Vaccine | Glitch Review

A era dourada dos survival horrors acabou com a chegada da sexta geração. Para trás ficaram clássicos como Resident Evil 2, Silent Hill, Alone in the Dark e outros menos conhecidos como Dino Crisis, Deep Fear e até Countdown Vampires. Para muitos, a PlayStation foi a consola mais importante para o género e a incubadora para algumas das séries mais emblemáticas. E é por essa razão que agora, que a nostalgia parece ter vindo para ficar, nós voltamos atrás no tempo.

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Vaccine, da Rainy Night Creations, é um novo jogo de terror e sobrevivência que procura emular a jogabilidade e o estilo gráfico dos títulos 32 bits. De volta estão os movimentos lentos e rígidos, também conhecidos como tank controls, e os gráficos repletos de polígonos capazes de ferir os vossos olhos. Existe toda uma panóplia de homenagens a um género que parece ter ficado no passado e um certo classicismo que muitos (ainda) têm receio de recuperar.

À primeira vista, Vaccine funciona como qualquer outro jogo do género. Não é por acaso que a Rainy Night Creations foca a sua ação numa mansão repleta de mortos-vivos e outras monstruosidades: faz tudo parte da história. E neste efeito, Vaccine funciona e promete derreter o coração dos mais saudosistas. As mecânicas são semelhantes aos clássicos do género, desde o movimento já mencionado até às estruturas labirínticas da mansão e à narrativa envolta em mistério.

Mas Vaccine não se interessa apenas pela imitação e adicionou novos elementos ao género moribundo. Inspirado por títulos roguelike, que têm encontrado um público sólido nos últimos anos, o título da produtora espanhola aposta em níveis aleatórios sempre que iniciam uma nova campanha. Apesar de nunca ultrapassarmos a repetição pouco saudável de cenários, existe uma tensão palpável enquanto exploramos a mansão. Nunca sabemos o que iremos encontrar na próxima sala.

Quando começam Vaccine, a vossa missão é simples: encontrem a vacina e salvem o vosso parceiro. Têm apenas 30 minutos para explorar a mansão, encontrar as chaves e itens necessários para continuarem em frente, e desvendar o mistério em torno da vacina e das investigações científicas. A exploração é condicionada pela aleatoriedade dos cenários, com os itens mais importantes a mudarem de local sempre que perdem ou decidem recomeçar do zero.

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A esta mecânica junta-se o ganho e distribuição de pontos de experiência. No decorrer da campanha, vão enfrentar monstros e ganhar pontos que possibilitam a evolução de atributos que melhoram a pontaria, saúde e determinação da vossa personagem. A implementação de elementos RPG vai de encontro à dificuldade acérrima das primeiras tentativas, sendo necessário melhorar os atributos o mais depressa possível.

Como Vaccine funciona como um roguelike, preparem-se para perder a vossa progressão sempre que forem derrotados. Se não conseguirem encontrar a vacina a tempo ou não resistirem aos ataques dos mortos-vivos, irão regressar ao ponto de partida sem itens ou atributos evoluídos. Este constante recomeço poderá enfurecer alguns jogadores, mas a duração pré-definida e o tamanho da mansão complementam perfeitamente esta estrutura ao dar aos jogadores a possibilidade de voltarem rapidamente à ação.

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Apesar de continuar a emular a jogabilidade clássica do género, Vaccine peca ao dar-nos uma experiência demasiado fugaz. É certo que poderão repetir inúmeras vezes a campanha e melhorar os vossos atributos até ao máximo, com a dificuldade a acompanhar esta evolução, mas a falta de variedade nas divisões da mansão e nos inimigos criam um ciclo vicioso. Irão encontrar rapidamente mapas onde a mesma divisão se repete várias vezes, e por vezes até de seguida, e inimigos que não apresentam quaisquer alterações nos seus comportamentos.

Os gráficos de Vaccine, ainda que se assumam como uma homenagem, ficam aquém do esperado. Isto porque dificultam a exploração e recolha de itens ao dar-nos uma resolução demasiado baixa. É fácil não distinguir à primeira o que é um item de um objeto do cenário, o que poderá causar momentos de frustração e confusão. Neste caso, os cenários pré-renderizados poderiam ter ajudado e adicionado uma vertente gráfica mais competente.

Infelizmente, a direção de arte acompanha esta falta de cuidado visual e dá a Vaccine um tom de mediocridade que nunca consegue afastar. Cada sala parece ter saído diretamente de uma linha de montagem, sem personalidade ou elementos que as distingam. A decoração parece querer implementar clichés do género ao dar-nos o básico, um pacote de elementos pré-definidos que vimos inúmeras vezes em melhores jogos e com um resultado mais satisfatório. Apesar de adorar o estilo gráfico da era 32 bits, Vaccine podia ter sido muito mais que uma imitação barata.

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A repetição acaba por ser o grande problema de Vaccine. Não existe variedade suficiente para acompanhar o constante recomeço da campanha. Para além da redução do tempo de exploração e o aumento do número de inimigos por sala, e ainda da descoberta de novas informações sobre o passado da mansão, não vão encontrar mais alterações quando salvam o vosso parceiro e sobem de ranking. A jogabilidade, ainda que clássica, acaba por dificultar a exploração ao prender-nos constantemente aos cenários e a dificultar o combate contra os inimigos mais ágeis. A profundidade de campo também é agravada pela falta de cuidado na implementação de ângulos pré-definidos. Apesar de adicionarem alguma tensão à jogabilidade, conseguimos perceber que ainda existia muito trabalho pela frente.

Vaccine é uma experiência rápida, mas verdadeiramente viciante durante as primeiras horas. É um jogo com poucas ambições que dá dois passos em frente e um atrás na jogabilidade. Para ajudar, tem alguns problemas técnicos que podem levar ao fim prematuro da vossa campanha – uma vez ficámos presos num eterno ecrã preto entre níveis, o que nos obrigou a recomeçar do zero. É um jogo difícil de vender, mas como fã do género, não consigo evitar o seu charme e ver os seus pontos positivos. Ainda há muito para fazer, mas a Rainy Night Creations tem aqui as bases para uma futura – e melhor – sequela. Enquanto jogava, senti que um modo cooperativo (e opcional) poderia funcionar com a mansão aleatória, e que a implementação de uma maior variedade de inimigos e localizações poderiam transportar Vaccine para um novo patamar.

Por agora, é uma curiosidade para os fãs de terror. Mas quem sabe, talvez um dia dê origem a uma sequela verdadeiramente boa.

Nota 5
A escala utilizada é de 1 a 10

O código para análise (PS4) foi cedido pela Rainy Night Creations.

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