Podem fazer as contas todas, elaborar o mais que possam e averiguar todas as possibilidades existentes no universo, a conclusão será sempre a mesma: vocês já compraram um jogo pela razão mais parva do mundo. Isto é matemático. Aconteceu. Por isso, vamos colocar as vergonhas de parte e admitir de uma vez por todas que temos na nossa prateleira um jogo que comprámos por impulso. E vamos aproveitar este momento de introspeção para analisar todas as razões verdadeiramente estúpidas que nos podem levar a comprar algo.
NOTA: Este top é puramente autobiográfico. É assim a minha vida.
1 – NÚMERO DE CD
JOGO: Final Fantasy VII
Não vos sei dizer o ano específico, mas julgo que estava algures entre 1999 e 2000. Já contei esta história tantas vezes que sinto que fui acrescentando demasiados pontos e pormenores que nunca aconteceram. Mas foi mais ou menos isto: só comprei Final Fantasy VII porque tinha 3 CD. Um dos meus jogos favoritos só começou a fazer parte da minha vida porque tinha um número estranho de discos, algo que era absolutamente incompreensível para mim. Na minha mente, tinha acabado de comprar três vezes mais videojogos. Matemática!

Comprei-o por uma mera futilidade. Se não fossem os 3 CD, e se não fosse também pela minha curiosidade, teria comprado antes Ridge Racer Revolution. O arrependimento perduraria até hoje, não tenho quaisquer dúvidas. A partir daquele dia, o número de CD passou a ser sinónimo de qualidade. Mal sabia eu o delírio que os jogadores de PC sentiram com as disquetes antes de meados dos anos 90.

2 – UMA IMAGEM NUMA REVISTA
JOGOS: Star Ocean: The Second Story / Countdown Vampires
Antes da Internet e dos fóruns e das redes sociais e dos comentários maldosos nos sites e do jornalismo de terceira categoria, as revistas eram o único alento para os fãs de videojogos. As novidades vinham todos os meses estampadas em papel colorido, às vezes até atrasadas, não fosse a impressão um processo demorado, e com elas tínhamos acesso às primeiras imagens dos jogos mais aguardados. E numa dessas revistas vi um pequeno fotograma de um jogo chamado Countdown Vampires. E nesse exato momento disse para mim: “eu quero este jogo”.

E se o jogo tivesse saído na Europa, eu teria comprado. Nem pensava duas vezes. Não precisava de ler mais nada ou ver mais imagens, aquela bastou. Peguei tantas vezes naquela revista apenas para ver a antevisão em ponto pequeno que as páginas devem estar rasgadas. Uma imagem! E ainda por cima uma imagem tão pequena que mal dava para ver o que me esperava. Só sabia que tinha vampiros e que se tratava de um Survival Horror. Imaginam-se a fazer o mesmo?
3 – NÃO QUERER VOLTAR ATRÁS
JOGO: Shadow Hearts
Oiçam, esta é estranha, mas aconteceu-me. E aconteceu-me porque eu sou um bocado impaciente e preguiçoso, até na compra de videojogos. Quase todas as minhas histórias de más compras aconteceram durante ou depois dos meus anos, começando sempre com as prendas em formato de envelopes e terminando com a dolorosa busca pelo jogo perfeito. E quando iniciava este processo, era impossível parar. Era um predador à procura de sangue.

