“Em equipa vencedora, não se mexe”, diria qualquer treinador português após uma série de vitórias. Um mote que tenta demonstrar confiança numa equipa que aparenta ser coesa e mais eficaz do que qualquer outra combinação. É um bom motivador, sem dúvidas, mas terá sempre uma falha grave: o cansaço dos jogadores. E Bethesda, precisas de ver mais futebol português.
Com a primeira metade de 2017 para trás, sou levado a pensar que algo de muito errado se passa na indústria dos videojogos. É certo que tivemos excelentes lançamentos, mas a nostalgia continua a vender e a ganhar adeptos, e temos assistido à criação de jogos que tentam criar um ecossistema sustentável, onde os modos online são planeados com anos de antecedência e a experiência a solo é relegada para segundo plano. Olhem para GTA V e o seu modo online – porque raio irá a Rockstar preocupar-se com uma sequela quando o jogo continua a marcar presença nos TOP de vendas?

Apesar de não conseguir acompanhar o modelo da Rockstar, a Bethesda parece estar determinada em espremer Skyrim até à sua última gota. É difícil pensar que o jogo foi lançado em 2011 quando já assistimos ao lançamento de expansões, reinvenções, mods, edições especiais e agora uma versão portátil e a sua estreia na realidade virtual.
Durante a E3 2017, Skyrim marcou presença em duas conferências, algo que me surpreendeu pela negativa. Primeiro, relembrou o público que vai estar presente na Switch e que chegará ainda este ano, aproveitando para demonstrar como poderemos utilizar os Joy-Con para disparar flechas. E depois, quando menos esperava, surge na conferência da Sony com uma nova e (agora que penso bem) nada surpreendente versão para a realidade virtual. O jogo é de 2011, e no entanto, aqui está ele ao lado de God of War, Spider-Man e Days Gone.
Mas de onde vem esta popularidade? E será ela justificável? Skyrim continua a ser um dos títulos mais vendidos e jogados na indústria, e a Bethesda sabe-o muito bem. Estas constantes reinvenções continuam a captar a atenção dos jogadores e a comunidade de mods tem mantido os fãs agarrados ao jogo com novas versões. Para todos os efeitos, Skyrim é um ser-vivo em constante mutação, um produto capaz de agradar a qualquer tipo de jogador.
Mas fora do PC, a experiência é mais limitada. Os mods podem estar disponíveis nas consolas, mas não nos oferecem a variedade que vemos nos computadores. Por agora, parece ser impossível. Talvez seja por essa razão que é nas consolas que continua a ser reinventado. A Bethesda está determinada em mostrar que é possível adaptar Skyrim para a realidade virtual e que a versão portátil irá surpreender tudo e todos. E para não me repetir muito, quero referir que o jogo saiu em 2011.

As reinvenções que tanto tenho identificado são também limitadas, se pensarmos bem. A Special Edition deu-nos uma versão mais detalhada e um motor gráfico retrabalho, mas no fundo, levou-nos para o mesmo jogo de sempre. Ainda é cedo para falar na versão Switch, mas por agora podemos concluir que terá apenas suporte para amiibo. A campanha continuará a ser a mesma, só que desta vez estaremos vestidos como Link. E a versão VR é uma versão VR.
Skyrim continua a receber melhorias estéticas, mas a base é imutável. A campanha será sempre a mesma, as personagens nunca mudarão e nós iremos matar sempre os mesmos dragões e atirar flechas aos mesmos joelhos de sempre. E até que ponto pode a Bethesda continuar com isto?
Em 2011, o jogo era fantástico, muito completo e extenso, e deu-nos uma das campanhas mais recompensantes que já vimos no género. Mas em 2017, seis anos depois do seu lançamento, a história parece ser outra. Não querendo desvalorizar por completo a campanha, a verdade é que está desatualizada quando comparada a jogos como The Witcher III: Wild Hunt, onde o jogo narrativo é tão importante como a exploração. Skyrim mantém-se de pé, e louvo-o por isso, mas até que ponto não se trata já de um morto-vivo que é obrigado a continuar em frente?

Com os anos, os fãs da série parecem ter desenvolvido alguma raiva e indiferença perante o jogo, e muitos regressaram a títulos como Oblivion, Morrowind e até Daggerfall (que irá receber uma versão em Unity). E será que esse afastamento dos fãs se deve aos constantes relançamentos do jogo e à sua presença constante no meio? Com os anos, as memórias deram lugar às falhas e com os aspetos negativos vieram as análises menos favoráveis. E depois de seis anos, a Bethesda espera transmitir o mesmo entusiasmo. E porquê?
Porque os fãs querem The Elder Scrolls VI. E querem-no com todas as forças, mas a Bethesda sabe que esse não é o melhor passo estratégico, e é por isso que já confirmou que o jogo nem está a ser desenvolvido. Skyrim vai ser lançado mais duas vezes até ao final de 2017, algo que irá certamente irritar até os jogadores mais pacientes. Estamos a receber o mesmo jogo desde 2011 e, mesmo assim, continuamos a querer mais e mais. É certo que isso demonstra a qualidade do jogo, mas até que ponto não estamos a jogar apenas porque queremos mais The Elder Scrolls e a Bethesda não se digna a continuar a série?
E sabem que mais? Se calhar até é melhor assim. Skyrim continua a ser um bom jogo, Fallout 4 nem por isso. Será que queremos passar por essa desilusão outra vez? A Bethesda se calhar está a zelar por nós e a dar-nos o jogo que merecemos, algo que tem feito com toda a dedicação. Posso estar a exagerar, mas será que podemos confiar assim tanto na Bethesda?

A popularidade de Skyrim mantém-se bastante viva e a sua presença em eventos como a E3 2017 só demonstra como criámos o monstro que já não controlamos. Skyrim pode não ter GTA Online, mas compensa ao estar disponível em todas as plataformas existentes e em várias versões distintas. Só falta mesmo ser adaptado para o cinema para ocupar todas as áreas de entretenimento. Isso e lançar uma Mixtape.
A verdade é que Skyrim não mudou, mas nós e a indústria mudámos. O mundo é diferente daquele que viu a estreia do jogo da Bethesda, mas nós não queremos admiti-lo e parece que nos esquecemos de querer algo novo. Talvez para o ano, quando recebermos a versão mobile, consigamos pensar de outra forma. Até lá, não há The Elder Scrolls VI, mas sim Skyrim VII.