Depois de dois anos de emoções fortes, a E3 2017 ficou-se pela mediocridade. Mesmo com a revelação de uma nova consola e da apresentação dos jogos para os próximos dois anos, o evento parece ter assumido um formato mais básico onde os trailers são a palavra de ordem. No final, ficou a sensação de que os estúdios quiseram apenas picar o ponto e seguir em frente. Especialmente a Sony.
Ao contrário das duas últimas edições, a Microsoft veio para vencer. A Xbox One X esteve em grande destaque durante a conferência e foram revelados inúmeros jogos para as consolas Xbox e Windows 10, nomeadamente alguns exclusivos de peso. O evento pode não ter sido marcante, mas foi bem pensado e estruturado, escolhendo um formato mais seguro e direto para transmitir a sua mensagem: a marca está a transformar-se e desta vez traz jogos consigo.
Mas nem tudo foi positivo. A revelação da Xbox One X ocupou o início da conferência, seguida pela revelação dos jogos. A data de lançamento e o preço final, no entanto, só foram apresentados durante os últimos minutos e com uma leveza desconcertante. Phil Spencer regressou ao palco, disse o que tinha a dizer e foi-se embora. A revelação foi pensada e preparada para ser o maior momento da noite, mas não houve impacto ou força ou até destreza no seu diálogo. E como resultado, a notícia foi passiva.

Com a apresentação forte da Microsoft, ainda que suscetível à subjetividade dos gostos, os olhos ficaram centrados na Sony e na sua eventual resposta. Não existem dúvidas que a gigante japonesa dominou as duas últimas edições com exclusivos de peso e surpresas impensáveis, aliando-se à nostalgia dos jogadores para algumas das maiores revelações do evento. Esperava-se que a Sony continuasse esta aposta nas novidades e nas surpresas, mas tal não aconteceu. Para deceção de todos, a Sony deu-nos uma das apresentações mais comedidas que já vimos.
A apresentação foi composta por novos trailers para jogos anteriormente revelados, como Days Gone, Spider-Man e God of War, existindo ainda espaço para surpresas como Monster Hunter World e o remake de Shadow of the Colossus. Mas para além de novos títulos para a PlayStation VR, a Sony conteve-se. Mas terá sido cobardia ou apenas estratégia?
Estou-me a focar apenas na Sony porque considero que a Microsoft fez um bom trabalho. Apesar de sentir que existiu algum receio na estruturação do espetáculo, a companhia norte-americana cumpriu todas as promessas. No caso da Sony, este teria sido o momento ideal para responder e para afastar as comparações negativas entre a PS4 Pro e a Xbox One X, mas o tom foi totalmente inesperado. Senti que existiu uma jogada em xeque que deixou as duas companhias desconfortáveis e com poucas jogadas possíveis para realizar. Ficaram à espera de uma resposta, mas ela nunca foi dada.

Agora que passaram alguns dias, e que Shuhei Yoshida já confirmou o que se esperava, sinto que a Sony jogou demasiado pelo seguro e guardou a maioria dos seus trunfos para outro embate. É impossível confirmar se foi apenas por receio à revelação da Xbox One X, mas olhando para trás, é fácil perceber que a Sony tentou repetir a fórmula do ano passado, mas retirando eventuais surpresas da equação.
Os videojogos eram a única resposta possível, mas a Sony não avançou e jogou apenas pelo seguro. A Microsoft reequilibrou o balanço com novos exclusivos e uma nova consola, mas a Sony não respondeu diretamente. Agora que as coisas estão minimamente equilibradas (pelo menos por agora), a Guerra Fria estabelece-se.
A Xbox One X sairá em novembro, algo que promete afetar a época natalícia da Sony, juntamente com a crescente popularidade da Switch. A fraca prestação na E3 2017 pode ter sido uma tática para evitar esta perda no mercado e para calibrar forças com uma presença forte na Gamescom e na PlayStation Experience, que acontecerá em Dezembro. Ou terá sido excesso de confiança? Veremos até ao final do ano.

Com este clima de tensão, é fácil perceber que a E3 começa a perder parte do seu fascínio. Não digo isto apenas porque o evento foi menos surpreendente do que as edições anteriores, mas porque as revelações pré-evento retiram o impacto das notícias mais inesperadas. As fugas de informação podem condicionar o posicionamento das produtoras dentro da E3 e criar as conferências atípicas que temos assistido. Será que a Microsoft, a Sony e até a Nintendo, que agora já nem tem conferência, já não olham para a E3 com os mesmos olhos? Poderá ser essa a desculpa para as conferências desinteressantes deste ano?
Sinto que a Sony e a Microsoft foram obrigadas a entrar nesta Guerra Fria devido à pressão dos fãs e dos avanços tecnológicos. De um lado temos o poder do hardware como nunca foi visto nas consolas, e no outro temos a diversidade dos exclusivos e de parcerias estratégicas. Todos os campos estão cobertos e apesar de acharmos que fácil perceber quem sairá vencedor, a verdade é que o futuro é ainda muito cinzento, especialmente com esta aposta nas meias gerações. E com a Sony a guardar trunfos e a Microsoft a reconstruir a sua presença no mercado, continuaremos em Guerra Fria até ao final do ano. Qualquer jogada pode ser errada e, às vezes, o melhor que podemos fazer é não jogar.
Ou então podemos ser a Nintendo e revelar Metroid Prime 4, Samus Returns e apresentar novos trailers de Xenoblade Chronicles 2 e Super Mario Odyssey. Se calhar até é fácil ganhar a E3…
