Elliot Quest jorra nostalgia. Seja na sua jogabilidade, direção de arte ou narrativa simples, o título da Ansimuz Games dá-nos uma aventura que consegue capturar a magia dos títulos 8 e 16 bits. As inspirações são claras e a jogabilidade assenta num enorme déjà-vu que nos acompanha do princípio ao fim, mas este é o jogo que os mais saudosistas não podem perder.
E digo isto porque Elliot Quest é um jogo bastante coeso, apesar de se assumir quase como um best of do género. Se já jogaram Metroid, The Legend of Zelda II: The Adventure of Link ou Castlevania, sabem o que esperar da jogabilidade deste jogo. A ação decorre em 2D, com o pixel-art e os sprites a dar-lhe um toque ainda mais nostálgico. A aventura leva-nos a explorar um mundo semi-aberto dividido por várias zonas que podem ser desbloqueadas à medida que encontramos novos poderes, como magias, e equipamentos especiais que nos permitem navegar os cenários com maior facilidade.
Elliot é capaz de correr, saltar, disparar o seu arco – numa pequena homenagem a Kid Iccarus – e utilizar habilidades especiais. A jogabilidade nunca deixa de ser familiar ao longo da sua campanha surpreendentemente longa. A dificuldade, que também pode ser considerada clássica, dá ao jogo de ação e plataformas um desafio que os veteranos irão apreciar.
Mas Elliot Quest não se fica apenas pelo classicismo e adiciona alguns elementos RPG às suas mecânicas. Ao contrário de clássicos como Metroid, onde a evolução da personagem está restrita às novas habilidades e às suas melhorias, o título da Ansimuz Games dá-nos um sistema de evolução por níveis que nos permite personalizar o herói à nossa maneira. Por cada novo nível, temos acesso a um ponto de experiência que podemos utilizar para melhorar o rácio de disparo do arco e a distância das suas flechas, aumentar a rapidez de Elliot e a eficácia dos itens de cura.
O jogo poderia funcionar perfeitamente sem esta mecânica, mas é satisfatório ver Elliot evoluir e aprender a utilizar mais eficazmente o seu arco. É uma mecânica que se pode tirar partido facilmente e que acaba por eliminar algum do foco na destreza que marca os melhores títulos do género, mas Elliot Quest tenta compensar a sua inclusão ao retirar pontos de experiência por cada morte sofrida. A maldição de Elliot não o permite morrer, mas pode dificultar o nosso caminho.

Os inimigos assumem várias formas e alguns necessitam de habilidades especiais, como o remoinho, para serem derrotados. Os seus padrões são, no entanto, fáceis de perceber e rapidamente vencemos qualquer desafio. No entanto, é um jogo que se foca quase excessivamente na tentativa e erro, o que poderá frustrar os menos experientes.
O mundo de Elliot Quest é muito mais extenso do que aparenta ser. Apesar de estar dividido por zonas, todas elas com os seus bosses e níveis que evocam os melhores do género, existem muitos segredos espalhados pelos mapa-mundo que podemos descobrir. É um jogo que pede para ser explorado e que nos alicia a terminar a campanha com todos os itens e melhorias para a personagem. E como seria de esperar, será necessário regressar constantemente aos vários níveis do jogo para desbravar novos caminhos, através das habilidades que vamos desbloqueando, em busca de tesouros secretos.
Apesar de apreciar a inclusão do mapa-mundo, muito semelhante ao que vimos em The Adventure of Link, não consigo perceber o porquê de sermos obrigados a revisitar todas as zonas se quisermos visitar os restantes níveis do mundo. Esta constante repetição é capaz de enfurecer até os jogadores mais pacientes, especialmente quando Elliot Quest nos dá pistas pouco claras sobre o próximo passo. Repetir constantemente os mesmos níveis só serve para expandir artificialmente a duração do jogo, especialmente quando esgotamos os segredos incluídos em cada um dos níveis.

Os cenários são muito coloridos e caem quase sempre nos clichés do género, focando-se em selvas, florestas, praias, cavernas e os tradicionais níveis de gelo, fogo e vento. O seu design, fortemente influenciado por Metroid – até na própria disposição do mapa -, traz-nos níveis fáceis de explorar com um desenho limpo e cores harmoniosas, quase sempre quentes e reconfortantes, algo que é sublinhado pela banda sonora.
A cor é um elemento forte em Elliot Quest e dá ao pixel-art uma maior vivacidade e animação. No entanto, o design de Elliot e dos inimigos deixou-nos a querer mais. Elliot parece ser um borrão de tinta branca e laranja quase disforme que destoa ao longo dos cenários bem construídos. É um dos piores designs que vi numa personagem principal e o pixel art só agravou o seu desenho. Já os inimigos são puramente desinteressante, expeto os bosses – que demonstram alguma criatividade, apesar de serem inspirados em sprites que vimos noutros jogos.

Elliot Quest é um jogo ideal para os jogadores saudosistas que procuram uma boa e desafiante aventura 2D. É impossível fugir às suas inspirações e a Ansimuz Games usa-as com todo o gosto e boa vontade. É um jogo que não tenta ser mais do que um título divertido, nostálgico e muito desafiante. A história tem também um foco que raramente vemos neste género, o que lhes dá pontos a favor. No entanto, queríamos ver mais do que elementos que já conhecemos. Queríamos ver uma evolução do género – e Elliot Quest não o é.
Mas é bom? É. E vale a pena o vosso tempo? Vale. É isso que importa.

O código para análise (PS4) foi cedido pela PlayEveryWare.