Odiar a série Call of Duty não é muito diferente que dizer mal do Trump. A Internet grita muito, mas na hora da verdade é aquilo que escolhe. Ora eu fiz parte desse grupo, mas dos que estão fartos do CoD, atenção.
Não sou grande fã de jogos multi-jogador competitivos, portanto esse nunca é o meu foco principal quando procuro um jogo e desde o Modern Warfare 2 que não sentia tanta pica a jogar um CoD.
Em defesa do diabo, eu curti imenso o Infinte Warfare.
Mesmo!
E acho que mais do que o Gears of War 4? Acho mesmo que sim.
A razão é simples e não é porque se centra agora no espaço (um pouco, mas já lá chegamos). Eu gostei do Infinite Warfare porque foi divertido e prendeu-me ao comando de tal maneira que o passei numa só sessão!
Esperavam o quê? A longevidade do DLC de um Witcher?
Se me perguntarem se o jogo é mesmo, mesmo bom terei que dizer que não, porque Infinite Warfare volta a cometer alguns erros do passado. Mas houve tanta coisa que me surpreendeu pela positiva que quase sou capaz de o recomendar.
Mesmo com a intenção de jogar a campanha, nunca entrei no jogo a espera de um plot. O CoDentra naquela categoria em que o que interessa é a ação, o ritmo e o prazer. Como um bom filme pornográfico! Sim! Call of Duty é a pornografia dos videojogos! Yay sex joke! E como um bom filme maroto, Infinite Warfare também tenta ter um plot. Não é material de autor nem tão complexo como o pintam, mas serve para sustentar os acontecimentos e o seguimento narrativo da coisa.
Do jogo, digo.
A sinopse do jogo quer ser algo como:
“Num futuro distante, mas assim não tão distante, a humanidade espalhou-se pelo sistema solar e os terroristas colonos atacam a terra com motivações! Fortes!”
Ou como é tudo explicado nos primeiros dois minutos de jogo capturados pelo Kotaku.
Sem querer dar muitos detalhes, isto acaba por ser tudo conversa fiada. No fim do jogo a coisa pode-se observar de outra maneira. Em algo semelhante a um Dia da Independência ou um Mars Attack(comédia de Tim Burton, muito boa, vão ver. Vão):
“Um dia os marcianos atacam os humanos. Porque sim. E agora temos que dar no rabo desses ETs.”
Tal e qual como a última linha de diálogo no último plano do Dia da Independência 2: A Nova Ameaça. O filme é horrível, por isso é na boa spoilar.
E em Infinite Warfare é isso que fazemos, seguimos um grupo de personagens – militares – que sobreviveram a esse ataque e que têm de combater a força inimiga com pouco recursos.
É aqui que o novo CoDanda um pouco atrás no tempo e começa a apresentar sinais de uma campanha sólida. O jogo decorre todo na perspetiva de uma única personagem em todas as missões, incluindo as “novas” missões secundárias que se sucedem de uma forma orgânica e linear, não existindo a passagem clássica de soldado genérico para soldado genérico que marcou a maioria dos títulos da série, É fácil de compreender o que aconteceu, o que está a acontecer e o que vamos ter que fazer. Há poucos loadings e quase nem damos conta dos tradicionais briefings.
Esta estrutura não só é benéfica para o jogo como cria interesse no jogador e dá espaço para algo que até sinto medo de gozarem comigo ao dizê-lo – há desenvolvimento de personagens e não é pouco. Ao longo do jogo vi personagens a conhecerem-se umas as outras e a demonstrarem sinais de amizade entre elas, a tomarem ações e a começarem num ponto e acabarem no outro. A certa altura, muito perto do fim, fui capaz de ver um conjunto de personagens maior do que me lembrava, onde sabia exatamente quem eram.
Mas neste elenco há uma personagem que se destaca e que adorei absolutamente. A Infinity Ward não foi para o espaço sem ter um robô companheiro. E fê-lo com estilo. Eu não sei se naquele estúdio alguém leu o guião original do Interstellarde 2008, mas juro que o Ethan é TARS original.
Dream casting para o remake da novela “Olhos de Água” aquela que tinha a música do Toy.
Continuando na onda de coisas melhoradas, a jogabilidade é o melhor downgrade que alguma sequela deu desde… não me recordo para ser sincero. A verdade é que é bastante mais simplista que os seus antecessores. Continuam a existir algumas mecânicas extra, mas não na extensão dos Black Ops ou do Advanced Warfare, que nos davam funcionalidades numa missão e na seguinte, porque era tudo scripted, tínhamos outras novas e completamente diferentes.
Os eventos scripted e as cenas cinemáticas também foram diminuídas o suficiente para o jogo parecer mais jogável, e as mecânicas basicamente só mudam quando passamos a jogar em gravidade zero, ou a pilotar as naves espaciais.
No entanto, Infinite Warfare assemelha-se aos filmes da Marvel no que toca ao problema com os vilões – com potencial na teoria, mas rascas na execução. Vão buscar um ator da moda, fazem scan à cara dele, dão-lhe uma folha para ler e tá feito.
“Lembram-se quando fiz de morto? Aqui foi parecido. lol.”
No fim do dia (literalmente), o que encontrei neste jogo foi uma quantidade de coisas positivas tão boas que tudo o que é mau ou mediano acaba por ser bastante secundário. E foi com muita surpresa que acabei um Call of Duty a sentir que queria mais.
Quem é que eu quero enganar? A Internet estava certa e isto fez-me lembrar o Mass Effect. Foi por isto.