Games.