Agora sei o ano, estava em 2002. 9º ano completado e um futuro pela frente. Estava no auge da minha fase RPG e queria algo novo e diferente para a minha coleção. Só havia um problema: Final Fantasy X tinha saído há uns meses. Bom, existia um segundo problema: já o tinha jogado até meio com uma cópia emprestada. Sai de casa com o intuito de comprar As Aventuras Magníficas de Tidus e Amigos, mas deparei-me com uma inesperada dúvida: era capaz de voltar ao início e compensar o dinheiro que ia gastar ou ponderar seriamente na compra de um outro jogo? Podia ter saído da Worten e pensado melhor no meu próximo passo, mas não tinha tempo para isso. Com 15 anos, tempo é dinheiro e pornografia, e estava a perder os dois. Foi nesse exato momento em que me deparei com Shadow Hearts, um jogo que nunca tinha ouvido falar, mas que tinha duas coisas a seu favor: era um RPG e não era Final Fantrasy X.
Não sei quanto tempo passou, mas ainda hoje consigo ver o meu espectro nos corredores da Worten. Parte de mim ficou impressa naquela loja, algures entre o Parque das Nações e a Gare do Oriente. Hoje em dia, ainda existem relatos de funcionários que insistem que conseguem ouvir, depois do fecho da loja, a voz de um jovem que diz apenas “Shadow Hearts ou Final Fantasy X, Shadow Hearts ou Final Fantasy X…”. Assustador.

4 – DINHEIRO A MAIS NA CARTEIRA
JOGOS: Thief (PS3) / Battlefield 3
Comunistas, desviem o olhar. Esta vai doer a um nível ideológico. Não me orgulho disto e muito provavelmente vocês também não, mas aposto que é a situação mais comum desta lista. O cenário é simples e requer apenas que tenham dinheiro a mais na vossa carteira, dinheiro esse que vocês iam jurar que nunca lá esteve. Tiram a nota de €20 a pensar que é uma de €10 e entram num verdadeiro dilema filosófico: e agora?

Já estavam quase a chegar ao balcão, mas recuam. Existe uma força que se apodera do vosso corpo e que vos obriga a voltar atrás e a dar uma última olhadela à prateleira de jogos. Como seria de esperar, encontram mais um jogo a €10. Não querem, mas é mais forte do que vocês. Pensam: “eu pensava que já não tinha este dinheiro, logo não estou a gastar a mais. Estou a gastar o que não estava aqui, logo estou a poupar de uma certa forma.” Enquanto se tentam enganar com filosofias baratas e que nem compreendem muito bem, continuam a caminhar para o balcão e saem com dois novos jogos. Mais uma compra impulsiva. É por essa razão que ainda têm o F.E.A.R. 3 na prateleira. Tal como eu.
5 – O DIZ QUE DISSE
JOGOS: Metal Gear Solid / Silent Hill
Ainda antes das revistas, da internet e das redes sociais e dos fóruns com malta manhosa e muito antes do YouTube e dos comentários maldosos sobre o vosso cabelo, reinava um ambiente de total confiança nas ruas. A vossa opinião era respeitada e os vossos amigos faziam questão de a ouvir. Gostaram daquele jogo? Um dos vossos amigos terá isso em consideração quando for comprar aquele Metal Gear Solid que tanto elogiaram durante a hora de almoço. Assim foram os anos 90.

Nas ruas, o sistema era simples. Se a malta gostava de um jogo, a maioria comprava. Não havia “mas e se não for bom?”. Claro que era bom, o vosso amigo não ia mentir. E se queriam continuar a ter algum destaque na hierarquia das brincadeiras, era bom que comprassem o raio do jogo. Era um sistema de autoajuda muito interessante, pois dependia de todos os elementos do grupo para resolver puzzles e outros problemas sem o auxílio de revistas ou outros guias. E vocês queriam participar e ajudar os outros a chegar ao fim. Vocês não eram maus amigos, pois não?
Hoje em dia olho para trás e sinto um enorme calafrio. Meu deus, os meus amigos tinham gostos horríveis. Se este sistema continuasse, estava tramado. E agora estou a recordar-me que quase comprei o Power Rangers: The Movie para a Mega Drive, um jogo tão fácil que é quase humanamente impossível não acabar à primeira. Afinal retiro o que disse, os meus amigos que se lixem!

E para vocês, quais foram as razões mais estúpidas que vos levaram a comprar um jogo?

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